29/12/2015

A MULHER SUPERIOR

Eliani Gracez Nedel
Uma adaptação do pensamento de Nietzsche para o feminino.

Nietzsche anunciou o homem superior, pois eu vos anuncio a mulher superior. Anunciei então às mulheres a chegada da mulher superior, como falei em praça pública, eu falei a todas e não falava a nenhuma. E a noite eu tinha por companhia cadáveres, eu própria era quase um cadáver quando me ocorreu um pensamento. Mulher superior aprendei isso comigo: a mulher superior superou a mulher, aquela recatada e obediente criatura do passado, já não somos mais assim, superamos a nós mesmas, superamos a mulher. Para Nietzsche o homem superior é aquele que supera o próprio homem, é aquele que supera a si mesmo. Compreendeis estas palavras, minhas irmãs, mulheres superiores! Só agora dará a luz a montanha do futuro humano. Agora vive a mulher superior. O que eu posso amar na mulher é que ela é uma transição e um fim, mas há muito mais para amar em vós! Aquelas que no passado foram tão somente mulher, hoje ainda pregam resignação, modéstia, prudência e virtudes pacatas. Uma plebe que se assenhorou ao destino humano. Ó minhas irmãs! Subjugai-me essas senhoras, pois elas são o maior perigo para a mulher superior. Mulher! Dominai as falsas virtudes e as considerações com o que não tem a menor importância. Lutai pelo que é verdadeiramente importante à vós. Preferi desesperar a ter que render-vos. Mulher superior aprendei isso comigo: tende valor minha irmã, tende muito valor! Eu falo de valor de águia. As almas frias, os fracos, os covardes não têm o que eu chamo de coração. Coração tem aquela que domina o medo e olha para o abismo com olhos de águia. Essa sim é valorosa. Mulher superior aprendei comigo, pois eu estou aqui para fazer bem feito o que o homem fez mal feito! O destino da mulher foi muito rigoroso, e, por isso, se vós sobrevivestes ao rigor, és o que há de melhor. E assim cresce a mulher a altura do raio. A vossa inteligência e o vosso anelo tendem ao alto, não vos importais com a fraqueza e a mesquinharia. Quem já sofreu o que vós sofrestes, tende para aquilo que está nas alturas, pois a vossa sabedoria acumula-se há muito tempo. Assim se formou a vossa sabedoria, há muito tempo, sobrevivendo à tortura e ao sofrimento, paristes filhos banhados com o vosso sangue. Aos mais fracos quero cegá-los com um raio de sabedoria. Pois é isso o que és: um raio de sabedoria. Os plebeus mentem e enganam, são corruptos. Não sabem o que é pequeno e por isso não sabem o que é grande ou honrado. Para mim, mulheres, nada é mais grandioso do que honestidade, me agrada falar a verdade, olho no olho. Mas isso não pertence à plebe. Mulheres superiores subistes com as vossas pernas, porque se dependesse das pernas de outro...estaríeis perdidas. Não vos deixei levar pelo outro ao alto, subais com as vossas pernas. Montaste o cavalo, pois então galopas em bom passo até o fim! Mulheres superiores é preciso cerrar os ouvidos diante daqueles que nada fazem por vós. Suas verdades são pequenas e falsas. Por isso não deixeis induzir por falsos valores. Valorizai a vossa obra! E assim, mulher superior, se desejais ser a primeira, livrai-vos de serdes a última. E lembrai-vos, a clausura e o convento não são garantias de santidade. Eu, por minha vez, não acredito nisso! Terá havido na terra algo mais impuro do que uma falsa santinha? Coragem, isso é o que importa! Mulher superior, o mundo vos espera! Sejais ligeiramente ágeis, divinamente leve. Elevai-vos cada vez mais os vossos corações, e que a Deusa vos livres dos fracos. Pois para a força é que fostes criadas. Afinal, sobrevivestes a tudo e a todos! Lembrai sempre disso! Resististes à tempestade e a escuridão da noite.


14/11/2015

A RODA DA VIDA

Eliani Gracez Nedel
Na escala evolutiva deste planeta, primeiro vieram os animais e depois o humanoide. Etapas teriam que ser vencidas na caminhada até que nos transformássemos em seres humanos. O animal então se transformou em humanoide, e, em uma próxima fase, se transformou em animal pensante dotado de inteligência. Até aqui tudo bem! Mas, de posse da racionalidade, o animal pensante, ao olhar em sua volta, se percebeu superior na cadeia evolutiva. Foi aí que o problema começou. E daí em diante a soberba tomou conta, não sabendo a inteligente criatura que soberba seria sua pedra de tropeço na escala evolutiva. Sentindo-se superior, a criatura inteligente, se apossou da verdade, pensando assim que a sua verdade seria uma verdade absoluta, esquecendo-se de que aquilo que é verdade para uma pessoa pode não ser verdade para o outro. Afinal, o que serve para um pode não servir para o outro. E por isso não conseguiu passar para a próxima fase, não se tornou um Ser humano, porque o humano pede pelas coisas do coração do tipo amai-vos uns aos outros. Pelo contrário, o animal racional riu disso porque só enxergou um caminho para a sobrevivência, apagar a chama do coração. Uma criatura fraca e com medo de viver sem suas certezas e verdades, sobreviveu neste planeta. Já dizia Nietzsche que a moral vencedora é a moral dos fracos. E, para piorar a situação, o que o intelecto não compreende ele destrói ou finge que não existe. Nem tudo carece de explicação, muitas coisas pedem simplesmente pela aceitação. Somos seres pensantes sim, e o intelecto faz parte do humano, mas não podemos pensar que isso seja o máximo da criação. O próximo passo na escala evolutiva não foi dado. A "inteligente" criatura tem que encontrar o caminho para o coração. No esoterismo prático esse é o caminho direto, no taoismo, esse é o caminho. TAO é o caminho, mas que caminho é esse? TAO é o caminho para o coração. Para muitos, o caminho é secreto, pois não conseguem nem mesmo pressenti-lo. A humanidade nem mesmo começou a ser formada, não passamos na prova. Passos que precisavam terem sidos dados em direção a natureza humana, não foram dados. Nossa natureza é dual, somos seres intelectuais e seres de amor. E a Roda gira...quem sabe na “próxima” tenhamos um coração mais forte, um coração valente e consigamos dar o próximo passo com a tranquilidade de quem sabe não só pensar mas também amar. Afinal, o que seria de nós se não fosse o amor?


31/10/2015

O SILÊNCIO DOS INOSCENTES

Eliani Gracez Nedel

Adoro a conversa, o diálogo, a troca de ideias, o olho no olho. A expressão livre pela palavra seja ela falada ou escrita, mas, por incrível que pareça, a liberdade de expressão é mais recente do que se supõe. Tem poucas décadas que calar uma pessoa, fazê-la silenciar, era o sonho de muitos opressores. Na educação crianças silenciavam somente com o olhar dos pais, e mulheres baixavam a cabeça e silenciavam como demonstração de uma educação recatada. E assim se formou uma geração de pessoas que não sabiam dizer "não", não sabiam dizer "basta". Mas não vamos nos iludir, resquícios deste tipo de opressor, ou talvez fosse melhor dizer predador, ainda andam por aí. A necessidade de domínio ainda está entranhada em muitas pessoas, que para se sentirem vivas precisam dominar o outro. Sobretudo quando aquilo que o outro diz o afeta profundamente. E assim surge uma sociedade com pessoas com dificuldade de assumir o que pensam. Dizer sim quando gostaria de dizer não, pode ser um mecanismo de defesa que esconde, por exemplo, uma insegurança ou auto estima baixa. Engolir tudo sem pôr limites as demandas externas, pode causar sérios danos ao psiquismo e ao corpo físico quando por questão emocional um órgão de seu corpo é afetado. Algumas pessoas têm mais dificuldades do que outras para dizer não. Assim como têm pessoas com dificuldades de aceitar um não porque não suportam a rejeição. Trata-se, nesse caso, de pessoas desamparadas na infância, que se sentiram rejeitadas. Receber um não remete elas ao desamparo e ao desafeto. Estas duas características podem ter origens bem diferentes. Não aceitar um não pode remeter ao desafeto ou a um narcisismo primário, onde a criança vê nos pais seus escravos e cresce pensando que todos estão ali para servi-lo. Até o dia que alguém lhe diz “não”. Já a pessoa que não consegue dizer não pode formar uma personalidade prestativa para ocultar sua incapacidade em dizer não, oculta-se nesse caso uma pessoa, muitas vezes, sem autoestima nenhuma.
"Andar por terras distantes e conversar com diversas pessoas torna os homens ponderados." (Miguel de Cervantes)


24/10/2015

RESISTÊNCIA


Eliani Gracez

Tememos o poder e por isso nos sabotamos. Estamos tão acostumados a uma vida medíocre que não sabemos viver de outra forma e não sabemos o que fazer com o poder que cada pessoa tem e por isso nos sabotamos e desenvolvemos resistência ao nosso crescimento. Confundimos humildade com ausência de poder. Nietzsche já alertava que a moral do fraco é a moral vencedora nesse planeta. Como existe uma moral enraizada em nós que diz que temos que ser humildes, consideramos nossa potência um erro. Poder é potência, mas onde está o nosso potencial? Na potência reside nossa sabedoria. O fenômeno da resistência tem sido observado desde os primórdios da psicanálise e continua sendo considerado a pedra angular na prática analítica. Motivo pelo qual, a resistência ainda continua sendo estudada em seus mais variados prismas. A concepção de resistência surgiu quando Freud começou a trabalhar com as lembranças “esquecidas” de suas pacientes histéricas, até então a resistência era vista como um obstáculo à análise. Em A Interpretação dos sonhos, os conceitos de resistência e censura estão relacionados, e tudo o que interrompe o progresso da análise é resistência. Aos poucos Freud entendeu que a resistência não estava somente naquilo que estava sendo reprimido em sonhos, mas também nos impulsos de origem sexual. E assim o conceito de resistência, aos poucos, foi ampliado para resistências em Inibição e em angústia. A resistência pode ser consciente ou inconsciente, segundo Zimerman, Manual de técnica psicanalista, página 97, ela sempre provém do ego, ainda que tenha outras influências da psique. A resistência pode se expressar pelas emoções, atitudes, ideias, impulsos, fantasias, linguagem, somatizações ou ações. Nesse sentido todo aspecto da vida mental pode estar relacionado a resistência. Por este motivo as resistências podem ser complexas e se apresentar de variadas maneiras tais como: faltas, atrasos, intelectualizações, exagero de silêncio, sonolência, entre outros. Pode-se também relacionar a resistência à patologia que lhe deram origem. Teríamos, nesse caso, resistência do tipo Narcísica, esquizoparanóide, maníaca, fóbicas, obsessivas etc. Também é útil considerar resistências relacionadas ao desenvolvimento emocional primitivo, entre estas o narcisismo é, particularmente, importante por se constituir no cerne da formação da personalidade e da identidade na mais tenra idade. Mãe e bebê reproduzem uma simbiose original, uma situação psíquica onde persiste um forte grau de fusão, uma não diferenciação um do outro. Quando o bebê sai da fase simbiótica, ele inicia a fase de separação e diferenciação do eu com relação ao outro. Uma diferenciação entre o bebê e sua mãe. Desta forma se dá o nascimento psicológico da criança. Enquanto a criança permanecer nesse estado simbiótico com sua mãe ele não diferenciará o eu do não eu. Neste caso a criança desenvolve uma crença ilusória e onipotente de que possui independência absoluta. Na fase simbiótica o bebê acredita que os atos de sua mãe são os seus atos, e que cada obra de sua mãe é fruto do seu desejo. E assim se forma no bebê a ilusão de que todos estão ali para ele e somente para ele. Uma ilusão se forma onde o bebê é a majestade e os outros seus súditos. Essa onipotência, em muitos casos, permanece até a fase adulta, onde as pessoas que rodeiam a pessoa onipotente estão ali para servi-la. E assim se dá o relacionamento com o mundo exterior. A não aceitação da diferenciação leva a um estado de resistência em aceitar a singularidade entre as pessoas, e a um estado de incompletude. Freud aprofundou com o tempo o estudo sobre as resistências, sobretudo a resistência e sua associação com o ego. O ego é o responsável pelo contato do psiquismo com o mundo real exterior ao indivíduo. Ele atua de acordo com o mundo exterior da pessoa, estabelecendo uma ligação entre as demandas do inconsciente e o superego. Estão no ego as percepções, sentimentos, memória e os pensamentos. Por outro lado, o Superego está relacionado as normas e valores imposto pela família, religião, moral social etc. O superego se forma durante a fase fálica, onde a criança começa a internalizar os valores e as normas sociais. O superego nos diz o que é certo e o que é errado, o que é proibido e o que é permitido. E assim os impulsos do inconsciente começam a ser inibidos. Impulsos são liberados do inconsciente e a pessoa sente, por exemplo, uma determinada vontade, mas o superego julgar aquela vontade imoral e por isso reprime. Formando assim resistências e sabotagens.





NEUROSE

Eliani Gracez

Freud sistematizou a teoria da técnica analítica que permite compreender os neuróticos e suas neuroses como um fenômeno clínico passível de tratamento. Freud debruçou-se sobre o conceito de neurose por longos anos de sua vida, o adoecer e a reorganização da psique tornaram-se assim uma possibilidade terapêutica que encoraja o neurótico a superar seus conflitos, entre a pulsão e a saúde psíquica, ao trazer a luz os impulsos inconscientes reprimidos ou recalcados. 
O adoecer do neurótico está vinculado a uma situação patológica de frustração das pulsões e repressão da libido, sendo assim, o adoecer é consequência e não a causa de um transtorno patológico. Causas prováveis de neurose são, em geral, disposições hereditárias, experiências da primeira infância, frustrações, infortúnios da vida tais como falta de amor, pobreza, desestrutura familiar, rigidez ética imposta pela sociedade, entre outros. A repressão e mecanismos coercitivos da sociedade são fomentadores de conflitos, por exemplo, a libido versus ideal acético. E assim se instala uma luta entre dois impulsos gerando a doença ou neurose. Não vamos aqui confundir a luta entre duas polaridades que acontece na hora em que o indivíduo tem que fazer uma escolha, mas sim entre o ego e aquilo que muitas vezes ficou recalcado no inconsciente, uma verdadeira luta entre a doença e sua causa. A luta só pode ser vencida quando os dois oponentes se encontram em campo de batalha, onde um pode ver o outro, a luta acontece no consciente. E assim a neurose e sua causa se encontram para a solução do conflito instalado. Desse confronto surge de alguma forma uma solução para o neurótico. Uma luta consciente da causa e seu subsequente efeito. Pretende-se, nesse caso, chegar até a causa pelo efeito.
Segundo Freud, o nosso consciente não controla o nosso comportamento, pois mesmo nossas ações conscientes em muito resultam do inconsciente. O inconsciente é a região da psique constituída por desejos, paixões, pulsões, libido e recalcamentos. Freud apresenta duas interpretações do psiquismo: a primeira e a segunda tópica. Na primeira tópica ele recorre à imagem de um iceberg onde o consciente corresponde a parte visível do iceberg, enquanto o inconsciente corresponde a parte submersa, aquela que não é visível, é a parte maior do psiquismo. O inconsciente tende a tornar-se consciente através da análise, no entanto, o acesso as pulsões e desejos inconscientes, por vezes, são impedidos pelo recalcamento de chegar ao consciente, sendo o recalcamento um mecanismo de defesa da psique. Ele é o processo pelo qual são eliminados da consciência e guardados no inconsciente parte da vida afetiva e relacional profunda. O recalcamento simplifica a existência e organiza as neuroses. Assim como existe um movimento que vai da consciência para a inconsciência chamado recalcamento, também existe um movimento que faz o processo inverso, aonde se vai da inconsciência, passa pela pré-consciência e chega à consciência. O inconsciente, ou id, é uma região do psiquismo primitivo a partir do qual se formam o ego e o superego. O ego é uma parte do id que se desenvolveu e está em contato com a realidade externa. O ego controla os impulsos do id, age como um juiz que decide qual dos impulsos deve ser satisfeito. Quanto ao superego, ele serve para regular o ego, são os códigos de moral assimilados desde a infância, são regras e normas que inibem a personalidade. O superego representa a moralidade que reprime uma pessoa. Segundo Freud, a repressão exige um constante consumo de energia para se manter, por isso ela pode ser realizada ao longo da vida, e a ansiedade surge quando existe risco do material reprimido tornar-se consciente. À medida que Freud aprofundou a clínica psicanalítica, algumas revisões teóricas são realizadas. Assim surge a segunda tópica que é uma postulação do ego como objeto de amor e objeto de investigação sexual, através da Introdução ao Narcisismo.
Pessoas reprimidas recalcam em sua psique parte de sua vida emocional e vivem como se alguns impulsos que estão no inconsciente não existissem. Pessoas assim impõem uma moral para aqueles que convivem com elas, impõe, por vezes, uma moral excessiva aos filhos, amigos etc. Limitando excessivamente a manifestação do ego, das pulsões e do prazer. Por outro lado, a ausência de ego e superego dá vazão ao que está no inconsciente sem limite algum. Tanto a repressão e o recalcamento, quanto a ausência de ego, dão origens as neuroses e psicose. Ego e superego são reguladores do que pode vir a luz da consciência.


22/10/2015

GENEALOGIA DA MORAL


  Nietzsche vai até a origem do “bom e do “mau” para demonstrar que esses dois conceitos foram transvalorado nas mãos dos sacerdotes a partir de uma luta de poder físico impelido pelos aristocratas contra o poder espiritual dos sacerdotes. Na gênese da moral humana, segundo Nietzsche, está a origem do conceito de “bom” e de “mau”. Uma análise etimológica e histórica das circunstâncias em que o homem criou para si o conceito de “bom” e “mau”. Etimologicamente a origem do “bom” se refere àquilo que é nobre e aristocrático, e posteriormente, como em um salto, faz-se uso da palavra “bom” para designar a nobreza de espírito. O mesmo acontece com a palavra “mau” que serve para designar vulgar e plebeu. O “bom” e o “mau” servem para dar superioridade a uma classe em detrimento da outra. O “bom” não pode ser confundido com o “bem”. O “bem” pressupõe uma ação, já o “bom” pressupõe a nobreza da condição de caráter e manifestação de poder. Portanto, na origem do “bom” e “mau” pode ser encontrada uma constituição física para uma valoração da moral. Posteriormente, é a casta sacerdotal que transforma o “bom” e “mau” em um conceito espiritual de “puro e impuro”. Essa transformação ocorre pelo confronto entre a casta sacerdotal e a classe dos guerreiros aristocráticos. Um confronto entre um juízo físico de poder contraposto a um juízo espiritual interiorizado. E pela impotência dos sacerdotes, o ódio e a vingança entram em cena. Os sacerdotes judeus vingam-se de seus inimigos aristocratas com uma transvaloração de conceitos. Os miseráveis passaram a ser os bons, e os beatos são os únicos abençoados. Mas os nobres e poderosos serão eternamente maus.



13/09/2015

A CRUELDADE HUMANA


Eliani Gracez 
Uma força destrutiva levou o ser humano, desde a origem dos tempos, à crueldade, e de posse de uma arma sentiu-se superior a outro ser humano, nesse sentido, sentiu-se superior a si mesmo, porque um ser humano é igual a outro ser humano, e somente um Deus é superior. O homem de posse de uma arma sentiu-se um Deus, ou, quem sabe, um demônio que o próprio homem, em sua ignorância, confundiu com Deus. Como se não bastasse matar, queria ainda matar aos poucos, e ver o outro sentindo dor e sofrimento. Nossa história está repleta de gente que ao torturar uma pessoa ou um animal, sentiu prazer com a dor do outro. E assim a fogueira do passado tornou-se a câmara de gás do holocausto, e a guerra continua fazendo seus estragos até o dia de hoje. A crueldade não tem fim! Mas, por que o ser humano, nem tão humano assim, tende a crueldade? Alguns motivos podem ser apontados, entre eles estão a crueldade como uma questão de caráter, ou seja, tem pessoas que são naturalmente ruins, e por isso não mudam. Outro motivo para a crueldade é a desigualdade social como fonte geradora de pessoas sofredoras que se tornam cruéis. E assim a crueldade pode vir dos dois lados. Uma sociedade que não se comove com a miséria humana, é uma sociedade cruel. Por outro lado, o indivíduo que foi criado a margem da sociedade pode desenvolver, igualmente, um ódio cruel. Ainda existe a crueldade para consigo mesmo. Uma entrega atroz ao sofrimento e a autodestruição. Drogas, trabalho excessivo, bebida, má alimentação, cigarro, medo, angústia. Esses são apenas alguns dos motivos que levaria uma pessoa a sua autodestruição. E mesmo nesta situação, muitos ainda assim resistem em procurar uma solução. Buscar uma solução para a crueldade humana exige um esforço muito grande, exige ação e determinação, que para pessoas sem atitude e com medo das consequências de sua ação, sobretudo quando confundem anjos com demônios, movidas por ódio e vingança, tornam-se um grande problema social. Outro grande problema nessa história toda da crueldade é a questão do sofrimento. O sofredor tende a se eximir de seus erros, culpando o outro pelo seu sofrimento, afinal, o outro é sempre o culpado. Não é assim que a maioria pensa? E com isso não precisam enfrentar sua responsabilidade diante do problema. A crueldade é uma condição humana, no entanto temos que passar pela vida com alguma dignidade. As relações de amor também possuem momentos da mais pura crueldade, isso porque o dualismo faz parte do ser humano. No dualismo reside a condição humana. Amor e ódio são bons exemplos disso. No entanto, não é porque odiamos que temos que nos tornar cruéis. Não é porque o mal existe que tenhamos que nos tornar malignos. Da mesma forma a questão da inevitabilidade da morte - a nossa entrega a morte deve ser com dignidade. Que a morte vença, isso não podemos mudar, porém jamais devemos aceitar que a crueldade e a barbárie vençam! Para que o animal intelectual se torne humano, ele terá de se tornar menos cruel e aprender a viver com mais alegria e flexibilidade, e aceitar sua realidade com tranquilidade. Ele terá de ter força para mudar aquilo que está ao seu alcance, e aprender a dançar com a vida para não afundar numa crueldade sem fim. Nesta dança que vença o mais sábio e não o mais forte. Que vença não o mais inteligente, mas sim a sabedoria do ser humano, porque o mal tem lá a sua inteligência, embora, para nossa sorte, ele é desprovido de sabedoria. E, por isso, ser inteligente nem sempre quer dizer muita coisa.




ÉTICA ANIMAL

Eu devo de ter caído e batido com a cabeça, pois não consigo compreender. Tudo me parece tão simples. Os pais cuidam dos filhos, irmão cuida de irmão, e todos cuidam do planeta. Simples assim! Mas, no mundo da traição e da corrupção, onde o honesto é chamado de babaca, o maior come o menor. No planeta existem dois tipos de pessoas: o humano e o animal intelectual. Só porque temos a capacidade de raciocinar não quer dizer que haja humanidade nisso. Da mesma forma só porque alguém leu muitos livros e os sita vez ou outra para chamar a atenção do animal intelectual, não quer dizer que ele seja inteligente. Na maioria dos casos significa apenas que possui boa memória. O animal racional é um ser de razão e de memória. Já o humano é um ser de razão que pensa a si mesmo e sua integração planetária. O humano sabe que se ele destruir o planeta, o planeta o destruirá também. Dessa integração com o todo surge o humano que se vê como um ser de razão e também de emocão. No entanto, a grande maioria das pessoas se encontra na fase do animal intelectual, que por não ter um olhar humano sobre a vida, usa o outro como objeto para sua sobrevivência, reduzindo-o a uma “coisa”. E uma coisa não possui alma, não possui sentimentos e por isso não sente dor e não sofre. Coisa é coisa! Esse é o animal intelectual chamado homem. Por outro lado, o humano, por ter inteligência emocional, sente o que o outro está sentindo e, ao sentir, compreende o sofrimento alheio. Compreende a dor do outro. E dessa compreensão surge uma ética verdadeira, uma ética da felicidade. O resto é legalização do mal feito pelo animal intelectual desprovido de sentimentos, visando somente a um fim, o lucro. Uma razão que diz: mata, contanto que dê lucro. Ok, estão matando nosso planeta e matando animais em laboratórios a curto e a longo prazo. Mas, em uma ética da felicidade, a pergunta que cabe é: quem consegue ser feliz usando produtos testados em animais? Que tipo de pessoa é essa? Produtos testados nos olhos de nossos irmãos menores, parafraseando São Francisco de Assis, para ver se em nós não causa, por exemplo, alergia. Já imaginaram, se uma pessoa por ter uma racionalidade maior do que a nossa, ou, por ser simplesmente maior, usasse nossos olhos para teste. Cruel hem?! Mas, como pimenta nos olhos dos outros é colírio... O problema não são os nossos irmãos menores e nem o ser humano. O problema é o animal intelectual, onde a luz do coração não foi acesa e, sem iluminação, destruiu o planeta. O problema já não é mais o que fazer com o que nos tornamos, mas sim o que fazer com quem não se tornou humano. O que fazer com o não ser? Mas, primeiro temos que saber quem é o animal.

15/03/2015

GÊNIO INDOMÁVEL



 Segundo Clarissa Pinkola Estés, Toda mulher tem anseio pelo que é selvagem. “Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas.” A mulher é indomável, mesmo que ao longo do tempo tenha sofrido um excessivo adestramento. Meu gênio é indomável, pavio curto, instintiva, farejadora, gosto do olho no olho! A terra espiritual da mulher selvagem é minha terra. Não tenho medo da morte, temo viver sem ela, o que seria da vida sem mudança. Mas quem compreende uma loba?, todos preferem a adestrada criatura, afinal, ela é dócil e obediente. Eu...obediente?! Nem pensar! Está para nascer quem irá me adestrar. A mulher selvagem e os lobos foram temidos pelos homens, temidos pelo seu poder, o poder da noite, da lua, do uivo e do olhar hipnótico. A mulher loba desobedece as regras, ela tem uma vida vibrante no mundo interno e externo. A força da mulher vem dessa loba interior. A mulher selvagem luta por outras mulheres, ela resgata o feminino, mesmo sendo rotulada, violentada e chamada de louca. A loba encontra sua matilha e ocupa seu corpo com segurança e orgulho, e sabe cuidar de si. De mim cuido eu! A mulher selvagem está por trás de toda escritora, pensadora, dançarina... Nossa arte é visceral. A mulher selvagem sabe sentir, pensar e amar. Ela é quem se enfurece diante da injustiça, ela é quem traz um filho ao mundo, ela é quem nos mantém vivas. Mas tem quem prefira a outra, adestrada e polida!

A PERDA DA INOCÊNCIA ORIGINAL


A menina que corria serelepe atrás dos sonhos hoje já não corre mais. O fôlego primeiro e motriz da energia original e força vital, quando é perdido, causa desencantamento. A vitalidade se esvai e perde a característica suavidade da inocência. Muitas vezes, a beleza da visão original perde seu sentido quando descobrimos que as coisas não são como imaginávamos que fossem originalmente. Perdido o encantamento, perdemos a força motriz. Assim é o amor, ele não se justifica e nem se explica. Ama porque ama! Não ama porque é belo, não ama porque é alegre, não ama porque é alto ou porque é baixo. Não ama porque é homem ou porque é mulher, simplesmente ama! Quem ama vê um quê de encantamento e se delicia com isso. Passando a sentir uma força vital a vida, até o dia em que o encantamento se esvai. E a inocência é substituída pela violência da perda. E a menina segue o seu caminho...


  
 

CAMINHOS E DESCAMINHOS

O segredo da nossa amizade, lembro ainda, estava na caminhada tranquila lado a lado, na liberdade de expressão e no olhar sereno. Tudo o que queríamos era viver o momento, não havia passado e nem expectativa de futuro. O presente era toda realidade que tínhamos, e a vida era vivida um dia após o outro, certos de que tudo estava em seu lugar. Uns ensinando e outros aprendendo, e tudo fluía. Enquanto um falava o outro escutava, e o conhecimento era absorvido em sua plenitude, e a descoberta da vida boa era fonte de felicidade! Mas, como a vida não é feita só de caminhos, excluídos e injuriados encontram-se a margem do caminho, e só podem ser resgatados por quem um dia conheceu a vida boa e agora conhece os descaminhos que compõe os dois lados da moeda. Conhecer somente a tese, neste caso, o segredo da nossa amizade, constitui 50% do todo. Não é possível fazer uma síntese sem o conhecimento do outro lado da verdade, assim reza a dialética platônica. Somente desta forma uma nova ordem pode ser estabelecida, sem injuriados e excluídos, com ética, respeito pelas diferenças e clareza dos limites, diálogo franco. Uma construção de um novo altar onde todos possam rezar indiscriminadamente, um ao lado do outro. Esta é a minha teologia, mesmo que distante da academia. E assim se tem o ideal, o caminho e o descaminho. O ideal talvez seja uma utopia, mas ainda assim uma luz que nos guia. A vida boa um parâmetro de medida. E o descaminho é quando o ideal e a vida boa não encontram mais seus caminhos. Desta forma o projeto de vida é perfeito, porque ele inclui o descaminho para testar se estamos prontos para uma nova caminhada, ou, se ainda permanecemos na infância do tempo, onde tudo começo como um ideal. Cai no descaminho quem não consegue encontrar o caminho para seus ideais.








A NUDEZ DO PENSAMENTO




Aceitar o pensamento do outro como algo belo, é ter um olhar de uma inocência original. É acolher o outro como a criança que quer brincar e acolhe a criançada ao seu redor. Isso é lindo! Expor o pensamento é desnudar-se. É como a bela mulher que se despe de suas vestes e deixa-se ver nua. Quem está preparado para tal ousadia, acolhe o outro e não se incomoda com sua nudez, não impõe regras ao pensamento e muito menos limites. Quem está preparado para acolher o outro não se veste com as roupas da moralidade, e nem impõe limites para aquilo que pode ser pensado ou expressado. Despir-se é para ousadas criaturas que fazem a diferença em suas casas, bairros, cidades... Despir-se é ser amado e adiado. Amado por aqueles que conseguem ver a liberdade de expressão. Odiado por quem se choca com a ousadia...