06/11/2018

AS REPRESENTAÇÕES

Eliani Gracez


         Cada pessoa forma sua visão de mundo a partir de suas representações, essas representações acontecem no tempo e no espaço. Tanto para Schopenhauer quanto para Kant, a intuição envolve espaço e tempo. A intuição faz parte da experiência em perfeita harmonia com suas leis, o sentido externo é próprio ao espírito do homem, e assim os objetos que são representados estão lançados no espaço. Existe, nesse sentido, uma relação do interno com o externo através do tempo e do espaço. Esta relação são modos e funções do sujeito, formas puras da intuição e princípio do conhecimento. O espaço tem sua representação não a partir do fenômeno, mas sim mediante existência a priori sendo ele forma da intuição e não coisa em si. Schopenhauer considera tempo e espaço como algo intuído vazio de conteúdo, uma representação que existe por si mesma. O espaço é efetivação da matéria onde se manifesta a relação entre os corpos, onde o fazer efeito é sua essência. A matéria é efetividade ou causalidade e essa efetivação no espaço está no cérebro. É assim que todos os fenômenos podem existir no espaço infinito. O tempo é uma sucessão de aniquilamento do momento anterior, a morte do que passou para se depositar o presente, por sua vez, o presente também morre para que novamente algo seja depositado em seu lugar, uma sucessão de colocar, aniquilar e colocar de novo; e o presente é um intermediário entre o passado e o futuro, mas tudo será igualmente aniquilado na sucessão do tempo, até mesmo o futuro.
         O O presente impõe o fim do momento anterior. Nesse sentido, pode se dizer que o presente extermina aquilo que já foi presente um dia, até mesmo o futuro deixará de ser, não existindo mais a eternidade, e sim o limite e o fim. No tempo são depositadas as representações que serão substituídas por outras representações, desta forma o tempo determina a finitude da representação, pois o que agora é, em instantes deixará de ser. O tempo é sucessão. Schopenhauer quer demonstrar a nulidade de tudo o que acontece no espaço e no tempo, até mesmo as representações são finitas, pois é possível substituí-las por novas representações. Com isso ele demonstra a instabilidade de todo conhecimento representativo, inclusive o conhecimento científico.
Pensando assim, Schopenhauer, através da sucessão, deu ao tempo caráter de infinitude. tempo é um eterno deixar de ser e, portanto, nulo, algo imaginário. Uma forma de apreensão do sujeito para a medida dos movimentos. Até mesmo as representações são finitas no tempo, dando assim instabilidade ao conhecimento, pois é possível substituí-las por novas representações. Também os conceitos são representações abstratas finitas no tempo e no espaço. Para ser mais exato, causa e motivo estão intimamente relacionados às representações no tempo, possuindo existência relativa um para o outro, o mesmo acontece com sujeito e objeto que tem sua existência um para o outro, pois um é a causa do outro. Um fluir incessante, um devir no mundo da possibilidade, onde cada ser representa seu próprio mundo a partir de conceitos instáveis.
Mas tempo e espaço não estão separados, não sobrevive cada um por si, na união de ambos reside sua essência: no fazer-efeito ou na causalidade. Todos os fenômenos no tempo e no espaço adquirem, com isso, caráter inumerável, e sem limite. ― Inumeráveis finitos compondo o infinito. Esta é a essência da matéria, fazer-efeito. Uma relação de causa e motivo que Schopenhauer também chama de causalidade e que está relacionada ao princípio de razão suficiente do devir. Existe, para a matéria, uma relação necessária entre espaço e tempo, por isso eles são a essência da matéria, não podendo existir por si, mas sim um para o outro.
Tudo isso deve ser estudado à luz do entendimento que nada mais é do que a capacidade de ordenar, unificar e fazer síntese para conhecer a causalidade, estabelecendo assim novas relações de causa e efeito. Se toda matéria, ou fenômeno, está no tempo e no espaço, e da relação necessária entre eles surge à causalidade que deve ser estudada pelo entendimento, então toda matéria deve ser estudada também pelo entendimento. Pois da relação da matéria com o espaço/tempo surge à causalidade que é estudada a luz do entendimento. Schopenhauer diferencia razão e entendimento, o princípio de razão está sujeito a sucessão que o tempo impõe, tendo por única função elaborar conceitos e representações abstratas, por esse motivo não pode fornecer um conhecimento absoluto, mas sim relativo a causa e ao efeito. A função do entendimento é o conhecimento imediato pela relação de causa e efeito.

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