11/06/2021

Medo do Poder

 Eliani Gracez - Psicanalista



Tememos o poder e por isso nos sabotamos. Estamos tão acostumados a uma vida medíocre que não sabemos viver de outra forma e não sabemos o que fazer com o poder que cada pessoa tem e por isso nos sabotamos e desenvolvemos resistência ao nosso crescimento. Confundimos humildade com ausência de poder. Nietzsche já alertava que a moral do fraco é a moral vencedora, nesse planeta. Como existe uma moral enraizada em nós que diz que temos que ser humildes, consideramos nossa potência um erro. Poder é potência, mas onde está o nosso potencial? Na potência reside nossa sabedoria. O fenômeno da resistência tem sido observado desde os primórdios da psicanálise e continua sendo considerado a pedra angular na prática analítica. Motivo pelo qual, a resistência ainda continua sendo estudada em seus mais variados prismas. A concepção de resistência surgiu quando Freud começou a trabalhar com as lembranças “esquecidas” de suas pacientes histéricas, até então a resistência era vista como um obstáculo à análise. Em A Interpretação dos sonhos, os conceitos de resistência e censura estão relacionados, e tudo o que interrompe o progresso da análise é resistência. Aos poucos Freud entendeu que a resistência não estava somente naquilo que estava sendo reprimido em sonhos, mas também nos impulsos de origem sexual. E assim o conceito de resistência, aos poucos, foi ampliado para resistências em Inibição e em angústia. A resistência pode ser consciente ou inconsciente, segundo Zimerman, Manual de técnica psicanalista, página 97, ela sempre provém do ego, ainda que tenha outras influências da psique. A resistência pode se expressar pelas emoções, atitudes, ideias, impulsos, fantasias, linguagem, somatizações ou ações. Nesse sentido todo aspecto da vida mental pode estar relacionado a resistência. Por este motivo as resistências podem ser complexas e se apresentar de variadas maneiras tais como: faltas, atrasos, intelectualizações, exagero de silêncio, sonolência, entre outros. Pode-se também relacionar a resistência à patologia que lhe deram origem. Teríamos, nesse caso, resistência do tipo Narcísica, esquizoparanóide, maníaca, fóbicas, obsessivas etc. Também é útil considerar resistências relacionadas ao desenvolvimento emocional primitivo, entre estas o narcisismo é, particularmente, importante por se constituir no cerne da formação da personalidade e da identidade na mais tenra idade. Mãe e bebê reproduzem uma simbiose original, uma situação psíquica onde persiste um forte grau de fusão, uma não diferenciação um do outro. Quando o bebê sai da fase simbiótica, ele inicia a fase de separação e diferenciação do eu com relação ao outro. Uma diferenciação entre o bebê e sua mãe. Desta forma se dá o nascimento psicológico da criança. Enquanto a criança permanecer nesse estado simbiótico com sua mãe ele não diferenciará o eu do não eu. Neste caso a criança desenvolve uma crença ilusória e onipotente de que possui independência absoluta. Na fase simbiótica o bebê acredita que os atos de sua mãe são os seus atos, e que cada obra de sua mãe é fruto do seu desejo. E assim se forma no bebê a ilusão de que todos estão ali para ele e somente para ele. Uma ilusão se forma onde o bebê é a majestade e os outros seus súditos. Essa onipotência, em muitos casos, permanece até a fase adulta, onde as pessoas que rodeiam a pessoa onipotente estão ali para servi-la. E assim se dá o relacionamento com o mundo exterior. A não aceitação da diferenciação leva a um estado de resistência em aceitar a singularidade entre as pessoas, e a um estado de incompletude. Freud aprofundou com o tempo o estudo sobre as resistências, sobretudo a resistência e sua associação com o ego. O ego é o responsável pelo contato do psiquismo com o mundo real exterior ao indivíduo. Ele atua de acordo com o mundo exterior da pessoa, estabelecendo uma ligação entre as demandas do inconsciente e o superego. Estão no ego as percepções, sentimentos, memória e os pensamentos. Por outro lado, o Superego está relacionado as normas e valores imposto pela família, religião, moral social etc. O superego se forma durante a fase fálica, onde a criança começa a internalizar os valores e as normas sociais. O superego nos diz o que é certo e o que é errado, o que é proibido e o que é permitido. E assim os impulsos do inconsciente começam a ser inibidos. Impulsos são liberados do inconsciente e a pessoa sente, por exemplo, uma determinada vontade, mas o superego julgar aquela vontade imoral e por isso reprime. Formando assim resistências e sabotagens.