Eliani Gracez
Segundo
Protágoras, o que cada coisa significa para ti, assim ela é para ti, o que cada
coisa parece para mim, assim ela é para mim, pois o homem é a medida de todas
as coisas. Dos antigos gregos até os dias de hoje, com essa máxima, muitos
filósofos deram origem ao seu pensamento. O olhar que paira sobre o mundo, é um
olhar que parte do indivíduo e de suas subjetividades. Ao perceber os objetos,
cada pessoa está formando uma representação deste objeto. Ver é representar.
Cada imagem, cada informação nos traz não a coisa em si, mas sim uma
representação que compõe nosso mundo pessoal, pois não vemos o mundo direto e
sim através de representações. Com isso, o olhar que repousa sobre os objetos,
sobre o outro e sobre nós, determina a visão de mundo de cada pessoa.
Damos conteúdo ao nosso mundo pessoal a partir de representações que formamos
das coisas. A representação que todas as pessoas têm dos objetos, contém
informações sobre a construção do mundo que, nesse caso, é único e individual.
Cada pessoa constrói seu próprio mundo ao formar representações mentais.
Portanto, estudar as representações é, ao mesmo tempo, estudar a visão de mundo
que cada uma dessas pessoas possui.
A
representação é o ponto de partida para o conhecimento em Schopenhauer. Ela
se forma no sujeito em contato com o objeto a ser conhecido, isso só é possível
mediante o uso dos sentidos, da causalidade, do entendimento e do espaço/tempo.
Essa é a forma mais simples que o sujeito tem de conhecimento. Trata-se de um
trabalho que chega a seu fim quando o objeto é percebido nitidamente, esse é o
momento que o objeto acaba de ser construído pelo sujeito, não lhe sendo mais
algo estranho, mas sim conhecido. O entendimento reconhece as informações percebidas
pelos sentidos como sendo um efeito. Com o auxílio do tempo ele procura uma
causa para este fenômeno, ao encontrá-la localiza-a no espaço. O objeto assim
está representando algo real para o sujeito.
Schopenhauer
chamou de experiência direta à coleta de dados feita pelos sentidos, pois se trata
de uma experiência mediante os cinco sentidos em contato com o objeto. A
intuição intelectual acontece quando a partir dessa coleta de dados se conhece
a causa do efeito, fazendo uso, desta forma, da categoria da causalidade. Assim
a representação é fruto de uma intuição do mundo fenomênico através do
entendimento do sujeito cognoscente.
O
conhecimento representativo só é possível no tempo e no espaço, pois os
sentidos somente captam formas daquilo que está lançado no tempo e no espaço.
Isso significa dizer que as pessoas já nascem com a possibilidade ou com os
sentidos apropriados para o conhecimento dos objetos. Uma estrutura de causa e
efeito possibilitando o conhecimento. Nesse sentido, o conhecimento é causalidade
visto que ele surge da relação do sujeito (causa do conhecimento) com o objeto
a ser conhecido (efeito), dando origem ao conhecimento (causalidade). De um
lado estão os objetos para serem conhecidos, do outro lado está o corpo de um
sujeito com esquema apropriado para o
conhecimento. Quando o homem e seu esquema são debilitados, o conhecimento por
sua vez também é. Se alguém fosse privado de seu entendimento, embora tivesse
ainda os sentidos em perfeito funcionamento, as imagens recebidas seriam como
manchas disformes. Mas se essa pessoa
recobrasse seu entendimento, logo começaria a conhecer o mundo e aprenderia a
usar a razão e a entender o discurso, aprenderia a pensar e a formar
representações abstratas.
A
representação abstrata é representação da representação. Uma vez formada a
representação intuitiva, quando a pessoa vê o objeto nitidamente, então a razão
começa a pensar e a conceituar esse objeto. Esse conceito dá origem a uma nova
representação. Para a razão a causalidade se apresenta na forma de reflexão, e
é através dela que a razão formula conceitos sem levar em consideração a
coisa-em-si, algumas vezes dá uma nova causa para o objeto, negando com isso a
intuição. Schopenhauer não vê vantagens no uso da razão na formação de novas
representações ou representações abstratas, visto que elas conduzem ao erro por
unir conceitos sem levar em consideração a intuição. No momento da intuição não
há erro, por isso somente a representação intuitiva, para Schopenhauer, contém
a verdade.
Representar
é um ato de ver com a totalidade do ser. Representar é conhecer. Sem
representação não existe conhecimento, assim como não existe representação sem
sensibilidade e sem entendimento. A representação sem entendimento é uma figura
vazia, algo sem serventia. Por isso o ser humano não é uma cabeça alada, mas
sim cabeça e corpo, portador de sentidos externos e internos e dotado de
intuição intelectiva.
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