24/10/2015

NEUROSE

Eliani Gracez

Freud sistematizou a teoria da técnica analítica que permite compreender os neuróticos e suas neuroses como um fenômeno clínico passível de tratamento. Freud debruçou-se sobre o conceito de neurose por longos anos de sua vida, o adoecer e a reorganização da psique tornaram-se assim uma possibilidade terapêutica que encoraja o neurótico a superar seus conflitos, entre a pulsão e a saúde psíquica, ao trazer a luz os impulsos inconscientes reprimidos ou recalcados. 
O adoecer do neurótico está vinculado a uma situação patológica de frustração das pulsões e repressão da libido, sendo assim, o adoecer é consequência e não a causa de um transtorno patológico. Causas prováveis de neurose são, em geral, disposições hereditárias, experiências da primeira infância, frustrações, infortúnios da vida tais como falta de amor, pobreza, desestrutura familiar, rigidez ética imposta pela sociedade, entre outros. A repressão e mecanismos coercitivos da sociedade são fomentadores de conflitos, por exemplo, a libido versus ideal acético. E assim se instala uma luta entre dois impulsos gerando a doença ou neurose. Não vamos aqui confundir a luta entre duas polaridades que acontece na hora em que o indivíduo tem que fazer uma escolha, mas sim entre o ego e aquilo que muitas vezes ficou recalcado no inconsciente, uma verdadeira luta entre a doença e sua causa. A luta só pode ser vencida quando os dois oponentes se encontram em campo de batalha, onde um pode ver o outro, a luta acontece no consciente. E assim a neurose e sua causa se encontram para a solução do conflito instalado. Desse confronto surge de alguma forma uma solução para o neurótico. Uma luta consciente da causa e seu subsequente efeito. Pretende-se, nesse caso, chegar até a causa pelo efeito.
Segundo Freud, o nosso consciente não controla o nosso comportamento, pois mesmo nossas ações conscientes em muito resultam do inconsciente. O inconsciente é a região da psique constituída por desejos, paixões, pulsões, libido e recalcamentos. Freud apresenta duas interpretações do psiquismo: a primeira e a segunda tópica. Na primeira tópica ele recorre à imagem de um iceberg onde o consciente corresponde a parte visível do iceberg, enquanto o inconsciente corresponde a parte submersa, aquela que não é visível, é a parte maior do psiquismo. O inconsciente tende a tornar-se consciente através da análise, no entanto, o acesso as pulsões e desejos inconscientes, por vezes, são impedidos pelo recalcamento de chegar ao consciente, sendo o recalcamento um mecanismo de defesa da psique. Ele é o processo pelo qual são eliminados da consciência e guardados no inconsciente parte da vida afetiva e relacional profunda. O recalcamento simplifica a existência e organiza as neuroses. Assim como existe um movimento que vai da consciência para a inconsciência chamado recalcamento, também existe um movimento que faz o processo inverso, aonde se vai da inconsciência, passa pela pré-consciência e chega à consciência. O inconsciente, ou id, é uma região do psiquismo primitivo a partir do qual se formam o ego e o superego. O ego é uma parte do id que se desenvolveu e está em contato com a realidade externa. O ego controla os impulsos do id, age como um juiz que decide qual dos impulsos deve ser satisfeito. Quanto ao superego, ele serve para regular o ego, são os códigos de moral assimilados desde a infância, são regras e normas que inibem a personalidade. O superego representa a moralidade que reprime uma pessoa. Segundo Freud, a repressão exige um constante consumo de energia para se manter, por isso ela pode ser realizada ao longo da vida, e a ansiedade surge quando existe risco do material reprimido tornar-se consciente. À medida que Freud aprofundou a clínica psicanalítica, algumas revisões teóricas são realizadas. Assim surge a segunda tópica que é uma postulação do ego como objeto de amor e objeto de investigação sexual, através da Introdução ao Narcisismo.
Pessoas reprimidas recalcam em sua psique parte de sua vida emocional e vivem como se alguns impulsos que estão no inconsciente não existissem. Pessoas assim impõem uma moral para aqueles que convivem com elas, impõe, por vezes, uma moral excessiva aos filhos, amigos etc. Limitando excessivamente a manifestação do ego, das pulsões e do prazer. Por outro lado, a ausência de ego e superego dá vazão ao que está no inconsciente sem limite algum. Tanto a repressão e o recalcamento, quanto a ausência de ego, dão origens as neuroses e psicose. Ego e superego são reguladores do que pode vir a luz da consciência.


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