06/11/2018

VISÃO DE MUNDO

Eliani Gracez

Segundo Protágoras, o que cada coisa significa para ti, assim ela é para ti, o que cada coisa parece para mim, assim ela é para mim, pois o homem é a medida de todas as coisas. Dos antigos gregos até os dias de hoje, com essa máxima, muitos filósofos deram origem ao seu pensamento. O olhar que paira sobre o mundo, é um olhar que parte do indivíduo e de suas subjetividades. Ao perceber os objetos, cada pessoa está formando uma representação deste objeto. Ver é representar. Cada imagem, cada informação nos traz não a coisa em si, mas sim uma representação que compõe nosso mundo pessoal, pois não vemos o mundo direto e sim através de representações. Com isso, o olhar que repousa sobre os objetos, sobre o outro e sobre nós, determina a visão de mundo de cada pessoa. Damos conteúdo ao nosso mundo pessoal a partir de representações que formamos das coisas. A representação que todas as pessoas têm dos objetos, contém informações sobre a construção do mundo que, nesse caso, é único e individual. Cada pessoa constrói seu próprio mundo ao formar representações mentais. Portanto, estudar as representações é, ao mesmo tempo, estudar a visão de mundo que cada uma dessas pessoas possui.
A representação é o ponto de partida para o conhecimento em Schopenhauer. Ela se forma no sujeito em contato com o objeto a ser conhecido, isso só é possível mediante o uso dos sentidos, da causalidade, do entendimento e do espaço/tempo. Essa é a forma mais simples que o sujeito tem de conhecimento. Trata-se de um trabalho que chega a seu fim quando o objeto é percebido nitidamente, esse é o momento que o objeto acaba de ser construído pelo sujeito, não lhe sendo mais algo estranho, mas sim conhecido. O entendimento reconhece as informações percebidas pelos sentidos como sendo um efeito. Com o auxílio do tempo ele procura uma causa para este fenômeno, ao encontrá-la localiza-a no espaço. O objeto assim está representando algo real para o sujeito.
Schopenhauer chamou de experiência direta à coleta de dados feita pelos sentidos, pois se trata de uma experiência mediante os cinco sentidos em contato com o objeto. A intuição intelectual acontece quando a partir dessa coleta de dados se conhece a causa do efeito, fazendo uso, desta forma, da categoria da causalidade. Assim a representação é fruto de uma intuição do mundo fenomênico através do entendimento do sujeito cognoscente.
O conhecimento representativo só é possível no tempo e no espaço, pois os sentidos somente captam formas daquilo que está lançado no tempo e no espaço. Isso significa dizer que as pessoas já nascem com a possibilidade ou com os sentidos apropriados para o conhecimento dos objetos. Uma estrutura de causa e efeito possibilitando o conhecimento. Nesse sentido, o conhecimento é causalidade visto que ele surge da relação do sujeito (causa do conhecimento) com o objeto a ser conhecido (efeito), dando origem ao conhecimento (causalidade). De um lado estão os objetos para serem conhecidos, do outro lado está o corpo de um sujeito com esquema apropriado  para o conhecimento. Quando o homem e seu esquema são debilitados, o conhecimento por sua vez também é. Se alguém fosse privado de seu entendimento, embora tivesse ainda os sentidos em perfeito funcionamento, as imagens recebidas seriam como manchas disformes.  Mas se essa pessoa recobrasse seu entendimento, logo começaria a conhecer o mundo e aprenderia a usar a razão e a entender o discurso, aprenderia a pensar e a formar representações abstratas.
A representação abstrata é representação da representação. Uma vez formada a representação intuitiva, quando a pessoa vê o objeto nitidamente, então a razão começa a pensar e a conceituar esse objeto. Esse conceito dá origem a uma nova representação. Para a razão a causalidade se apresenta na forma de reflexão, e é através dela que a razão formula conceitos sem levar em consideração a coisa-em-si, algumas vezes dá uma nova causa para o objeto, negando com isso a intuição. Schopenhauer não vê vantagens no uso da razão na formação de novas representações ou representações abstratas, visto que elas conduzem ao erro por unir conceitos sem levar em consideração a intuição. No momento da intuição não há erro, por isso somente a representação intuitiva, para Schopenhauer, contém a verdade.
Representar é um ato de ver com a totalidade do ser. Representar é conhecer. Sem representação não existe conhecimento, assim como não existe representação sem sensibilidade e sem entendimento. A representação sem entendimento é uma figura vazia, algo sem serventia. Por isso o ser humano não é uma cabeça alada, mas sim cabeça e corpo, portador de sentidos externos e internos e dotado de intuição intelectiva. 







 

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