O ser
humano busca em medicamentos a cura para a tristeza, para o vazio existencial,
o tédio e a falta de sentido para sua existência. E com isso toma medicamentos
para o medo, angústia, solidão, insônia etc. Longe de contestar a utilidade dos
fármacos e de sua importância em casos específicos, no entanto, por exemplo,
eles não trazem a cura para a infelicidade ou para o desamparo humano. O fato
de sermos civilizados não quer dizer que tenhamos desenvolvido afetos ou
amorosidade suficiente que garantam à felicidade ou uma boa qualidade de vida
emocional. Talvez, estejamos nos inspirando, mesmo que de forma inconsciente,
na civilização criada por Aldous Huxley, em seu livro Admirável mundo novo,
onde os governantes criaram o Soma, a pílula da felicidade. Basta uma pílula por
dia e a felicidade é tanta que ninguém contesta o sistema. Quanto mais
civilizado mais adestrado é o homem, e quanto menos civilizado mais se
assemelha ele ao animal. Não alcançamos o equilíbrio entre o animal e a socialização. E assim, a única solução encontrada por animais
intelectuais para viverem juntos foi a civilização ditatorial, imposta a qualquer preço. Um conjunto de leis,
regras, moral, etiqueta que doutrinaram e castraram o animal, esquecendo-se totalmente
que esse animal intelectual também possui coração, sente dor e sofre. Quanto mais
civilizados mais adestrados são os seres humanos, porque aprendem rapidamente a ocultar seu
verdadeiro Eu. Tudo isso porque se esconder na noite é bem mais fácil do que
andar erguido durante o dia. Em meio a isso, cada pessoa reivindica a sua
singularidade, recusando-se a rótulos universais. E assim, falsamente, pensamos
o individualismo como sendo o caminho para a liberdade, e, aliados ao
adestramento, julgamos ter felicidade. No mundo da aparência e da opinião, até a libido é potencializada artificialmente, e com isso aumenta o consumo de remédios
antidepressivos, drogas e bebida alcoólicas que dão, junto ao individualismo, a
sensação de liberdade e consequente felicidade, não tendo com isso a "humana criatura" uma identidade
oriunda da sua consciência, e do seu verdadeiro Eu. Nem se quer percebe que
muitas vezes está sendo conduzido pelo inconsciente coletivo. Nem mesmo nos damos de conta que o remédio
receitado para uma pessoa é o mesmo receitado para muitos e na mesma medida. E
isso nos enquadra em um grupo de pessoas que possuem os mesmos sintomas. A
contradição é que quanto mais nos tornamos individualistas, mais aumentam os
grupos sociais como forma de afirmação e necessidade de ser aceito socialmente.
Perdemo-nos em um labirinto entre o individualismo e a procura por aceitação
social, mesmo que esta aceitação seja superficial e movida pela aparência. Eis
o ser humano, um dualista que transita entre o egoísmo, fruto de seu
individualismo, e a necessidade de aceitação em um grupo social. Esse dualismo
dá origem a angústia e a algumas neuroses que, por falta de conhecimento de si
mesmo e de sua dualidade, o homem procura o mais fácil, o Soma! Somos racionais
sim, mas será que esta racionalidade é sinal de inteligência? Ou será que uma
coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa e estamos confundindo as coisas?
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