04/11/2018

O ANIMAL RACIONAL

Eliani Gracez

O ser humano busca em medicamentos a cura para a tristeza, para o vazio existencial, o tédio e a falta de sentido para sua existência. E com isso toma medicamentos para o medo, angústia, solidão, insônia etc. Longe de contestar a utilidade dos fármacos e de sua importância em casos específicos, no entanto, por exemplo, eles não trazem a cura para a infelicidade ou para o desamparo humano. O fato de sermos civilizados não quer dizer que tenhamos desenvolvido afetos ou amorosidade suficiente que garantam à felicidade ou uma boa qualidade de vida emocional. Talvez, estejamos nos inspirando, mesmo que de forma inconsciente, na civilização criada por Aldous Huxley, em seu livro Admirável mundo novo, onde os governantes criaram o Soma, a pílula da felicidade. Basta uma pílula por dia e a felicidade é tanta que ninguém contesta o sistema. Quanto mais civilizado mais adestrado é o homem, e quanto menos civilizado mais se assemelha ele ao animal. Não  alcançamos o equilíbrio entre o animal e a socialização. E assim, a única solução encontrada por animais intelectuais para viverem juntos foi a civilização ditatorial, imposta a qualquer preço. Um conjunto de leis, regras, moral, etiqueta que doutrinaram e castraram o animal, esquecendo-se totalmente que esse animal intelectual também possui coração, sente dor e sofre. Quanto mais civilizados mais adestrados são os seres humanos, porque aprendem rapidamente a ocultar seu verdadeiro Eu. Tudo isso porque se esconder na noite é bem mais fácil do que andar erguido durante o dia. Em meio a isso, cada pessoa reivindica a sua singularidade, recusando-se a rótulos universais. E assim, falsamente, pensamos o individualismo como sendo o caminho para a liberdade, e, aliados ao adestramento, julgamos ter felicidade. No mundo da aparência e da opinião, até a libido é potencializada artificialmente, e com isso aumenta o consumo de remédios antidepressivos, drogas e bebida alcoólicas que dão, junto ao individualismo, a sensação de liberdade e consequente felicidade, não tendo com isso a "humana criatura" uma identidade oriunda da sua consciência, e do seu verdadeiro Eu. Nem se quer percebe que muitas vezes está sendo conduzido pelo inconsciente coletivo. Nem mesmo nos damos de conta que o remédio receitado para uma pessoa é o mesmo receitado para muitos e na mesma medida. E isso nos enquadra em um grupo de pessoas que possuem os mesmos sintomas. A contradição é que quanto mais nos tornamos individualistas, mais aumentam os grupos sociais como forma de afirmação e necessidade de ser aceito socialmente. Perdemo-nos em um labirinto entre o individualismo e a procura por aceitação social, mesmo que esta aceitação seja superficial e movida pela aparência. Eis o ser humano, um dualista que transita entre o egoísmo, fruto de seu individualismo, e a necessidade de aceitação em um grupo social. Esse dualismo dá origem a angústia e a algumas neuroses que, por falta de conhecimento de si mesmo e de sua dualidade, o homem procura o mais fácil, o Soma! Somos racionais sim, mas será que esta racionalidade é sinal de inteligência? Ou será que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa e estamos confundindo as coisas?

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