06/11/2018

AS REPRESENTAÇÕES

Eliani Gracez


         Cada pessoa forma sua visão de mundo a partir de suas representações, essas representações acontecem no tempo e no espaço. Tanto para Schopenhauer quanto para Kant, a intuição envolve espaço e tempo. A intuição faz parte da experiência em perfeita harmonia com suas leis, o sentido externo é próprio ao espírito do homem, e assim os objetos que são representados estão lançados no espaço. Existe, nesse sentido, uma relação do interno com o externo através do tempo e do espaço. Esta relação são modos e funções do sujeito, formas puras da intuição e princípio do conhecimento. O espaço tem sua representação não a partir do fenômeno, mas sim mediante existência a priori sendo ele forma da intuição e não coisa em si. Schopenhauer considera tempo e espaço como algo intuído vazio de conteúdo, uma representação que existe por si mesma. O espaço é efetivação da matéria onde se manifesta a relação entre os corpos, onde o fazer efeito é sua essência. A matéria é efetividade ou causalidade e essa efetivação no espaço está no cérebro. É assim que todos os fenômenos podem existir no espaço infinito. O tempo é uma sucessão de aniquilamento do momento anterior, a morte do que passou para se depositar o presente, por sua vez, o presente também morre para que novamente algo seja depositado em seu lugar, uma sucessão de colocar, aniquilar e colocar de novo; e o presente é um intermediário entre o passado e o futuro, mas tudo será igualmente aniquilado na sucessão do tempo, até mesmo o futuro.
         O O presente impõe o fim do momento anterior. Nesse sentido, pode se dizer que o presente extermina aquilo que já foi presente um dia, até mesmo o futuro deixará de ser, não existindo mais a eternidade, e sim o limite e o fim. No tempo são depositadas as representações que serão substituídas por outras representações, desta forma o tempo determina a finitude da representação, pois o que agora é, em instantes deixará de ser. O tempo é sucessão. Schopenhauer quer demonstrar a nulidade de tudo o que acontece no espaço e no tempo, até mesmo as representações são finitas, pois é possível substituí-las por novas representações. Com isso ele demonstra a instabilidade de todo conhecimento representativo, inclusive o conhecimento científico.
Pensando assim, Schopenhauer, através da sucessão, deu ao tempo caráter de infinitude. tempo é um eterno deixar de ser e, portanto, nulo, algo imaginário. Uma forma de apreensão do sujeito para a medida dos movimentos. Até mesmo as representações são finitas no tempo, dando assim instabilidade ao conhecimento, pois é possível substituí-las por novas representações. Também os conceitos são representações abstratas finitas no tempo e no espaço. Para ser mais exato, causa e motivo estão intimamente relacionados às representações no tempo, possuindo existência relativa um para o outro, o mesmo acontece com sujeito e objeto que tem sua existência um para o outro, pois um é a causa do outro. Um fluir incessante, um devir no mundo da possibilidade, onde cada ser representa seu próprio mundo a partir de conceitos instáveis.
Mas tempo e espaço não estão separados, não sobrevive cada um por si, na união de ambos reside sua essência: no fazer-efeito ou na causalidade. Todos os fenômenos no tempo e no espaço adquirem, com isso, caráter inumerável, e sem limite. ― Inumeráveis finitos compondo o infinito. Esta é a essência da matéria, fazer-efeito. Uma relação de causa e motivo que Schopenhauer também chama de causalidade e que está relacionada ao princípio de razão suficiente do devir. Existe, para a matéria, uma relação necessária entre espaço e tempo, por isso eles são a essência da matéria, não podendo existir por si, mas sim um para o outro.
Tudo isso deve ser estudado à luz do entendimento que nada mais é do que a capacidade de ordenar, unificar e fazer síntese para conhecer a causalidade, estabelecendo assim novas relações de causa e efeito. Se toda matéria, ou fenômeno, está no tempo e no espaço, e da relação necessária entre eles surge à causalidade que deve ser estudada pelo entendimento, então toda matéria deve ser estudada também pelo entendimento. Pois da relação da matéria com o espaço/tempo surge à causalidade que é estudada a luz do entendimento. Schopenhauer diferencia razão e entendimento, o princípio de razão está sujeito a sucessão que o tempo impõe, tendo por única função elaborar conceitos e representações abstratas, por esse motivo não pode fornecer um conhecimento absoluto, mas sim relativo a causa e ao efeito. A função do entendimento é o conhecimento imediato pela relação de causa e efeito.

A INTUIÇÃO

Eliani Gracez

Os filhos da intuição são como águias rebeldes que voam altaneiras até o inefável; livres da tirania, sem medo e sem angústia. Livres da religião, escolas, teorias e fanatismo. Vivem deliciosamente como água cristalina de augusta beleza. Como resultado, o homem intuitivo sabe o reto pensar, o reto agir, o reto sentir, porque toda sabedoria está no seu interior. A mente do intuidor é um cálice repleto de sabedoria. Sua mente é repleta de amor, cheia de Nirvana. A intuição é o licor búdico dos deuses imortais. A vida feia fundamentada em arquétipos da finitude sobre o véu da ilusão e assume uma beleza refletida no rosto do intuidor, porque ele não sofre com representações mentais, ele é livre e por isso belo. O raciocinador transforma sua mente em um campo de batalha repleto de prPREejulgamentos e teorias. Esse lago turvo jamais poderá reproduzir o sol. Mas a mente do intuitivo flui silenciosa longe da obscura batalha das antíteses.   A mente do raciocinador é como um barco que anda de porto em porto, chamados de escolas, teorias, religiões, fanatismos, e reage conforme preceitos já estabelecidos de ação e reação.

VISÃO DE MUNDO

Eliani Gracez

Segundo Protágoras, o que cada coisa significa para ti, assim ela é para ti, o que cada coisa parece para mim, assim ela é para mim, pois o homem é a medida de todas as coisas. Dos antigos gregos até os dias de hoje, com essa máxima, muitos filósofos deram origem ao seu pensamento. O olhar que paira sobre o mundo, é um olhar que parte do indivíduo e de suas subjetividades. Ao perceber os objetos, cada pessoa está formando uma representação deste objeto. Ver é representar. Cada imagem, cada informação nos traz não a coisa em si, mas sim uma representação que compõe nosso mundo pessoal, pois não vemos o mundo direto e sim através de representações. Com isso, o olhar que repousa sobre os objetos, sobre o outro e sobre nós, determina a visão de mundo de cada pessoa. Damos conteúdo ao nosso mundo pessoal a partir de representações que formamos das coisas. A representação que todas as pessoas têm dos objetos, contém informações sobre a construção do mundo que, nesse caso, é único e individual. Cada pessoa constrói seu próprio mundo ao formar representações mentais. Portanto, estudar as representações é, ao mesmo tempo, estudar a visão de mundo que cada uma dessas pessoas possui.
A representação é o ponto de partida para o conhecimento em Schopenhauer. Ela se forma no sujeito em contato com o objeto a ser conhecido, isso só é possível mediante o uso dos sentidos, da causalidade, do entendimento e do espaço/tempo. Essa é a forma mais simples que o sujeito tem de conhecimento. Trata-se de um trabalho que chega a seu fim quando o objeto é percebido nitidamente, esse é o momento que o objeto acaba de ser construído pelo sujeito, não lhe sendo mais algo estranho, mas sim conhecido. O entendimento reconhece as informações percebidas pelos sentidos como sendo um efeito. Com o auxílio do tempo ele procura uma causa para este fenômeno, ao encontrá-la localiza-a no espaço. O objeto assim está representando algo real para o sujeito.
Schopenhauer chamou de experiência direta à coleta de dados feita pelos sentidos, pois se trata de uma experiência mediante os cinco sentidos em contato com o objeto. A intuição intelectual acontece quando a partir dessa coleta de dados se conhece a causa do efeito, fazendo uso, desta forma, da categoria da causalidade. Assim a representação é fruto de uma intuição do mundo fenomênico através do entendimento do sujeito cognoscente.
O conhecimento representativo só é possível no tempo e no espaço, pois os sentidos somente captam formas daquilo que está lançado no tempo e no espaço. Isso significa dizer que as pessoas já nascem com a possibilidade ou com os sentidos apropriados para o conhecimento dos objetos. Uma estrutura de causa e efeito possibilitando o conhecimento. Nesse sentido, o conhecimento é causalidade visto que ele surge da relação do sujeito (causa do conhecimento) com o objeto a ser conhecido (efeito), dando origem ao conhecimento (causalidade). De um lado estão os objetos para serem conhecidos, do outro lado está o corpo de um sujeito com esquema apropriado  para o conhecimento. Quando o homem e seu esquema são debilitados, o conhecimento por sua vez também é. Se alguém fosse privado de seu entendimento, embora tivesse ainda os sentidos em perfeito funcionamento, as imagens recebidas seriam como manchas disformes.  Mas se essa pessoa recobrasse seu entendimento, logo começaria a conhecer o mundo e aprenderia a usar a razão e a entender o discurso, aprenderia a pensar e a formar representações abstratas.
A representação abstrata é representação da representação. Uma vez formada a representação intuitiva, quando a pessoa vê o objeto nitidamente, então a razão começa a pensar e a conceituar esse objeto. Esse conceito dá origem a uma nova representação. Para a razão a causalidade se apresenta na forma de reflexão, e é através dela que a razão formula conceitos sem levar em consideração a coisa-em-si, algumas vezes dá uma nova causa para o objeto, negando com isso a intuição. Schopenhauer não vê vantagens no uso da razão na formação de novas representações ou representações abstratas, visto que elas conduzem ao erro por unir conceitos sem levar em consideração a intuição. No momento da intuição não há erro, por isso somente a representação intuitiva, para Schopenhauer, contém a verdade.
Representar é um ato de ver com a totalidade do ser. Representar é conhecer. Sem representação não existe conhecimento, assim como não existe representação sem sensibilidade e sem entendimento. A representação sem entendimento é uma figura vazia, algo sem serventia. Por isso o ser humano não é uma cabeça alada, mas sim cabeça e corpo, portador de sentidos externos e internos e dotado de intuição intelectiva. 







 

05/11/2018

SONHO

Eliani Gracez 
                                                        
O sonho é uma linguagem cifrada que exige decifração. Uma imagem que só tem significado a partir do conteúdo interno do sonhador. Conteúdo mental e sentimentos que foram reprimidos e recalcados podem aflorar nos sonhos. A descoberta de Freud de que os sonhos têm um conteúdo psicológico passível de análise, foi uma revolução em termos de terapia. Os sonhos, na maioria dos casos, são desprovidos de moralidade, e por isso eles refletem aquilo que a pessoa tem de mais íntimo, oculto, escondido. Desejos reprimidos de toda ordem podem se manifestar em sonhos. Conte-me seus sonhos e eu te direi quem tu és, não quem tu pensas ser, mas sim quem tu és. No processo de civilização ou de moralização do ser humano, foram recalcados e reprimidos muitos sentimentos que se manifestam em sonhos. O conteúdo latente em um sonho se refere a pensamentos inconscientes e que subjaz ao relato, é um sentido, um significado, algo que pulsa, algo que não quer calar. Já o conteúdo manifesto é a forma pela qual o sonho se apresenta. É a história contida no sonho. Como em um filme existe uma história na qual a mensagem é comunicada. O conteúdo latente é a mensagem vinda do inconsciente, e a trama é o conteúdo manifesto.

O HOMEM QUE NÃO QUERIA CRESCER

Eliani Gracez 


Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista (1896-1971) não defendia a submissão do ser humano, pelo contrário, ele enfatizava a criatividade e a capacidade de defender ideias, a partir do ritmo e do jeito de ser de cada pessoa. Especializado no mundo infantil, Winnicott estudava a criança, e não a doença que acometia a criança. Doença é consequência e não a causa, e assim ele estudava a causa da doença no psiquismo infantil. Para Winnicott, existem dois tipos de moral: uma moral pessoal e outra impessoal. A primeira, a moral pessoal, surge a partir de relacionamentos com amor e respeito mútuo. A moral impessoal surge a partir de uma exigência da família e da sociedade. E assim não precisamos impor regras de moralidade à criança quando ela for criada com afeto, respeito e amor. Ela amará e respeitará seus pais pelo cuidado e carinho que os pais dedicam a ela, não sendo necessária uma lei externa. A moral oriunda do respeito, do cuidado e do carinho, Winnicott considera a moral verdadeira, e a moral imposta a força ele considera a falsa moral. A luz da psicanálise, o mundo infantil nem sempre está tão somente ligado a criança, muitas pessoas adultas também são infantis. Esse é o caso da pessoa que não cresceu, e que possui o pensamento infantilizado, não desenvolvendo, por exemplo, criatividade. Pessoas assim, em muitos casos, se valem do pensamento de outras pessoas, ou mesmo de um pensador para defender suas teorias, tem dificuldades em fazer escolhas e tomar decisões, são imaturas e, em muitos casos, precisam da aprovação de um outro adulto para ter certeza de que estão fazendo a coisa certa. Pessoas assim, usam o que se chama de “bengala”, para conseguirem andar, porque não são capazes de andar com suas próprias pernas. Não que não se possa pedir ajuda vez ou outra, ou ter dúvidas quanto ao caminho a ser percorrido. Diferentemente disso, o adulto infantil, torna-se um problema para ele mesmo, porque não consegue crescer e se desenvolver a partir de si. Todos nós, de alguma forma, conservamos a criança interior, resta saber se essa criança é saudável. Se sua criança interior for saudável, isso significa que você foi amparado pelos pais, foi bem cuidado e brincou livre e inocentemente quando criança. Viveu em ambiente que contribuiu ao seu crescimento. Seja como for, carregamos as consequências da infância para o resto da nossa vida. Porém, como nem tudo são flores, existem casos onde o amadurecimento da criança se deu de forma insatisfatória.

SEXUALIDADE INFANTIL

Eliani Gracez  

         As tendências reprimidas que se encontram no inconsciente, segundo Freud, “trata-se quase sempre de tendências sexuais”. Um pansexualismo que ainda perpassa a obra de Freud e seus discípulos. Não vamos confundir o “quase sempre” com “sempre”. Se no inconsciente encontram-se uma parte maior de tendências sexuais do que outras tendências, isso deve-se ao fato da existência de processos inconscientes expulsos da consciência pela repressão. Os elementos que não foram reprimidos permanecem na consciência.
         Desde longa data, a sociedade e tendências religiosas, condenam a livre expressão da sexualidade. Sendo canalizada esta expressão para o casamento legal, ou seja, um único parceiro de sexo oposto e para toda a vida. Questões sobre a sexualidade são estudadas por Freud desde a infância do analisando, e assim ele afirma tendências sexuais na criança. Ao afirmar a sexualidade infantil, foi possível também afirmar a repressão sexual na criança promovida pelos pais e pela sociedade. Repressão esta que foi feita a partir de um modelo de educação opressor que não prepara a criança para a sexualidade e sim reprime a pulsão sexual desde a mais tenra idade. E assim Freud conclui que se os elementos sexuais são reprimidos desde a infância é porque eles estão lá desde este estágio. Com esta visão, fruto de dedução dialética, Freud conquistou adversários e verdadeiros inimigos, chocou o senso comum bem como os meios científicos e pedagógicos de sua época. Ele demonstrara a partir de seus estudos sobre o inconsciente que o espírito crítico e o julgamento racional do homo sapiens constituem apenas uma parte do psiquismo humano. Ao lado deste psiquismo existe uma mentalidade pré-lógica, afetiva que emana do inconsciente. Este material, muito mais pressentido, influi no raciocínio lógico. Isso significa que os medos, a repressão, a moral e a forma como uma criança é educada tem uma grande influência na racionalidade. Filósofos e médicos, contemporâneos a Freud, ao invés de procederem como pessoas de ciência, comportaram-se como o “homem da rua”. Suas observações exprimiam o preconceito da cultura e do meio social. Existe na criança uma espécie de pré-sexualidade que não se queria ver, e a curiosidade sexual da criança era reprimida.
         Para o psicanalista Abrahão Brafman, o estilo de vida de alguns pais cria problemas nas crianças. A criança se constrói a partir dos exemplos dos pais e daqueles que convivem com ela. O desenvolvimento cognitiva, intelectual e emocional da criança, afeta a visão que a criança tem de si e do mundo. Com a visão da sexualidade na criança foi possível entender melhor o adulto, pois há na criança os traços do instinto sexual. Esse instinto, quando não trabalhado adequadamente na infância, pode dar origem a perversão sexual no adulto.
         O complexo de Édipo rendeu a Freud o título de imoral. Moralistas e preconceituosos tornavam a criança assexuada. A noção de que a criança se identifica com o sexo oposto, podendo desejar sua mãe e odiar o pai, feriu sentimentos na época de Freud. Quando Freud falava de sexual seus adversários compreendiam genital. Isso em Freud é um absurdo! O adulto sente o impulso sexual e toma consciência dele, do objetivo e do objeto, a criança sente o impulso sexual, mas não toma consciência dele.
         Quanto a extensão do termo sexualidade, que foi frequentemente criticado, um simples olhar para a teoria freudiana nos dá a percepção de que o termo abrange mais do que sexo genital. O amor maternal, a ternura, a fraternidade e amizade, derivam da sexualidade. Embora Freud não quisesse afirmar que a amizade, amor, ternura e fraternidade fossem em si elementos sexuais, mas sim que derivam do instinto sexual, da libido e que estavam deslocados ou transformados no psiquismo.
        Para conhecer um pouco mais sobre o complexo de Édipo é preciso remeter ao esquema conforme Freud o concebeu nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, que tratam de forma clara sobre o pensamento freudiano.
             I - Apego da criança em relação a mãe ou parente de sexo oposto ao seu.
           II - Hostilidade e ciúme, em relação ao pai ou parente de mesmo sexo, decorrente do primeiro processo.
           III - Sentimento de admiração e de afeição em relação ao parente de mesmo sexo e que se superpõe aos sentimentos hostis e cria ambivalência.
          IV - Sentimento de culpa, geralmente inconsciente e que são o cerne da hostilidade experimentada.
         Assim o menino amará sua mãe e sentirá ciúmes do pai, considerado no inconsciente como seu rival. No entanto, ao mesmo tempo, ele admira a força do pai. O mesmo acontece com a menina que amará seu pai e verá a mãe com hostilidade.
        O complexo de Édipo existe em todas as crianças. Se elas conseguirem eliminá-lo, normalmente esse é o caso, terão chances de não terem dificuldades ou transtornos sexuais. Do contrário estará aberta a porta para as neuroses. É a partir do complexo de Édipo que a sexualidade no adulto começa a tomar forma. O primeiro amor da menina é pelo pai, e deste amor derivam os demais na faze adulta. Mas para isso é preciso vencer o complexo de Édipo e substituir a sexualidade infantil pela sexualidade adulta. O adulto sente o impulso sexual e toma consciência dele e de seus objetivos. A criança sente um impulso semelhante a do adulto mas não toma consciência dele. Quando um adulto sente um impulso sexual, múltiplas formas de representações, jogos sexuais e suas consequências tomam conta da consciência. Nada disso acontece com a criança.
      O preconceito de pessoas que não queriam ter seu inconsciente revelado e que sustentavam uma criança pura, angelical e assexuada levou a acusação de um Freud imoral. No entanto, o pensamento freudiano está embasado no amor maternal, na ternura filial e a amizade que derivam da sexualidade. As relações que unem a mãe e a criança, de certa forma e as relações sociais entre os indivíduos, são ligações amorosas.

04/11/2018

A CULPA É DAS ESTRELAS

Eliani Gracez 

Lembro que no passado amávamos nossos professores. Eles pareciam tão sábios e inteligentes, e nós, crianças vorazes de aprendizado e de afeto. Ser afetado por alguém que parecia saber mais do que a criança podia imaginar, era a máxima de um professor. A disciplina era rigorosa, bastava um olhar e já sabíamos o que estava acontecendo. O mundo interior, ou, o mundo da subjetividade, era preservado e mantido em segredo. No entanto, não sei dizer se o passado é melhor do que os dias de hoje, onde tudo ou quase tudo nos foi revelado. O tempo da ilusão passou e talvez os dias de hoje deixem mais claro quem são as pessoas, não que o passado não as revelassem, apenas que a revelação se fazia de outra forma. Devemos muito ao rigor do passado o surgimento de instituições secretas. No rigor moral o oculto se instala, mas, nos dias de hoje, onde quase tudo é permitido, o oculto se revela. Tudo é uma questão de escolhas e não mais de necessidade moral, ou nos ocultamos ou nos revelamos. Bom! Como se diz por aí, nos dias de hoje tem muita gente saindo do armário, outros tantos permanecem no armário. O bom da história é que hoje temos opção de escolha. Opção que não existia no passado. Hoje, quem não quer sair do armário opta pelo passado, os demais escolhem o caminho da mudança. Seja qual for tua escolha, que seja para a felicidade, pois para a infelicidade é que não nascentes. Que seja não somente para a tua felicidade, mas também para aqueles que tu ama. Eis a ética da felicidade: eu não quero a felicidade somente para mim, também quero para aqueles que eu amo. Mas isso seria ético? Não, pois aqueles que eu não amo tanto quanto amo alguns, também merecem a felicidade. Lembro, certa vez, quando eu era ainda uma estudante de filosofia, conversando com um professor eu disse que eu não queria o céu somente para mim, eu queria o céu também para as demais pessoas. Meu professor respondeu, o céu não seria o céu se lá estivéssemos sozinhos. A época de estudante eu chamo de época do idealismo e da ilusão. Hoje, onde pouca coisa sobre a subjetividade humana não foi ainda revelada, eu chamo de época do realismo e de escolhas não ilusórias. O que as estrelas têm a ver com tudo isso? Sempre se pode culpar as estrelas por aquilo que não entendemos. Que todos os seres sejam felizes, já foi a máxima da minha ética. Hoje, com todo mal revelado, talvez eu pense como a canção que diz não desejamos mal a quase ninguém. Quase ninguém...

O ADOECER

Eliani Gracez

O adoecer e a reorganização da psique tornaram-se assim uma possibilidade terapêutica que encoraja o neurótico a superar seus conflitos, entre a pulsão e a saúde psíquica, ao trazer a luz os impulsos inconscientes reprimidos ou recalcados. O adoecer do neurótico está vinculado a uma situação patológica de frustração das pulsões e repressão da libido, sendo assim, o adoecer é consequência e não a causa de um transtorno patológico. Causas prováveis de neurose: rigidez moral que causa recalque na infância, frustrações, falta de amor, desestrutura familiar, rigidez ética imposta pela sociedade. A repressão e mecanismos coercitivos da sociedade são fomentadores de conflitos, por exemplo, a libido versus ideal acético. E assim se instala uma luta entre dois impulsos gerando a doença ou neurose. Não vamos aqui confundir a luta entre duas polaridades que acontece na hora em que o indivíduo tem que fazer uma escolha, mas sim entre o ego e aquilo que muitas vezes ficou recalcado no inconsciente, uma verdadeira luta entre a doença e sua causa. A luta só pode ser vencida quando os dois oponentes se encontram em campo de batalha, onde um pode ver o outro, a luta acontece no consciente. E assim a neurose e sua causa se encontram para a solução do conflito instalado. Desse confronto surge de alguma forma uma solução para o neurótico. Uma luta consciente da causa e seu subsequente efeito. 

O HOMEM DOS RATOS

Eliani Gracez

            O homem dos ratos é o nome dado a um trabalho publicado por Freud sobre um paciente com neurose obsessiva. O homem dos ratos procurou Freud porque ele acreditava que algo de desagradável iria acontecer com seu pai e a uma mulher que ele tinha admiração. Freud realizou descrições ricas e precisas de rituais e obsessões que seu paciente apresentava, buscando interpretá-los à luz de suas teorias. O paciente, um jovem de educação universitária, apresentou-se a Freud com a queixa de obsessões desde sua infância, mas com uma maior intensidade nos últimos quatro anos de sua vida. Além dos temores com as duas pessoas que ele mais amava, o homem dos ratos tinha também impulso como, por exemplo, cortar sua garganta com navalha. Ele relata que é como se fosse uma voz nítida dizendo o que ele deveria fazer. No dia em que sua amada iria partir, caminhando pela estrada, retirou uma pedra para que a carruagem com a moça ao passar pelo lugar da pedra não sofresse nenhum acidente. Contudo, pouco depois, pensou que a ideia era um absurdo, e sentiu-se obrigado a voltar e colocar a pedra no lugar onde ela havia sido retirada. A experiência que deu origem ao título "O homem dos ratos", se deu quando um oficial descreveu, ao homem dos ratos, uma forma de castigo onde o prisioneiro ficava sentado nu, amarrado sobre um recipiente contendo ratos, que buscavam escavar seu ânus procurando uma saída. Tal pensamento passou a invadir sua mente sem que fosse capaz de evitá-lo, passou a pensar que isso poderia acontecer com seu pai, embora já falecido, e com a moça que ele amava. Quando mais jovem, o homem dos ratos temia a morte do pai, passado um tempo, mesmo depois quando seu pai já estava morto, ainda assim ele temia que algo acontecesse a seu pai. Por mais que ele tivesse repudio e tentasse afastar os pensamentos a obsessão e o sentimento de culpa permaneciam, embora vários tratamentos tenham sido feitos, porém todos sem êxito. O homem dos ratos temia que algo acontecesse a seu pai por ele não ter pago uma dívida por conta de um óculos que ele precisou comprar no tempo da guerra e não conseguia pagar o frete. Ele também se considerava um covarde desde criança. Criando toda uma neurose sobre uma dívida impagável até que ao pegar um trem para Viena manda uma carta ao posto do correio com o pagamento da dívida.
            Freud concentrou sua análise em duas questões com o mesmo valor para o homem dos ratos, o pai e a amada. A intensidade dos sentimentos para com a mulher que ele cortejava e a raiva contra o pai. O simbolismo dos ratos levou Freud e seu analisando a associações que foram desde de o erotismo até lembranças de quando o homem dos ratos eliminava lombrigas na infância e lembranças de quando ele fora espancado pelo pai por ter mordido uma pessoa aos quatro anos de idade. Entre as associações realizadas a partir da forma de pensar do analisando, destacaram-se o perfeccionismo, a dificuldade de conviver com a incerteza, necessidade de controle. Ao retirar a pedra do caminho onde a carruagem de sua amada iria passar, queria ele ter a certeza de que nada de mal iria acontecer com a moça, como se a vida dela estivesse em suas mãos naquele momento. Entre outras observações era possível perceber o distanciamento dos afetos e obediência ao pai. O homem dos ratos culpava-se pela morte do pai devido a severidade com que ele o tratava. Culpando-se por odiá-lo quando deveria amá-lo.  O discurso do amor ocultava o ódio. O homem dos ratos se anulava diante da vontade paterna. Seu Pai queria que ele se casasse por dinheiro e não por amor. O pai era um homem colérico e muito severo com seus filhos, casou-se também por dinheiro. Freud pesquisa então o desejo de morte do pai, embora o homem dos ratos afirmasse amar seu pai acima de tudo. O amor era a condição do recalcamento do ódio. Com a rigidez em que fora criado, um superego forte e o recalcamento de sentimentos desde a infância, manifestaram-se neuroses e um comportamento de obsessão compulsiva. O rato lembra sujeira e morde, o homem dos ratos quando criança mordia também, e assim Freud descreveu em seu trabalho com o homem dos ratos sintomas relacionados com o ânus, fezes e defecção. Este é um caso onde a terapia pela fala evidencia o significado e significante. Tudo gira em torno do significado de ratos, casamento, acasalamento e dívida.
            A morte da irmã, esquecida pelo homem dos ratos, faz lembrar-se de um encontro precoce com a morte, ele tinha pouco mais de três anos quando sua irmã morreu. Existe, nesse caso, uma ligação entre a morte da irmã e o desejo por uma mulher indefesa.     Após um ano de análise o analisando curou-se de seus sintomas. Segundo Freud o delírio dos ratos desapareceu. Freud descreveu detalhadamente os sintomas do transtorno obsessivo compulsivo, obsessões, compulsões, anulação que são válidos até os dias de hoje. Embora nunca tenha sido comprovada a existência do inconsciente, Freud deixou um legado transcrito das seções com o homem dos ratos que até hoje são estudados.  Diferente da Histeria, a obsessão é um pensamento, um nexo causal. Por exemplo: se meu pai fosse vivo ele me puniria e eu me revoltaria contra ele e ele morreria por isso. Como se o pensamento tivesse todo esse poder.

O ANIMAL RACIONAL

Eliani Gracez

O ser humano busca em medicamentos a cura para a tristeza, para o vazio existencial, o tédio e a falta de sentido para sua existência. E com isso toma medicamentos para o medo, angústia, solidão, insônia etc. Longe de contestar a utilidade dos fármacos e de sua importância em casos específicos, no entanto, por exemplo, eles não trazem a cura para a infelicidade ou para o desamparo humano. O fato de sermos civilizados não quer dizer que tenhamos desenvolvido afetos ou amorosidade suficiente que garantam à felicidade ou uma boa qualidade de vida emocional. Talvez, estejamos nos inspirando, mesmo que de forma inconsciente, na civilização criada por Aldous Huxley, em seu livro Admirável mundo novo, onde os governantes criaram o Soma, a pílula da felicidade. Basta uma pílula por dia e a felicidade é tanta que ninguém contesta o sistema. Quanto mais civilizado mais adestrado é o homem, e quanto menos civilizado mais se assemelha ele ao animal. Não  alcançamos o equilíbrio entre o animal e a socialização. E assim, a única solução encontrada por animais intelectuais para viverem juntos foi a civilização ditatorial, imposta a qualquer preço. Um conjunto de leis, regras, moral, etiqueta que doutrinaram e castraram o animal, esquecendo-se totalmente que esse animal intelectual também possui coração, sente dor e sofre. Quanto mais civilizados mais adestrados são os seres humanos, porque aprendem rapidamente a ocultar seu verdadeiro Eu. Tudo isso porque se esconder na noite é bem mais fácil do que andar erguido durante o dia. Em meio a isso, cada pessoa reivindica a sua singularidade, recusando-se a rótulos universais. E assim, falsamente, pensamos o individualismo como sendo o caminho para a liberdade, e, aliados ao adestramento, julgamos ter felicidade. No mundo da aparência e da opinião, até a libido é potencializada artificialmente, e com isso aumenta o consumo de remédios antidepressivos, drogas e bebida alcoólicas que dão, junto ao individualismo, a sensação de liberdade e consequente felicidade, não tendo com isso a "humana criatura" uma identidade oriunda da sua consciência, e do seu verdadeiro Eu. Nem se quer percebe que muitas vezes está sendo conduzido pelo inconsciente coletivo. Nem mesmo nos damos de conta que o remédio receitado para uma pessoa é o mesmo receitado para muitos e na mesma medida. E isso nos enquadra em um grupo de pessoas que possuem os mesmos sintomas. A contradição é que quanto mais nos tornamos individualistas, mais aumentam os grupos sociais como forma de afirmação e necessidade de ser aceito socialmente. Perdemo-nos em um labirinto entre o individualismo e a procura por aceitação social, mesmo que esta aceitação seja superficial e movida pela aparência. Eis o ser humano, um dualista que transita entre o egoísmo, fruto de seu individualismo, e a necessidade de aceitação em um grupo social. Esse dualismo dá origem a angústia e a algumas neuroses que, por falta de conhecimento de si mesmo e de sua dualidade, o homem procura o mais fácil, o Soma! Somos racionais sim, mas será que esta racionalidade é sinal de inteligência? Ou será que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa e estamos confundindo as coisas?

REPRESENTAÇÃO E CONHECIMENTO EM ARTHUR SCHOPENHAUER:







ELIANI GRACEZ NEDEL







REPRESENTAÇÃO E CONHECIMENTO EM ARTHUR SCHOPENHAUER: Influência dos Vedas, Kant e Platão















CANOAS, 2008


     
                                    
 



ELIANI GRACEZ NEDEL







REPRESENTAÇÃO E CONHECIMENTO EM ARTHUR SCHOPENHAUER: Influência dos Vedas, Kant e Platão







Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora do curso de Filosofia do UNILASALLE – Centro Universitário La Salle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Filosofia, sob orientação do Prof. Ms. Roberto Lauxen.















CANOAS, 2008

TERMO DE APROVAÇÃO



         ELIANI GRACEZ NEDEL




           
REPRESENTAÇÃO E CONHECIMENTO EM ARTHUR SCHOPENHAUER: Influência dos Vedas, Kant e Platão




Trabalho de conclusão apresentado a banca examinadora aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura m Filosofia do curso de Filosofia do Centro                          Universitário La Salle – UNILASALLE, pela seguinte banca avaliadora:




Prof. Dr. Luís Evandro Hinrichsen
UNILASALLE   



Prof. Ms. João Miguel Bach
UNILASALLE


Prof. Ms. Roberto Roque Lauxen
UNILASALLE      


Canoas, 26 de junho de 2008.
 



RESUMO

A presente monografia tematiza a teoria do conhecimento de Arthur Schopenhauer que compreende a primeira parte de sua obra principal O mundo como vontade e representação. Apresenta as condições que deram origem a esta compreensão, desde a elucidação biográfica até a herança deste pensamento com os Vedas, Kant e Platão. Apresenta a estrutura principal da teoria do conhecimento de Schopenhauer fundada sobre tais influências. 
Palavra chave: Representação. Entendimento. Razão.


ABSTRACT

The present monograph presents the theory of knowledge by Arthur Schopenhauer that is the first part of his main work THE WORLD AS WILL AND REPRESENTATION. It presents the conditions that had given origin to this understanding, since the biographical briefing until the inheritance of this thought with Vedas, Kant and Plato. It presents the main structure of the theory of knowledge by Schopenhauer established on such influences.
Key-Word: Representation. Understanding. Reason.

















 SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 07
2 ELEMENTOS HISTÓRICOS GESTORES DA TEORIA DO CONHECIMENTO DE ARTHUR SHOPENHAUER ............................................................................................... 09

2.1 A vida de Shopenhauer ................................................................................................... 09
2.2 O contexto do século XVIII: Revolução francesa, industrial, Iluminismo ................ 10
2.3 Os anos de estudo e as posições teóricas assumidas ..................................................... 12
2.4 Contra o idealismo Alemão e o materialismo ............................................................... 12 2.5 Contexto histórico e gestação de O mundo como vontade e representação ................. 14
2.6 A carreira universitária e a polêmica com Hegel sobre a intuição ............................. 16
2.7 A glória tardia ................................................................................................................. 17
3 TEORIA DO CONHECIMENTO DE SCHOPENHAUER: INFLUÊNCIAS ............ 19

3.1 Influências védicas .......................................................................................................... 19
3.2 A influência Kantiana ..................................................................................................... 26
3.2.1 O Idealismo transcendental de Kant .............................................................................. 26
3.2.2 Diferenças teóricas entre Kant e Schopenhauer  ............................................................ 28
3.2.3 A redução da ordem categorial de Kant em Schopenhauer ........................................... 30
3.2.4 A coisa-em-si e o fenômeno ........................................................................................... 32
3.3 A influência platônica ..................................................................................................... 34
4 O MUNDO COMO REPRESENTAÇÃO ....................................................................... 38
4.1 Sujeito e objeto ................................................................................................................ 40
4.2 Espaço e tempo ................................................................................................................ 42
4.3 Vida e sonho ..................................................................................................................... 44
4.4 O entendimento ............................................................................................................... 46
4.5 O conhecimento do corpo ............................................................................................... 47
4.6 Representações intuitivas e abstrata ............................................................................. 48
4.7 Crítica ao cientificismo ................................................................................................... 50
4.8 Crítica a filosofia ............................................................................................................. 52
4.9 O saber ............................................................................................................................. 53
4.10 Razão e conceito ............................................................................................................ 53
4.11 O conceito e o erro ........................................................................................................ 55
4.12 A consciência e a ciência ............................................................................................... 56
4.13 Razão Prática ................................................................................................................ 56
5 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 60





 






1 INTRODUÇÃO         
        
         Arthur Schopenhauer é autor de uma obra só, tal consideração é reconhecida por ele próprio ao nomear seus trabalhos posteriores de complementos ou em latim Parerga e paraliponema. O mundo como vontade e como representação é um tratado inteiro de filosofia que possui uma teoria do conhecimento, uma filosofia da natureza, uma estética e uma ética.
         Este trabalho de pesquisa pretende pesquisar um dos aspectos fundamentais da primeira parte do livro O mundo como vontade e como representação de Schopenhauer,  onde se encontra a teoria do conhecimento representativo do autor, que traz a luz da reflexão filosófica sua teoria do conhecimento. Uma investigação para estabelecer como se formam as representações e como acontece a construção do objeto no intelecto do sujeito.  Um empreendimento investigativo realizado no livro O mundo como vontade e como representação, na vida de Schopenhauer e em seus pressupostos.
         O título da obra de Schopenhauer sugere duas formas de compreensão da realidade ou do mundo, uma forma é a representação individual, a outra forma é da vontade. Esta apresentação pode ser remetida a Kant quando ele separa o mundo fenomênico e o mundo em-si, no caso de Schopenhauer, o mundo da representação e o mundo da vontade.
         O mundo como representação é organizado segundo o princípio de razão e obedece a uma certa ordem teórica e categorial sob a qual haverá um embate nesta pesquisa. Deixando de lado, portanto, as considerações sobre o mundo em si ou as considerações metafísicas que percorrem os demais temas da obra.
         A partir desta delimitação segue-se, em primeiro lugar, uma abordagem apresentando a biografia e as influências teóricas que o autor sofreu. Este abordagem compreende os capítulos dois e três desta pesquisa e segue, sobretudo, o método histórico de abordagem.
         No capítulo dois consta a biografia de Schopenhauer com alguns elementos históricos que deram origem à construção do seu pensamento .
         No capítulo três se faz uma análise de alguns dos pressupostos teóricos da teoria do conhecimento de Schopenhauer. Estes pressupostos podem ser reunidos em três grupos de influências que serão analisados separadamente, embora eles se inter-relacionem entre si: os Vedas, Kant e Platão. É claro que outras influências poderiam ser apontadas, mas serão levadas em consideração apenas as principais, embora se dedique, mais pausadamente e com maior cuidado, à influência kantiana onde se procura ao mesmo tempo apresentar alguns elementos teóricos do idealismo transcendental de Kant, comparando-o com a filosofia de Schopenhauer.
         Em um segundo passo tem início a argumentação do autor a partir de um enfrentamento interno abordando a ordem categorial e sistemática da teoria do conhecimento representativo de Schopenhauer. Este quarto capítulo é central em nossa análise, trata-se de um trabalho conceitual dentro do método dialético. Uma abordagem do mundo fenomênico que se manifesta no tempo, espaço e causalidade, ou seja, o mundo dos objetos de experiência para um sujeito que os representa.
        
        
        




 







2 ELEMENTOS HISTÓRICOS GESTORES DA TEORIA DO CONHECIMENTO DE ARTHUR SHOPENHAUER

Na seqüência serão apresentados alguns fundamentos históricos da teoria do conhecimento representativo de Schopenhauer. O presente capítulo, sobre a vida de Schopenhauer, aponta para alguns elementos históricos gestores de suas posições teóricas assumidas na exposição de sua obra. São referencias apenas os pressupostos históricos de sua teoria do conhecimento, embora em certos momentos não se possa fazer um recorte tão estridente.    

2.1 A vida de Schopenhauer

O escritor de Memória sobre a liberdade da vontade Humana, A  Metafísica como representação, Metafísica do amor, A morte, A arte, O homem e a  sociedade, A quádrupla raiz do princípio de razão suficiente, Parerga e Paralipomena, Os dois problemas da ética, e outros tantos livros. Mas foi  com O mundo como vontade e como representação, obra que Schopenhauer terminou de escrever aos trinta anos de idade, que ele ficou conhecido.
Primogênito de família ilustre, Schopenhauer veio ao mundo em 22 de fevereiro de 1788 na cidade de Dantzig.[1] Nasceu sobre o signo da revolução francesa e industrial. Seu pai, Heinrich Floris Schopenhauer,[2] um comerciante rico, queria fazer do filho seu sucessor nos negócios. Aos 15 anos de idade Schopenhauer ganha, do pai, uma viagem pela Europa: Alemanha, França, Holanda, Suíça, Itália, Áustria e Inglaterra, em troca da viagem Schopenhauer em seu retorno se dedicaria ao comércio, como era de vontade de seu pai.
Durante a viagem, Schopenhauer conheceu montes altos onde pode contemplar a vastidão dos rios, vales e povoados. A contemplação passa a ser sua marca registrada para o resto de sua vida, onde o interior do observador se confunde com o exterior, num só sentimento de felicidade, liberdade e comunhão com o divino.[3]
 Com a morte do pai, sua mãe, Johanna Henriette Trosina,[4] romancista, rapidamente vende a empresa dos Schopenhauer e se muda para Weimar onde funda um salão literário freqüentado por Goethe. Schopenhauer estava então com dezesseis anos, mas sua mãe e ele jamais se deram bem, trocaram cartas ásperas e cheias de ofensas.
Na velhice veio o reconhecimento pela sua obra, e a morte lhe foi tranqüila. Morreu na companhia de seu cachorro a quem ele chamava de Atma.[5] Em sua sala havia uma estatueta de Buda e outra de Kant.

2.2 O contexto do século XVIII: Revolução francesa, industrial, Iluminismo

          Arthur Schopenhauer veio ao mundo em uma época em que a Alemanha era um aglomerado de pequenos estados independentes. Schopenhauer nasceu junto com a luta pela unificação da Alemanha.[6]
          No século XVIII o regime político absolutista entra em decadência. Com a atividade principal voltada para o comércio surge a burguesia composta principalmente por mercadores. Esta nova classe social entra em choque com a nobreza da época que se caracterizava por um poder ilimitado, centralização administrativa e uma economia voltada para o acúmulo de recursos mercantis. Heinrich Floris, comerciante, pai de Schopenhauer, pertencia a essa nova classe social que organizava duas revoluções: francesa e industrial.[7]
          Em toda a Europa o ideal econômico burguês aconteceu com ascensão ao poder de Napoleão Bonaparte, que após um golpe de estado incorporou o ideal da burguesia. Foram anos de conflitos e sofrimento por todos os lados. Nesta época, surge também  a classe operária reivindicando seus direitos. Embora o cenário tenha sido desolador, Schopenhauer jamais aceitou que a origem de seu pensamento tenha relação com o sofrimento circunstancial daquela época.
          Para Schopenhauer a filosofia é metafísica, porque vai além da física, não tendo nada a ver com historicidade.[8] Embora Hegel, seu contemporâneo, afirmasse justamente o contrário. Para Hegel a filosofia é filha de seu tempo.
          Somente no final do século XVIII consolidou-se a revolução industrial contemporânea à revolução francesa.  Com a revolução industrial surgiram fábricas nos grandes centros urbanos. Assim a burguesia instala seu meio de produção, empregando operários que recebiam salário mínimo, por um turno de até dezesseis horas. O século XVIII foi o berço de uma nova era. Com o emprego de mão-de-obra barata, surgem ferrovias e locomotivas a vapor, soma-se a isso a descoberta de novas teorias atômicas.  A deteriorização da qualidade de vida é causa de problemas existenciais, resultando em reflexões filosóficas no campo social, a exemplo disso surge Karl Marx.[9]
          Uma das características do século XVIII, herdeiro do iluminismo, foi o esclarecimento  dos homens em vários aspectos. Os teóricos do iluminismo colocavam na razão a tarefa de iluminar o espírito dos homens e livrá-los da ignorância deixada pela tradição escolástica que os antecedeu. O iluminista depositava na razão toda sua fé, visto que ela é comum a todos os seres humanos. A razão, segundo Kant (1724-1804) era empírica e racionalista ao mesmo tempo, pois nunca se pode ir além da experiência possível, portanto o limite é o mundo empírico.[10]
          Os iluministas voltavam seu olhar para a ciência. A física de Newton recebia consagração e sua obra veneração. Schopenhauer por um lado aceitara a crítica à superstição e à ignorância da tradição, por outro lado denunciara a fé irrestrita para com a razão, a ciência e a história.[11] Para ele o mundo é cópia  de um universo originário, portanto a história não pode ser vista como ordenadora dos fatos, não pode ser confundida com ciência. Quanto à razão, ela é simples conseqüência da intuição. A razão necessita de dados empíricos, como poderia então ser ela o ponto principal da conduta humana? A ciência guiada somente pela razão não é metafísica, deixando o homem sem respostas para os grandes enigmas. [12]




2.3 Os anos de estudo e as posições teóricas assumidas
Com o tempo Schopenhauer se instala como quem se acomoda para passar muito tempo em um só lugar. Busca abrigo em um lugar sossegado e adquiri objetos que irão lhe acompanhar por toda sua existência: obras de Platão e Kant, um busto de Sócrates e o retrato de Goethe. Nessa época Schopenhauer adquire um cão e deu a ele o nome de Atman, este cão o acompanhou até a sua morte com 72 anos de idade, sobrevivendo ao próprio dono. O cachorro Atman, ao morrer, era substituído por um novo cachorro que sempre recebia o mesmo nome e as mesmas regalias de seu dono.[13] Schopenhauer, com esse gesto, caracteriza um eterno retorno da alma do mundo, Atman.

2.4 Contra o idealismo Alemão e o materialismo

            De  1811  a  1813,  então  com  23  e  25   anos   de   idade,  Schopenhauer   estuda   na
Universidade de Berlim, lá freqüenta os cursos de Fichte, pensando encontrar solidificação para a visão de mundo. Decepcionado nega o idealismo de Fichte.
          Fichte procurava um princípio unificador das três críticas de Kant, que fosse ao mesmo tempo um princípio a partir do qual toda a realidade pudesse ser explicada. A novidade de Fichte foi ter transformado o Eu penso kantiano em Eu puro, entendido por ele como intuição pura que se auto-cria, criando assim toda a realidade; na essência desse Eu está a liberdade. Ao colocar o Eu como princípio primeiro e absoluto, e dele deduzir toda a realidade, Fichte cria o idealismo Alemão a partir de um Eu que cria a si mesmo. Não havendo, nesse sentido, identidade entre o sujeito e o objeto. Existindo tão somente ligação lógica pelo Eu que pensa sua própria lógica indo além de si e com isso criando a si mesmo, nesse caso, o objeto é uma idealização do sujeito. Schopenhauer via nessa doutrina um dogmatismo que despreza a coisa-em-si kantiana, partindo de um Eu absoluto para construir o objeto que é, nesse caso, um Não-Eu.[14]
          Schopenhauer via nessa teoria um idealismo que nega a coisa-em-si de Kant. A natureza exterior da qual o idealismo de Fichte está assentado, precisa, em primeiro lugar, ser deduzido do Eu absoluto, isto é deduzir o não-Eu do Eu, e não da coisa-em-si. Assim desaparece a essência do mundo. Fichte com isso, segundo Schopenhauer, despreza a maior descoberta filosófica, a coisa-em-si.[15] Para Schopenhauer sujeito e objeto possuem existência um para o outro, ambos são inseparáveis para a representação, um só tem existência com a outra metade. A representação não pode ser separada do objeto visto que elas são uma coisa só.[16]
          Schopenhauer também nega o materialismo por considerar a representação um efeito do objeto. Do sistema materialista partiram Tales e os jônicos, Demócrito, Epicuro, Giordano Bruno entre outros tantos. Este sistema não leva em consideração a relação do sujeito com o objeto, nem mesmo pensa o fato de que as coisas só têm existência para o sujeito. Por não dar importância ao sujeito, também desconsidera o entendimento e a lei de causalidade. E assim tenta encontrar o mais simples estado da matéria e dele desenvolver todo um sistema. Esse absurdo fundamental consiste em explicar a matéria a partir da objetivação de um princípio último. A matéria aqui é pensada como algo existente em si, independente da existência ou não do sujeito.[17]
          Portanto, a ciência da natureza é tão somente um materialismo levado ao extremo. Schopenhauer considera tanto o idealismo quanto o materialismo, teorias errôneas. Para corrigir esse erro ele parte do conhecimento representativo que implica, simultaneamente, sujeito e objeto. Ao pensar no objeto, necessariamente se está pensando no sujeito. Não é possível pensar em um sem pensar no outro; pois os dois conceitos estão ligados analiticamente. O conhecimento assim se acontece com a relação do sujeito que conhece, com suas categoria do conhecimento, e o objeto a ser conhecido pelo sujeito. Ser-objeto é ser conhecido por um sujeito. Ser-sujeito é conhecer o objeto.[18]

2.5 Contexto histórico e gestação de O mundo como vontade e como representação

          O jovem Arthur em 1813, por causa da guerra dos prussianos contra os franceses, foge para Berlin. Hospeda-se em um hotel em Rudolstadt, nos arredores de Weimar. Ali escreve sua tese de doutorado: Sobre a quádrupla raiz do princípio de razão suficiente. Contendo os princípios de sua teoria do conhecimento. Uma tentativa em compreender o desempenho dos sentidos e do intelecto e sua relação com a realidade.
          Em Rudolstadt não redige tão somente sua tese de doutorado, mas também sua filosofia com pressupostos baseados na tradição dos antigos, em Kant, e por anotações feitas em sua viagem pela Europa. A filosofia Schopenhauriana faz um exame quase anatômico dos sentidos.
          Em 1814 Schopenhauer se instala em Dresde. Havia antes disso passado um tempo em Weimar, onde conviveu com literatos, e um tempo em Berlim. Dresde é a cidade das artes. “Os cultivadores do belo ali se iniciam ou se aperfeiçoam na pintura, na música e na escultura.”[19]
Dresde possui uma das mais ricas bibliotecas do país, e Schopenhauer passa ali boa parte do seu tempo estudando velhos livros indianos. Está no apogeu de sua atividade intelectual. Escreve O Mundo como vontade e como representação e descreve o homem como escravo do desejo.
Nos dias e nas horas em que os impulsos sexuais são mais fortes, chegando às raias da volúpia ardente, também as forças do espírito atingem seu máximo potencial ... Resta-nos não permitir que o objeto de nosso prazer se assenhoreie da consciência ... Precisamos reagir, canalizar essas energias para as vias superiores da atividade espiritual intensa e consciente. Tal é o primado da luz. E não permitir que enveredem pelo caminho da volúpia torturante, escravizante, desesperadora: o primado das trevas...[20]
        
Um mês após sua chegada a Dresde, Schopenhauer começa a reunir material e apontamentos que, a princípio, parecem sem nexo. Somente em 1817 é que ele começa a dar forma a sua obra, ordenando as idéias. Estava então no apogeu de suas forças, revelações lhe vinham por todos os lados, fazendo brotar em seu cérebro uma série de idéias. Uma obra assim só poderia surgir no vigor da mocidade e com inspiração superior. Em 1818, Schopenhauer inclui seu doutoramento em O mundo como vontade e como representação. Obra essa que é composta por quatro livros. O primeiro, sobre a teoria do conhecimento. O segundo, sobre filosofia da natureza. O terceiro, sobre filosofia da arte. O quarto, sobre moralidade. Esse foi um período febril.
Schopenhauer faz jus a fama de louco, certa vez em uma flora da cidade, ele perguntou as plantas qual seria o motivo de tantas cores e diversidade. “Que me dizem esses vegetais com suas conformações esquisitas? Qual será a essência íntima, e qual a vontade que se manifesta nessas folhas e nessas flores?!”[21] Fazia a pergunta para os vegetais em voz alta.
Schopenhauer termina O mundo como vontade e como representação antes de completar trinta anos. O próprio Schopenhauer dizia ser essa a obra de uma vida inteira, pois não acreditava produzir no futuro algo melhor. Sua obra é um novo sistema filosófico, um sistema de idéias coerentes. Schopenhauer dizia:
Em sua essência, as idéias que compõem já estavam em minha cabeça há quatro anos. Durante esse período, não fiz outra coisa senão elaborar meu sistema e consultar obras que lhe diziam respeito. Mas não foi senão de um ano para cá que comecei a redação definitiva, seguida e compreensível a todos...[22]

             O mundo como vontade e como representação, possui um estilo próprio, isto significa  dizer que seu autor é dono de idéias próprias. O livro tem uma abordagem que leva a compreensão da  contemporaneidade, pois a sexualidade é, para Schopenhauer, o elemento que define o homem, esse pensamento tem repercussão em Freud. A arte como sendo o espaço privilegiado da verdade, influenciará inúmeros artistas. A noção de vontade dará seguimento ao pensamento de Nietzsche. A paixão como fundamento  da moral e inspiradora de   Horkheimer,   membro   da   escola   de   Frankfurt.[23]   O  mundo  como  vontade  e  como
representação, a princípio teve uma tiragem de oitocentos exemplares.[24]

2.6 A carreira universitária e a polêmica com Hegel sobre a intuição

          Em 1819, aos 31 anos de idade, Schopenhauer  tenta a carreira universitária em Berlim. No entanto, fracassa por não possuir alunos. Suas aulas eram ministradas no mesmo horário das aulas de Hegel ― famoso desde aquela época.
          O ponto de partida de Hegel é a história, pois é na história que o espírito humano atinge a auto-realização, e o devir traz consigo a verdade e o essencial para o “gênero humano”.[25] Segundo Hegel, “o grande conteúdo da história do mundo é racional, e deve ser racional.”[26] Alem disso, a moralidade hegeliana do indivíduo se dá no cumprimento do dever, de acordo com a posição social ocupada pelo indivíduo. Hegel acreditava que tudo o que o homem é, ele deve ao Estado, pois dentro dele está o seu ser.
          Schopenhauer contra-ataca Hegel em sua obra Parerga e paralipomena, dizendo que esse ponto de vista eleva os apreciadores do Estado. Schopenhauer os chamava de burguesia de espírito vulgar, sem necessidades espirituais, que possuem como fim supremo o Estado. [27]
            Outro ponto em que os dois filósofos discordaram, é sobre a intuição. Segundo Hegel, existe no saber uma certeza imediata, portanto intuitiva, que afasta do sujeito o conceito, trata-se de uma pobreza para a sabedoria verdadeira, pois o imediato não contém a consciência, apenas o ser da coisa. Eu sou apenas o este, e a coisa, nesse caso, é um isto, não havendo a compreensão do que a coisa é, portanto, ausência de consciência e de relação em si e para com o outro. Nesse caso, não se estabelece uma relação verdadeira entre o Eu e A Coisa. Em Hegel, a mediação está na relação um para com o outro, em outro momento, a relação se dá onde um é para o outro, o eu que sabe do objeto e que está ai para ele. É necessário então saber se o objeto é verdadeiro, se é ele a essência que lhe foi atribuída. Para avaliar  essa essência é preciso rever o conceito a ela atribuído, essa proposta tem sua viabilidade através da Fenomenologia onde o espírito perpassa a história desse objeto para verificar a veracidade de sua essência. Não se deve questionar o objeto, mas sim a certeza sensível que se tem nele,  a certeza de um saber que afasta o seu conceito.[28] A fenomenologia faz um movimento ingênuo com a consciência em direção do saber absoluto, pois há no pensamento que subjaz tanto na consciência quanto no objeto algo de universal, desfazendo assim a estrutura tradicional de um sujeito que está frente ao objeto.
Schopenhauer nega a possibilidade de um conhecimento que tenha por objeto a história. Para ele o conhecimento acontece pela intuição, no momento atual e na vida experienciada. Afirmar a história é o mesmo que negar todo o conhecimento intuitivo que só pode acontecer no presente. Hegel  e Schopenhauer discordam quanto à intuição, para Hegel há no saber imediato (intuitivo) uma ausência de consciência, uma pobreza de conceito. Hegel demonstra que todo ser é relacional, portanto racional, e a intuição aceita verdades que não demonstram essas relações para a comprovação de suas verdades. Mas, para Schopenhauer, existe na intuição um saber que está compreendido na própria essência do todo condicionado ao sujeito que representa o mundo.
            Schopenhauer desiste da carreira universitária em 1822, com 34 anos de idade, e vai para a Itália descansar. Queria se livrar dos aborrecimentos, consolando-se com as obras de arte e com as paisagens daquele lugar. Ao retornar, um ano após, deprime-se com a decadência da carreira universitária. Reinava na filosofia acadêmica Hegel, a quem ele considerava um farsante.[29]

2.7 A glória tardia

Schopenhauer queria a consagração pública. Sentia-se elevado a um lugar que jamais poderia imaginar, mas tudo que recebeu da vida foi a solidão. Queria conhecer uma criatura humana, no entanto, sua vontade se mostrou inútil, continuava a se sentir só. Schopenhauer jamais repeliu alguém, não fugiu de pessoa de bom coração e digna de ser humana, apenas não encontrou tal criatura. Tudo o que ele encontrou pela vida foram miseráveis de mentalidade baixa, com exceção de Goethe. Schopenhauer percebeu a diferença que existia entre ele próprio e os demais homens. Contentava-se em ser uma exceção em meio a uma natureza precária que institui os homens. Aprendeu a suportar com paciência a solidão que somente os reis possuem.[30]
O reconhecimento pela obra de Schopenhauer, vem quando ele escreve o Ensaio sobre a liberdade da vontade, em 1821. Nesta ocasião recebe uma premiação concedida pela Real Sociedade de Ciências da Noruega. A glória chega aos 63 anos de idade. Quando alcança a fama está morando em Frankfurt, e é importunado pelos turistas desejosos em conhecer o filósofo das dores do mundo. Schopenhauer tocava flauta doce todos os dias após as refeições,  reverenciava Mozart, Rafael, Goethe e Kant.
No final da vida recusou a proposta de ingressar na academia de Ciências de Berlim, disse que teria vivido bem até então sem esta honraria, não seria agora que precisaria dela. Morreu  aos 21 de setembro de 1860 com semblante tranqüilo.[31]
         Schopenhauer morreu deixando à posteridade um legado filosófico que influenciou Nietzsche, Freud, Thomas Mann e outros tantos. A representação que Schopenhauer fez do mundo demonstra que foi pela ótica do indivíduo que ele construiu sua teoria do conhecimento. Sua filosofia resulta de uma intuição de mundo ancorada nos conceito de Platão, Kant e dos Vedas.           




 






3 TEORIA DO CONHECIMENTO DE SCHOPENHAUER: INFLUÊNCIAS

         A proposta deste capítulo é a de analisar alguns pressupostos teóricos da teoria do conhecimento do autor. Estes pressupostos podem ser reunidos em três grupos de influências que serão analisados separadamente, embora eles se inter-relacionem entre si: os Vedas, Platão e Kant. É claro que outras influências poderiam ser apontadas aqui, no entanto, este trabalho visa tão somente as influências consideradas de maior relevância para a teoria do conhecimento representativo.

3.1 Influências védicas     

         Na seqüência serão apresentados alguns elementos históricos e teóricos da perspectiva indiana, baseada nos Veda e nos livros inspirados pelos Vedas chamados de vedanta, que tem por fio condutor o mundo fenomênico e sua causa. Com isso será possível compreender melhor a origem da teoria do conhecimento representativo de Artur Schopenhauer.
         O mundo exterior se apresenta à Schopenhauer, somente como representação. Mas há um ponto, onde os impulsos agem, onde o desejo e o prazer se mostram como algo real nas ações dos corpos humanos, esse ponto se presta à reflexão. Somente no homem existe essa dupla reflexão: mundo interior e mundo exterior. Há no mundo exterior um interior que é acessível pela representação de um sujeito. [32]
         Com este pensamento, Schopenhauer desde de 1814 estuda os Upanixades, lê com regularidade os artigos do Asiatischen Magazin, procurando saber tudo sobre a Índia. Os Upanixades chamam de Maya ao devir e as mais variadas formas de vida. Schopenhauer escreve em 1814:
El ser humano... es presa de la ilusión y esta ilusión es tan real como a vida,  como el miesmo mundo de los sentidos, posto que és uma sola cosa com el (La Maya de los hindúes): todos nuestros deseos y pasiones se fundam em ella y son a sua vez expresión de la vida, Del miesmo modo que la vida es expresión de la ilusion.[33]

Não existe um consenso entre os historiadores, sobre a origem dos Vedas. A maioria dos comentadores se limita a dizer que se trata de uma sabedoria muito antiga, outros nem mesmo falam de sua origem.[34] Os que propõem alguma data estabelecem para os Brahmanas,[35] no início de 600 a.C., e os Upanixade 800-300 a.C.[36] Todos esses saberes formam uma famosa coletânea composta de textos místicos e esotéricos conhecidos como vedanta. No entanto, os elementos dessa visão, estão dispersos nas diferentes partes da literatura védica, por isso foi preciso ampliar o estudo com obras que foram escritas inspiradas pelos Vedas, nesse caso vedanta, visto que os próprios Vedas, são hinários e ensinamentos sobre rituais. [37]
Os brâmanes, antecessores ao budismo, se preocupavam em solucionar o problema da existência humana, em seus fundamentos podem ser encontrados sacrifícios, rituais e oferendas aos deuses. Assim como os deuses Gregos, os deuses védicos[38] também influenciam nos assuntos humanos. Indra é um deus guerreiro; Brahma representa o universo, o verbo, com ele Atma a alma individual tenta se harmonizar.[39] A história dos vedas inicia relatando uma briga entre os deuses e a raça Ariana.[40] Os deuses venceram a luta, mas Arjuna, tendo Deus a seu lado, apiedou-se dos Arianos, mesmo tendo eles a seu lado a cobiça.
Os Upanixades servem de base para um dos seis sistemas rígidos do pensamento hindu, neles estão contidos conceitos básicos sobre o certo e o errado, e sobre o destino humano. Os Upanixades trazem a noção de Brahma ― o Princípio Supremo e fundamento do Universo. O impulso mantenedor desta ordem é o Karma de cada homem.[41] O Karma é conseqüência dos atos, dos pensamentos, de palavras proferidas por cada indivíduo e  sentimentos experienciados em existências passadas. Existe a idéia de que todas as ações de vidas anteriores têm conseqüência para a existência atual, uma relação de causa e efeito que tem por resultado o Karma ou causalidade. No presente o homem colhe aquilo que semeou no passado, sendo somente o homem responsável pela sua existência e não o divino. Nesse contexto, são explicadas as diferenças entre as pessoas, cada indivíduo é o resultado de várias existências, interligando dharma (código de conduta) e karma (ação, pensamento e sentimento).[42] O homem védico possui livre-arbítrio em sua existência atual, lançando as bases para melhorar a existência futura. Nos Vedas e Puranas, as pessoas são influenciadas por Maia, à Ilusão, o mundo da aparência é inconstante e inessencial destituído de ser, comparável a ilusão e ao sonho, exercendo efeito mágico sobre as pessoas, um véu que envolve a consciência humana. Algo que é igualmente falso e igualmente verdadeiro. E assim o Homem védico fundamenta suas afirmações a partir de uma intuição geral de mundo exposta pela consciência de forma mítica e poética.
O Bhagavad-Gîtâ é um conjunto harmonioso da doutrina Pantanjali, Kapila e Vedas.[43] Ele inicia com o relato de uma guerra liderada por Arjuna, exatamente como nos Vedas. Nessa guerra, Arjuna tem que lutar contra seus próprios parentes, mais do que isso, ele tem que lutar contra o egoísmo de seus parentes, seus prazeres e de suas paixões. O egoísmo, os prazeres e as paixões formam o exército de ilusões. A tarefa de Arjuna é a de vencê-los para chegar ao conhecimento de sua verdadeira essência divina. No entanto, muitas dessas ilusões se tornaram agradáveis, por isso, vencer a luta, tornou-se tarefa difícil de ser realizada.[44] Na batalha, Arjuna se encontra rodeado de ilusões que pertencem a sua natureza inferior.
O livro Bhagavad-Gîtâ começa com o que parece ser uma luta entre povos, no entanto, aos poucos, é possível perceber que Arjuna luta contra sua própria ilusão.[45] O Eu superior luta contra a ilusão do Eu inferior, luta contra as formas existentes no mundo fenomênico em contraste com o Ser eterno.[46] Nessa obra, os sentidos estão relacionados a certas faculdades mentais, assim é possível sentir calor, frio, prazer e dor. Estes sentidos vão e vêm por pertencerem ao tempo. Mas o homem que não se atormenta por estas coisas e se mantém inabalável no meio do prazer e da dor, conservando seu ânimo, esse entrou no caminho da imortalidade.
Existem dois caminhos para atingir a imortalidade, um é o caminho do conhecimento, o outro é o da ação. Porém, do “alto”, ambos são um só caminho. Quem pensa escapar da ação, permanecendo na inatividade, não encontra a paz eterna. “Quem nada começa, não pode entrar no estado da Paz Eterna; a inatividade não conduz a perfeição.”[47]
A ação é geradora da lei de causa e efeito. A ação tanto pode dar início à perfeição de uma pessoa, como levá-la ao sofrimento em sua próxima existência. A vida atual sofre influência da vida passada. Assim as leis de causa, efeito e causalidade, em todo o vedismo, estão presentes no mesmo sentido em que Schopenhauer  as descreve. Para ele a essência da matéria  é fazer efeito, o tempo passado influencia o momento presente, e o presente influencia o futuro, portanto, a causa do presente está no tempo passado. A ação é tratada por Schopenhauer em sua tese de doutorado, Sobre a quádrupla raiz do princípio de razão suficiente chamado de princípio de atuar, onde se estabelece a razão das ações e das decisões que conduzem a uma determinada ação. A ação, tanto para Schopenhauer quanto para o hinduísmo é causalidade. Também é possível encontrar presentes no hinduismo outros dois princípios de razão Schopenhauerianos: o princípio do devir ou da causalidade, e o princípio de razão de ser. Nesse último se fundamenta toda a matéria e sua relação entre si. Com esses princípios Schopenhauer justifica todos os fenômenos, porque segundo ele, tudo tem uma razão de ser. Esses três princípios de razão, nos Vedas estão sintetizados na lei de Karma e Darma. Quanto ao princípio de conhecer, contemplado por Schopenhauer, os Vedas apenas o pressupõe, ou seja, o conhecimento é algo que subjaz ao texto, pois, se é possível conhecer a causa a partir de seu efeito, então, quais são as leis do conhecimento, como esse conhecimento é possível? No entanto, como ele não é tratado objetivamente nos livros do hinduísmo, levando em consideração que em Schopenhauer esse princípio trata de juízos que tornam possíveis a verdade de qualquer conclusão, referido princípio de razão ficou a margem desse trabalho. Outra semelhança de pensamento entre o hinduísmo e Schopenhauer, é quanto ao Ser superior que Schopenhauer nomeou de Sujeito. “Aquele que tudo conhece mas não é conhecido por ninguém é o sujeito”.[48] Para o hinduísmo, o Ser ou Eu superior, é aquele que tudo conhece mas não é conhecido por ninguém.  
Mas de todos os seres, passados presentes ou futuros, nenhum Me conhece plenamente. Eu os tenho todos em minha mente, mas as suas mentes não podem conter-Me em minha essência.[49]
Os que em Mim se refugiam e a mim pertencem, repousando em Mim como a criança no seio da mãe, esforçam-se por se libertar dos vínculos da mortalidade e reconhecer-Me como Brama, como o EU Real, o infinito, O Eterno, o Absoluto. Eles sabem que eu sou Adhyâtman (a alma das almas),  Karma (a lei da causalidade), Adhibhûta (Princípio universal da vida), Adhidaiva (Deus dos Deuses, a Deidade suprema) e Adhiyajña (o Supremo sacrifício). Quem assim Me conhece, e com o coração cheio de amor e com a mente firme em Mim pensa, na hora da morte comigo se unirá para sempre.[50]

Schopenhauer diz ser o homem um microcosmo análogo a um grande organismo. No Bhadavad-Gîtâ está escrito: “este universo de matéria é a minha matriz, em que ponho o germe de que provêm todos os seres”.[51] Também é bom salientar, embora claro já esteja, que tanto para Schopenhauer quanto para o hinduísmo existem dois mundos, um é sensível, instável e fenomênico, o outro é um mundo inteligível, sendo ele a causa do mundo sensível. Semelhante doutrina pode ser encontrada em Platão.
O pensamento védico encontra seu eco no budismo, e a idéia de uma morte seguida de nascimento (doutrina da reencarnação), aparece no budismo como conseqüência dos vedas. Essa doutrina recebe o nome, no budismo, de doutrina do Samsara, uma espécie de migração circular sem fim.[52] O renascimento pode acontecer em um corpo animal ou humano, nas mais variadas condições sociais e de acordo com os méritos dos atos passados.
A doutrina de Buda[53] parte do princípio da extirpação das causas do sofrimento que estão em todos os seres humanos. A libertação resulta de uma compreensão sobre a experiência de vida de cada indivíduo, pois é com a experiência que se conhece o Eu ou o Ego.
Em sua segunda pregação, Buda mostra as três características de toda a realidade fora do Nirvana: “ela é instável, por isso sofredora, e ainda por isso representa o não-eu, o não-meu. Se fosse algo meu, estaria sobre o meu poder, por isso livre da dor (eu  a evitaria), e ainda por isso estável, pois a instabilidade é que gera a dor da privação.”[54]
             Certa vez, quando Buda se dirigia para Benares, encontrou um homem que viajara com sua amante, mas no meio da viajem ela fugiu levando seus pertences, e por isso todos a procuravam. Perguntou então a Buda se ele a encontrara. Buda respondeu: ― Farias melhor procurando o ego em vez da mulher ― o homem se fez discípulo de Buda. Na doutrina de Buda é importante a renúncia de si mesmo e aniquilar o egoísmo pela supremacia de um Eu superior.
            Buda continuou caminhando acompanhado de mil discípulos, pregou a reis, bramares e chefes de família sobre a “Lei eterna”.[55] Falou que tudo aquilo que tem um início, também terá um fim. “De tudo que teve uma origem causal, aquele que achou a verdade mostrou a causa; e de todas estas coisas, o grande asceta igualmente explicou a cessação”.[56] Tudo está implicado nessa proposição, sendo ela um resumo de toda doutrina budista, pois nela está contido a compreensão e a retirada das causas do devir, do desaparecimento do desejo, do ressentimento e da ilusão. 
            O homem egoísta de Buda em Schopenhauer representa o mundo. O egoísta diz isto é meu, minha propriedade, meus filhos, minha mulher, minha casa etc, o mundo do “meu” é o mundo do egoísta. “O mundo é minha representação”,[57] diz Schopenhauer.
            Em Buda a pluralidade acontece pela multiplicidade de desejos do ego que os homens carregam pela vida, em Schopenhauer a pluralidade toma sua forma pela efetivação da vontade egoísta em vários níveis da natureza. Para Buda o homem não é um homem superior, mas sim um conjunto de egos inferiores com um Eu superior; o homem Schopenhauriano é uma representação do sujeito e não coisa-em-si.
            Tanto Schopenhauer quanto Buda partem do mal para edificar seu pensamento, ambos falam de algo que está para além da pluralidade, um Eu superior, um sujeito, uma coisa-em-si. Dois homens compartilhando o mesmo ponto de vista, o do mal. O pensamento existencial de Schopenhauer fez dele um budista contemporâneo, nascido na Alemanha.[58]
         Schopenhauer fala de um ponto de vista védico oriundo do budismo, dos Vedas, Puranas, e, segundo Barbosa, do Taoísmo. [59]
― Se, no entanto, o leitor já freqüentou a escola do divino Platão, estará ainda mais preparado e receptivo para me ouvir. Mas se, além disso, iniciou-se no pensamento dos Vedas (cujo acesso permitido pelo Upanixade, aos meus olhos, é a grande vantagem que este século ainda jovem tem a mostrar aos anteriores, pois penso que a influência da literatura sânscrita não será menos importante que o renascimento da literatura grega no século XV), se recebeu e assimilou o espírito da milenar sabedoria indiana, então estará preparado da melhor maneira possível para ouvir o que tenho a dizer. Gostaria até de afirmar, caso não soe muito orgulho, que cada aforismo isolado e disperso que constituem o Upanixade pode ser deduzido como conseqüência do pensamento comunicado por mim, embora este, inversamente, não esteja lá de modo algum já contido.[60]

Os Upanixadse fazem parte dos livros sagrados da sabedoria védica, eles datam de VIII-IV a.C.[61] Neles encontra-se a doutrina de que por trás dos acontecimentos da vida, conforme a experienciamos pelos sentidos, existe uma realidade ulterior e verdadeira, associada ao tempo, espaço e causalidade, essa realidade é inalterável, eterna e imortal. Seu nome é Brahma ou Atma.
Schopenhauer insiste que seu pensamento será melhor compreendido se o leitor tiver conhecimento do hinduismo e da escola do divino “Platão”.[62] Do induismo Schopenhauer assimilou os dois mundos, um visível ao sensível, outro real e invisível.[63] Ele também assimilou da sabedoria oriental a relação causal que existe entre os dois mundos: o mundo invisível é a causa do mundo sensível.
O mundo está envolto no véu da representação, o mundo que aparece é uma ilusão. A filosofia Schopenhauriana, após denunciar a ilusão do mundo submetido a incontáveis mudanças, aponta a imortalidade da essência intima do mundo, a vontade. Demonstra o erro em se pensar na morte como um mal; a morte não é o fim, ela é apenas o desaparecimento do fenômeno corporal.
A filosofia de Schopenhauer é um eco do budismo que contém os ensinamentos do Buda Siddharta Gottama, nascido na Ásia central. Os dois sábios, Buda e Schopenhauer, consideravam a vida uma jornada de dores. O sofrimento é resultado dos desejos incessantes. Para que estes desejos cessem se faz necessário renunciar a satisfação com os prazeres da vida, assim se atinge o Nirvana, pela negação da vontade.

3.2 A Influência Kantiana

Serão apresentados na seqüência, alguns elementos teóricos do idealismo transcendental de Kant, para em seguida comparar esta filosofia com a teoria do conhecimento representativo de Schopenhauer. Demonstrar assim as influências desta filosofia de Kant em relação a Schopenhauer. Posteriormente se fará uma dissertação de como se processa a redução realizada por Schopenhauer da ordem categorial kantiana das doze categorias para apenas uma em Schopenhauer. 

3.2.1 O idealismo transcendental em Kant

         O conhecimento, até então, desde os gregos, sempre fora explicado pelo Ser presente nos objetos ― o Ser do objeto se apresenta à razão para ser conhecido por ela. Conhecer, era conhecer o Ser. O centro de gravidade, nesse caso, estava no objeto, pois ele continha o Ser. Com a revolução copernicana feita por Kant, o sujeito constrói o objeto a partir da razão pura, conseqüentemente, o centro de gravidade não está mais no objeto, mas sim na razão que procura conhecer o objeto. “Só conhecemos a priori das coisas o que nós mesmos nelas pomos.”[64] Cada sujeito conhece com sua razão aquilo que se mostra a ele; isso só é possível porque no sujeito se encontram as categorias do entendimento, que possibilitam o conhecimento.[65] Com isso tem origem o idealismo transcendental e a pergunta pela possibilidade de um conhecimento a priori.
         Com a revolução copernicana Kant estabelece seus pressupostos básicos: 1) a metafísica está para além de toda a possibilidade de experiência; 2) somente aquilo que se sabe antes de toda experiência pode alcançar mais do que a própria experiência possível; 3) em nossa razão se encontram princípios do conhecimento daquilo que é dado a priori a partir da razão pura, como formas do intelecto e leis da representação que o sujeito faz da existência das coisas.[66]
Na Crítica da razão pura, Kant faz um estudo sobre os conceitos a priori e as formas puras da intuição empírica, nesse caso, a pergunta que Kant tenta resolver é: como são possíveis juízos sintéticos a priori.[67] Kant chamou de transcendental a filosofia que expõe os princípios sintéticos a priori.
Todo conhecimento começa no tempo, é através da experiência realizada no tempo que se adquire conhecimento do objeto que também está no tempo, aguçando desta forma nossos sentidos e inteligência. No tempo todo conhecimento decorre da experiência.[68] Nosso conhecimento  empírico advém das impressões e das faculdades cognoscitivas. Mas não é só no tempo que adquirimos conhecimento. Em Kant existem dois tipos de conhecimento: um a priori com origem no conhecimento que não vem da experiência e dos sentidos, mas sim da universalidade e da necessidade, e outro a posteriori com origem na experiência.
Se algo é necessário e universal, então é a priori. Já a experiência diz que algo é assim, mas não diz que poderia ser diferente; ela também não faz juízos universais, e sim indutivos, pois sua análise é parcial, não levando em consideração que toda regra tem sua exceção, e um juízo universal não admite a exceção.[69]
Alguns conceitos de objetos não fornecidos pela experiência, separam-se dela, estendendo, ao que parece, seu juízo para além de seus próprios limites, é o caso de Deus, liberdade e imortalidade, esses são assuntos para a metafísica que é dogmática e um constante tatear envolto em confusão, permanecendo em uma fase pré-científica.  A A Ametafísica é indispensável à natureza da razão humana embora seja ela tão somente um ensaio.  
          Na crítica da razão é preciso determinar quais são os limites para o conhecimento, com isso encontrar aquilo que está fora do alcance da experiência. Tudo que se tem até agora em termos de metafísica é mera decomposição ineficaz de conceitos dogmáticos, quando o intento verdadeiro consiste em compreender o conhecimento científico a priori. Assim será necessária muita firmeza de propósito para não nos afastarmos desta ciência tão importante a razão humana. Nesse sentido, Schopenhauer estabelece limites para o conhecimento, diferenciando aquilo que pode ser conhecido pela razão daquilo que está fora dela, exatamente como Kant desejava. Schopenhauer diferenciou o conhecimento representativo, do conhecimento da vontade, nesse último repousa a metafísica schopenhauriana.
                       
3.2.2 Diferenças teóricas entre Kant e Schopenhauer

          Neste item serão explicitados os principais pressupostos kantianos que deram origem ao pensamento de Schopenhauer. Mas Schopenhauer alerta que é bem mais fácil apontar as falhas na obra de um gênio do que dar continuidade a ela, pois é difícil dar seguimento ao pensamento de um grande espírito. Há na obra do gênio, um selo que garante sua excelência e vigor sobre todo o gênero humano.[70] O que Schopenhauer quer com seu pensamento no tocante a Kant, é justificar sua própria doutrina ao refutar alguns pontos da doutrina kantiana. Em outros pontos, a doutrina Schopenhauriana fica inteiramente sobre a influência kantiana, a pressupõe necessariamente, ficando assim sobre a impressão da obra de Kant, ao lado do mundo intuitivo dos hindus e da doutrina platônica. Kant é considerado por Schopenhauer o filósofo por excelência.[71] Schopenhauer aceita o transcendental de Kant na medida em que no sujeito estão as categorias para o conhecimento, ou segundo Schopenhauer a categoria da causalidade, que nada mais é do que a capacidade que o sujeito tem de relacionar o efeito a sua causa. Assim o conhecimento se torna relativo a condição humana. Embora alguns comentadores afirmem com isso um idealismo em Schopenhauer, é preciso lembrar que no conhecimento representativo, sujeito e objetos são duas metades inseparáveis e a priori para o conhecimento. Onde o objeto não é uma construção mental, mas sim uma relação entre as duas metades: sujeito e objeto. Na representação, o objeto não é causado pelo sujeito, não se deduz do sujeito o objeto.[72] A representação é uma síntese entre sujeito e objeto.
É com o conhecimento representativo, e com a doutrina da sensibilidade e das formas puras da intuição, que Kant e Schopenhauer se assemelham. Embora, para Kant a intuição é empírica, enquanto Schopenhauer a intuição é intelectual.[73] Kant faz uma crítica da razão pura, Schopenhauer faz sua crítica aos erros cometidos pelo desprezo pela intuição e dos erros cometidos em nome desse desprezo. Schopenhauer entende que a razão tem uma única função, ligar conceitos.
          A revolução copernicana é um marco no pensamento moderno; a partir de Kant a pergunta pelo conhecimento se tornou a pergunta pelas condições que possibilitam o conhecimento. Schopenhauer, nesse sentido, deu continuidade ao pensamento kantiano, no entanto, algumas diferenças existem entre o mestre e o discípulo: Para Schopenhauer, Kant na Crítica da razão pura se ocupa mais com o conhecimento abstrato do que com o conhecimento intuitivo, ao contrário de Schopenhauer que valoriza o conhecimento intuitivo.     Segundo Schopenhauer a filosofia kantiana é uma abstração de conceitos do objeto, um conhecimento reflexivo peculiar à razão e sem valorização da intuição intelectual. Para Kant o conhecimento relativo à sensibilidade e ao entendimento é todo o conhecimento possível. Para Schopenhauer, o mundo como representação é fenomênico, sendo assim ele é ilusório, mera aparência enganadora, porque no tempo e no espaço, onde se manifesta o fenômeno, há um incessante fluxo, aquilo que agora é, logo deixa de ser. O conhecimento em Schopenhauer tem origem na intuição, e dela chega-se diretamente ao conceito. Em Kant a intuição é sensível, mas em Schopenhauer a sensibilidade é responsável pela coleta de dados para o entendimento que, pela intuição intelectual, relaciona o efeito a sua causa. Nesse sentido, segundo Schopenhauer, Kant salta por cima do mundo intuitivo[74] e se detém nas formas do pensamento abstrato. A abstração não é negada por Schopenhauer, afinal o conhecimento científico se vale dela para sua sabedoria, no entanto, a ciência por desconsiderar o conhecimento intuitivo e somente levar em consideração a abstração, comete erros grosseiros. Por isso, embora Schopenhauer tenha sofrido influência de Kant em seu pensamento, ele tenta supera seu mestre com a pretensão de corrigir os erros cometidos por Kant. Nessa nova perspectiva Schopenhauer descarta onze das doze categorias kantianas do entendimento, permanecendo somente com a causalidade. [75] 
  A herança primordial de Kant em Schopenhauer é a coisa-em-si que subjaz a todo fenômeno. A natureza toda está submetida à lei de causalidade, qualquer ação de uma pessoa, seja para fechar uma janela, sair às compras ou para o trabalho, acontece por um motivo. Não existe ação sem motivo correlato. Todo agir, necessariamente, possui uma causa específica, embora seja o motivo uma representação e não à vontade em si.[76] Assim cada homem pode penetrar, como que por traição, no castelo de sua própria causalidade. Conhecer os motivos de sua ação, conhecer a si mesmo, ser objeto de seu conhecimento. O homem é um microcosmo análogo a um grande organismo. O mundo tanto pode ser conhecido internamente como externamente, através do empirismo sensorial.[77] Esta abertura ao metafísico que está presente em todo fenômeno é o principal avanço que a filosofia de Schopenhauer irá percorrer na direção contrária e para além de Kant, embora Schopenhauer mantenha a intuição original de seu mestre de que o mundo pode ser descrito tanto pelo princípio de razão (fenômeno) como pela vontade (coisa-em-si).

3.2.3 A redução da ordem categorial de Kant em Schopenhauer

         As categorias kantianas são condições que possibilitam o conhecimento pela experiência.[78] Na experiência os objetos[79] são conhecidos de acordo com formas a priori, a isso Kant chamou de dedução transcendental.[80] A lógica geral trabalha por abstração do conteúdo do conhecimento. Essa abstração leva à formação de representações e de conceitos. O espaço e o tempo fornecem conteúdo  para esse tipo de conceito que se forma através da representação.[81] A lógica transcendental, no entanto, depara-se com uma imensidade de “sensibilidade a priori[82] fornecida pela estética transcendental para os conceitos puros do entendimento. “O tempo e o espaço contêm uma diversidade de elementos da intuição pura a priori.”[83] Esses elementos estão relacionados a espontaneidade[84] de receber e processar representações de objetos[85] e e de formar conceitos que o sujeito possui, a isso Kant chamou de síntese. Síntese, tradicionalmente falando, é o ato de unir as coisas umas às outras, ou ainda, unir representações para formar um conhecimento. A síntese kantiana, fornece conceitos puros para o entendimento, e seu fundamento pode ser encontrado naquilo que Kant chamou de a priori.[86] 
         Síntese é a capacidade que o entendimento tem em, ao lidar com a multiplicidade, formar uma unidade no pensamento. A unidade é possível quando o sujeito pela sensibilidade forma representações que vêm acompanhadas de consciência. A consciência age objetivamente ao ligar as representações para dar unidade a ela mesma, ou unidade sintética da consciência. Embora a consciência deva agir objetivamente para dar unidade a representação, não tem ela valor de juízo objetivo.[87]
         A sensibilidade é receptividade e composta das formas a priori do tempo e espaço, onde acontece a intuição empírica, onde os objetos são vistos e pensados. Já o entendimento é composto por formas puras do conhecimento denominadas de  categorias que são em número de doze:[88] Unidade, pluralidade, totalidade, realidade, negação, limitação, inerência e subsistência, causalidade e dependência, comunidade, possibilidade e impossibilidade, existência e não existência, necessidade e contingência, são as doze categorias kantianas das quais derivam todos os conceitos.
            Na Estética transcendental, segundo Schopenhauer, encontra-se um conhecimento que não pode ser percebido pela experiência, visto que “são formas originárias do intelecto”,[89] estas formas são: espaço, tempo e causalidade. Kant valorizou duas formas do conhecimento a priori ou “intuições puras”, tempo e espaço. Quanto a causalidade, Kant só trata dela na Lógica transcendental com as doze categorias do entendimento. Dessas doze categorias Schopenhauer mantém a que resulta da relação da causa com o efeito: a causalidade. As demais categorias kantianas são excluídas por serem consideradas por Schopenhauer fruto do gosto “gótico” de Kant, não passando de inutilidade.[90] Assim, em Schopenhauer, o entendimento fica reduzido a causalidade que é uma síntese do tempo e do espaço, pois nem o tempo e nem o espaço podem mostrar sozinhos seus conteúdos, nesse caso os objetos se apresentam ao entendimento através do tempo e do espaço. Existe uma convivência espacial a partir do fenômeno e sua sucessão no tempo. ― É o fenômeno que dá o conteúdo ao tempo e ao espaço; sendo o momento atual do fenômeno colocado no tempo e no espaço, a causa do momento posterior. Causalidade é síntese e tem seu começo no momento anterior influenciando o momento atual. Essa influência é a ação da causalidade que se formou pela reunião do tempo, do espaço, e de seu conteúdo. Assim o efeito está ligado a sua causa, existindo para cada ação uma reação como algo determinado e sem explicação, pois a causa não explica o efeito, ela apenas o determina.
         Segundo Kant o juízo sintético a priori é extenso unindo, ao mesmo tempo, universalidade, necessidade, a sinteticidade. É o caso dos juízos matemáticos. O juízo 5 + 7 = 12 não é analítico e sim sintético. O número doze é a reunião do número cinco com o número sete, os dois números estão contidos em um só, no doze. Embora no conceito de doze não se pense na união desses dois números. Para se chegar ao doze é necessário usar da intuição empírica e adicionar um-a-um os números da operação até chegar ao número doze. Doze é a síntese da soma.[91] O mesmo acontece com a causalidade, ela estabelece algo a priori, uma relação necessária, universal e sintética.[92]
         A teoria do conhecimento em Schopenhauer perpassa a relação de causa, efeito e causalidade. Conhecer é conhecer o efeito e sua relação causal para formar conceitos corretos e não equivocados como aqueles formados baseados apenas no efeito, sem o conhecimento da causa.
         A relação causa e efeito deve ser estudado a luz do entendimento. O entendimento usa dos sentidos para o conhecimento dos fenômenos. Os sentidos percebem a matéria que, segundo Schopenhauer, contém causalidade. Existe na matéria uma relação causal que deve ser conhecida pelo entendimento, pois somente o entendimento pode relacionar causa, efeito e causalidade.

3.2.4 A coisa-em-si e o fenômeno

         Levando em consideração a importância de uma diferenciação entre coisa-em-si e fenômeno, para que não haja de espécie alguma confusão entre estes dois conceitos, foi necessário incluir esse item, embora o conhecimento representativo se dê a partir do fenômeno, uma diferenciação para melhor entendimento sobre o que é o fenômeno e que é coisa-em-si.
         Segundo Schopenhauer, o grande mérito de Kant foi a distinção entre fenômeno e coisa-em-si. Para esta distinção, Kant teve que diferenciar conhecimento a priori do conhecimento a posteriori, uma distinção entre o real e o ideal.[93] Ele demonstrou que as leis que regem a necessidade da existência não podem ser encontradas na dedução, também não são encontradas mediante a experiência visto que são a priori e não a posteriori. “Kant mostrou que aquelas leis, conseqüentemente o mundo todo mesmo, são condicionados pelo modo de conhecer do sujeito.”[94]
         Kant demonstrou que o mundo fenomênico está condicionado pelo objeto e pelo sujeito, eles são o limite um para o outro, por isso não é possível conhecer a essência do mundo, ou a coisa-em-si. O mundo objetivo não pertence a essência das coisas-em-si, mas sim o fenômeno delas que estão condicionados pelas formas a priori no cérebro humano. Kant, segundo Schopenhauer, não formulou bem a questão sobre a coisa-em-si, não deduziu dela a vontade.[95]
          Schopenhauer a partir da coisa-em-si faz uma metafísica imanente. A coisa-em-si para Schopenhauer é a vontade que se manifesta em toda natureza, podendo ser contemplada intuitivamente. Com isso ele procura decifrar aquilo que está para além das aparências, para além do fenômeno.
          Na significação do mundo apresentada por Schopenhauer, o sujeito deposita suas raízes neste mundo a partir de sua própria individualidade, e desta forma representa o mundo de si e para si. Tudo lhe seria estranho se aos seus olhos os objetos não tivessem um significado. O enigma se apresenta ao indivíduo de forma igualmente individual. Tal enigma para Schopenhauer se chama Vontade. E assim em seu próprio fenômeno reside a chave para sua significação, mostrando seu ser e seu agir guiado pela sua vontade. Os atos de vontade e de ação estão unidos em seu corpo pelo nexo da causalidade. Nessa perspectiva, a ação do corpo é movida pela vontade. Querer agir desperta um movimento ― o querer desperta impulsos geradores de movimento. Desta forma, vontade e ação são uma coisa só, embora aconteçam em momentos diferentes. Em um primeiro momento acontece a vontade, em um momento posterior ocorre à ação. E isso não é captável pelo princípio de razão, mas sim pela intuição direta e imediata. Portanto, um ato de vontade é logo em seguida fenômeno do corpo que passa a ser “visibilidade da vontade.”
          Mas há na consciência de cada indivíduo alguma coisa que difere seu corpo dos demais pela sua representação. Existe no corpo algo que reflete sua vontade, seu sofrimento, não como representação, mas sim como algo em si. Embora seja o corpo do indivíduo, fora  de sua vontade, apenas representação, pois sua vontade é o outro de si mesmo que, ao ser retirada, sobra tão somente sua representação. Porém, unido a essa vontade seu corpo se torna único como indivíduo. A vontade diferencia os indivíduos, tornando assim único cada ser em sua espécie.[96]
           A vontade, para Schopenhauer, é a coisa-em-si de Kant. A coisa-em-si é o númeno para Kant. O mundo mumênico não pode ser conhecido, segundo Kant, dele se conhece apenas seu fenômeno. O númeno não pode ser acessado pela intuição sensível, por isso não pode ser conhecido porque está fora da faculdade cognoscitiva. O conceito de númeno é problemático, no sentido em que, mesmo não contendo contradição, não é possível conhecê-lo e sim tão somente pensá-lo, o númeno não é objeto dos sentidos. Para os homens, não é possível nem mesmo se dar de conta de sua existência.[97] Assim, tanto Kant como Schopenhauer falam da coisa em si; para Kant a coisa-em-si não pode ser conhecida, somente pensada. Para Schopenhauer ela é conhecida pela objetivação da vontade.
A vontade não tem origem no fenômeno, não pertence à categoria da representação intuitiva, provém da interioridade, da consciência do indivíduo. A vontade é a coisa-em-si livre das formas do fenômeno, livre do tempo e do espaço. Ela constrói a realidade a partir de si e não da representação, não é do que vem a ser que a coisa-em-si se alimenta, pois não está no tempo.[98] Ela jamais pode ser fundamentada, porque não pode ser remetida a mera forma. Já o fenômeno tem sua manifestação no tempo e no espaço, podendo ser conhecido a partir da sensibilidade do sujeito.
Schopenhauer, além da influência kantiana, com relação a coisa-em-si, também sofre no mesmo sentido, influência platônica, ou seja, da coisa-em-si, como pode ser observado no próximo item.

3.3 A influência platônica

A teoria das Idéias de Platão, forneceu a Schopenhauer um intermediário teórico entre vontade e fenômeno, um caminho entre o uno e o múltiplo. Schopenhauer permanece ligado ao Platão da contemplação mística, ao Platão que descreve como as asas da alma se agitam diante da beleza de um objeto, ao Platão que vê os homens como sendo prisioneiros deste mundo e que propõe sua libertação.[99]
Platão nasceu em Atenas na Grécia. Foi discípulo de Crátilo que foi discípulo de Heráclito, por último Platão foi discípulo de Sócrates. Com a morte de seu mestre Sócrates, Platão teve de fugir para a Itália (Cecília), lá foi vendido como escravo por Dionísio da corte de Górgias, sendo salvo por um amigo. E assim, ficou claro para Platão, a contradição que por vezes existe entre as relações da sociedade e a vida ideal. Ao voltar para Atenas, funda sua academia em um bosque chamado “Academo”, em homenagem a um herói grego.
Após a morte de Sócrates, Platão dá um rumo próprio a sua filosofia. Tem início a linguagem das idéias em meio a multiplicidade das sensações, encontrando sua unidade no raciocínio. Estabelecendo com isto uma relação entre conceito e realidade. Se por um lado tudo é imutável e eterno, de outro lado é individual, ilusório e transitório. Portanto existe além do mundo sensível dos fenômenos um outro mundo com os mesmos conceitos e idéias. Para Platão os ideais não são representações mentais, e sim formas reais, modelos e protótipos eternos e imutáveis, sendo que o mundo sensível é apenas cópia de um exemplar original. Portanto, da idéia perfeita de homem somos apenas cópias imperfeitas e mal acabadas.[100]
A idéia platônica, para Schopenhauer, não é outra coisa se não “os graus de objetivação da vontade.”[101] Estes graus se relacionam com coisas particulares e sua forma ou protótipos. “Platão ensina que as Idéias da natureza existem como protótipos, já as demais coisas apenas se assemelham a elas e são suas cópias.”[102] Os cavalos da realidade só existem enquanto cópia de uma idéia de cavalo imutável. A humanidade é também uma idéia eterna, embora seu fenômeno seja passageiro. A idéia assim se tornou fenômeno no mundo de seres que a representa, no mundo real. A idéia desta forma se torna manifestação.[103]
A vontade não é a causa da idéia, a vontade se manifesta na idéia. Cada ser humano é uma forma da idéia de humano. “É uma vontade dentro da vontade.” [104]
Com a linguagem das idéias tem início a multiplicidade das sensações, encontrando sua unidade no raciocínio, estabelecendo com isso uma relação entre conceito e realidade. Se por um lado tudo é imutável e eterno, por outro lado é individual, ilusório e transitório. Portanto existe além do mundo sensível dos fenômenos um outro mundo com os mesmos conceitos e idéias. Para Platão os ideais não são representações mentais, mas sim formas reais, modelos e protótipos eternos e imutáveis. O mundo sensível é apenas cópia de um exemplar original. Da idéia perfeita de homem, os homens são apenas cópias imperfeitas e mal acabadas. O mundo das idéias é inteligível e está na esfera celestial, e o ideal supremo é a idéia de bem de onde surgem todas as demais idéias, inclusive as do mundo sensível. Portanto, é do ser que se explica o vir-à-ser.
Tudo no mundo físico flui, dizia Platão, demonstrando com isso sua herança heraclidiana, não havendo um elemento básico, como afirmavam alguns filósofos pré-socráticos. Se tudo flui tudo é passível de desintegração. Quando alguma coisa ou pessoa morre ou se desintegra no mundo sensível, o que sobra dele é a idéia que é eterna e imutável, e por ser imutável é comum aos seres e coisas da mesma espécie. Por exemplo: o ideal de um gato é único e imutável, de onde surgem todos os gatos no mundo físico, da mesma forma o ideal de homem é um e igualmente único, de onde surgem todos os homens.
Segundo a doutrina platônica, o homem conhece o igual antes de nascer e até mesmo antes do primeiro pensamento. ― Só é possível pensar sobre aquilo que já se conhece. O que não é conhecido, não pode ser pensado. Todo pensamento almeja o igual. Antes de usar o sentido é preciso conhecer o igual em si, para então traçar uma comparação, buscando assim ser igual ao real.
Logo após o nascimento, a criança começa a fazer uso dos sentidos, isso porque conheceu o igual antes de nascer, bem como o menor e o maior, tudo o que é da mesma espécie, ou seja, a realidade em si.[105] A principal novidade da filosofia platônica, reside na existência de uma idéia acima do mundo sensível, uma dimensão metafísica do ser.
Os naturalistas, antecessores a Platão, partiram de uma causa física para explicar o fenômeno. Anaxágoras, por exemplo, percebeu a necessidade de uma inteligência universal para explicar as coisas. Platão usa o termo “segunda navegação” para definir aquela que acorre quando o vento pára, e as velas não funcionam mais, recorrendo-se assim ao remo. A primeira navegação simboliza o percurso que o filósofo percorre com a vela tocada pelo vento da filosofia naturalista. A “segunda navegação” é quando o filósofo emprega esforço para remar o barco, esta navegação conduz ao supra-sensível do ser inteligível.
É possível perceber a existência de uma causa ulterior, não sensível, mas sim inteligível. Sendo esta a idéia ou forma pura do belo em si. Platão determina idéia como causa não física. As idéias não são simples conceitos ou representação mental, mas aquilo que o pensamento pensa quando livre do sensível. Platão também usa o termo em si para identificar as idéias. Em Fédon ele usa também o termo hiperurânio (lugar acima do céu), para designar o conjunto de idéias.[106]
Esses são os pressupostos platônicos que deram origem ao pensamento de Schopenhauer: a existência de uma causa ulterior que Platão denominou de idéia. A idéia está para além do tempo e do espaço, ela é imutável, incorruptível, universal, o mundo das idéias é o mundo da perfeição e da verdadeira ciência. Schopenhauer critica a ciência que se baseia somente em fenômenos, porque a ciência está para além do fenômeno. No mundo sensível se manifesta o fenômeno. É o mundo da aparência, da degeneração, da multiplicidade e da particularidade de um sujeito que através da superficialidade da representação, forma sua opinião. É o mundo de uma ciência, como veremos mais adiante, que não vai às origens das coisas. A idéia assim como a vontade schopenhauriana está em outra dimensão. A idéia e a vontade, não são representações mentais, mas sim aquilo que está livre do sensível.
        
         A frase de abertura do livro O mundo como vontade e como representação é “o mundo é minha representação”,[107] também sugere a contestação de duas formas tradicionais de conhecimento: o realismo e o idealismo.[108] No realismo estão as eleatas, pitagóricos, espinozanos e escolásticos. Os realistas estabelecem o ponto de partida para o conhecimento no objeto. No idealismo, cujo principal expoente é Fichte, o ponto de partida para o conhecimento é o sujeito, e dele se deduz o objeto.[109] Estes são alguns entre outros autores que também influenciaram o pensamento de Schopenhauer. Outras influências poderiam ser apontadas neste item, no entanto foram apresentadas apenas as principais e de relevância vital na construção da teoria do conhecimento representativo em Schopenhauer.



 






4 O MUNDO COMO REPRESENTAÇÃO

Após análise das influências ou pressupostos históricos e teóricos da teoria do conhecimento de Schopenhauer, se fará, neste presente capítulo, um estudo mais detalhado e sistemático da teoria do conhecimento representativo do autor, um exame de como se constroem as imagens do mundo para o nosso entendimento.
O ponto de vista adotado por Schopenhauer abre um caminho ilimitado para o conhecimento. Schopenhauer remete a representação ao fenomênico, e não a coisa-em-si. Onde a coisa-em-si começa termina o fenômeno, e assim também a representação e a compreensão.
O mundo é representação do sujeito ordenado pelo espaço, tempo e causalidade, submetido ao princípio de razão do devir. O intelecto ordena os dados da intuição espacial e temporal através da categoria da causalidade, apreendendo assim a coerência existente entre os objetos. Mas esse conhecimento não ultrapassa o mundo sensível. O mundo, é puro conhecimento de um sujeito com suas percepções sensoriais e interpretação racional.[110]
“O mundo é minha representação”[111] e somente o homem pode refletir sobre essa verdade com clarividência filosófica, diz schopenhauer. Não se conhece o sol ou alguma terra, pois o que se vê, é visto  através de alguma coisa, “como uma mão que toca uma terra, ou um olho que vê o sol”.[112]  O mundo que cerca os homens é tão somente representação de relações entre o objeto e o sujeito. O mundo inteiro só existe como representação.
Tal consideração unilateral e arbitrária  só existe devido a uma “resistência interior”[113] de cada pessoa, que aceita o mundo como sua representação. Mas é preciso separar o mundo cognoscível ou mundo do objeto, tratando-o como representação, inclusive o próprio corpo deve ser trado separado do mundo da vontade, pois esse constitui o outro lado do mundo. Assim o mundo da matéria ou fenomênico é representação, e outro lado do mundo é vontade.
          O mundo, nesse caso, é tão somente representação de cada sujeito que o representa, é percepção de cada indivíduo que o percebe, é o ponto de vista de cada pessoa. Por esse motivo a apreensão do mundo fenomênico é, necessariamente, de modo fragmentado, parcial e individual. Nisso está contido toda possibilidade de experiência, pois existe na representação algo mais universal do que o tempo, espaço e causalidade: o princípio de razão, que só pode ser compreendido separando sujeito e objeto.
Schopenhauer em sua tese doutoral faz uma dissertação sobre o princípio de razão suficiente, um princípio que justifica um porquê ser de todas as coisas. Os fenômenos têm uma razão de ser no mundo. Uma tempestade tem sua causa, a construção de um edifício tem sua razão de ser. As coisas têm, um porquê de sua existência, um motivo pelo qual existem, uma razão para estarem no mundo.[114]
O princípio de razão possui quatro formas a saber: O primeiro princípio é o princípio de razão suficiente do devir, se apresenta como lei de causalidade, uma síntese entre o tempo e o espaço fornecendo a causalidade ou o devir. Com o princípio de razão e a causalidade, Schopenhauer tenta explicar toda representação fenomênica do mundo. O segundo princípio é o do conhecer, suas leis servem de fundamento para todo o conhecimento e juízos que tornam possíveis a verdade de qualquer conclusão, esta é uma categoria que só o homem possui, pois somente ele pode conhecer. O terceiro princípio é o de razão de ser, nele se fundamenta toda a matéria e sua relação entre si, com esse princípio é possível encontrar o sentido das partes. O quarto princípio é o princípio da razão de atuar, onde se estabelece a razão das ações e das decisões que conduzem a uma determinada ação, neste princípio se discute sobre a liberdade humana.[115] Os objetos reais ou representações intuitivas, que mais adiante serão estudadas neste trabalho, estão regidos pelo princípio de razão do devir, sua lei é a causalidade. Assim os objetos devem reder tributo a este princípio pelo fato de terem vindo-a-ser, por ter surgido como efeito de uma causa.[116]
Todo conhecimento a priori está contido dentro dos quatro princípios de razão. São leis que estabelecem uma relação necessária entre o fenômeno e sua relação com aquilo que causa o fenômeno.
Com a representação, Schopenhauer estabelece o ponto de partida para o conhecimento.  A representação do mundo material se apresenta como figura para o entendimento, uma forma para a razão do sujeito, sem núcleo, sem essência e por isso ilusória. A representação se alimenta dos sentidos que levam a ela informações do mundo empírico, passando então por um sofisticado processo mental. Tudo isso pode ser comparado com o artesão que elabora sua obra e que é dono de três formas inatas do conhecimento, pois estão com ele desde seu nascimento: tempo, espaço e causalidade.[117] Estas três formas nos ajudam a ver as representações, possibilitando o conhecimento. Esse é um ponto de vista ilimitado, onde toda compreensão é um ato que pertence ao campo da representação e somente nela permanece. Tudo, deste modo, pode ser compreendido através da representação, até mesmo o dogma pode ser justificado pela representação. No entanto, a representação só mostra o fenômeno, e não a coisa-em-si.[118] 
Para Schopenhauer a representação é uma atividade de ver com a totalidade da faculdade  perceptiva e cognoscitiva dos sentidos. O trabalho de representar o mundo aparente é inconsciente e automático, sem nenhuma intenção por parte do indivíduo. É um processo que acontece naturalmente, e tem seu fim quando percebemos com clareza o objeto. É quando o entendimento se serve da causalidade, pois considera a sensação que lhe foi fornecida como sendo um efeito. Com o auxílio do tempo sai a procura da causa e, ao encontrá-la, serve-se do espaço para situá-la. Após esse processo o objeto torna-se uma imagem na consciência. “Eis porque se pode dizer que o objeto, para Schopenhauer, é uma “conclusão do entendimento”[119]

4.1 Sujeito e objeto

Com a frase “o mundo é minha representação”[120] Schopenhauer tenta livrar-se de duas formas tradicionais de conhecimento: realismo e idealismo. Pertencem ao realismo os materialista, eleatas, pitagóricos, spinozanos, escolásticos e filosofia chinesa do Y-King. Para eles o ponto de partida para o conhecimento está no objeto, e dele se deduz o sujeito. O idealismo representado por Fichte, ao contrário dos realistas, deduz o objeto a partir do sujeito. Schopenhauer considera as duas teorias um erro. Seu ponto de partida para o conhecimento é a noção de representação que pressupõe o envolvimento simultâneo entre sujeito e objeto. Para que haja representação são necessárias duas metades inseparáveis, uma delas é o objeto com suas formas no tempo e no espaço, a outra é o sujeito que não está nem no tempo, nem no espaço, mas sim indiviso em cada indivíduo que o representa.
Os objetos estão para serem conhecidos pelo sujeito mediante uma relação entre eles. Em suma, existe um mundo inteiro para conhecer, o Homem como sujeito e o mundo como objeto. Desta relação surge à representação que pode acontecer no passado e no futuro, visto que se dá no tempo, e também naquilo que está próximo ou distante.  Desta forma, tudo está condicionado ao sujeito que conhece, pois é ele quem vê o mundo e o representa; nesse sentido, somente aquilo que acessa aos sentidos pode ser conhecido e representado por “aquele que tudo conhece mas não é conhecido por ninguém”[121] − o sujeito.
Cada pessoa se reconhece como este sujeito na medida em que deseja conhecer, não como objeto do conhecimento, mas sim como sujeito de sua ação. Onde seu corpo também é objeto para o conhecimento, por isso este sujeito, abrigado pelo corpo, está submetido às leis do  objeto, no tempo e no espaço onde se dá a pluralidade, não sendo ele plural, pois, por não ser conhecido, não pode ser representado, estando, nesse caso, para além da representação. Como o sujeito não é o objeto, porque nunca é conhecido, assim não incide nele a pluralidade fruto da representação, ficando, deste modo, fora do tempo e do espaço, “indiviso, inteiro em cada ser que o representa.”[122]
Portanto, claro está que o corpo é a representação do sujeito no tempo e no espaço para a compreensão dos objetos deste mundo que, como representação, possui duas metades inseparáveis e necessárias: uma, é o objeto com forma no espaço e no tempo mediante a pluralidade, e a outra metade é sujeito que se encontra fora do espaço e do tempo. Estas metades são inseparáveis pois uma necessita da outra para que o mundo seja representado. No entanto, se por acaso um deixasse de existir, o mundo não teria como ser representado. ― Estas duas metades só existem uma para a outra.[123]   A representação tem sua origem em duas metades que se complementam e se correspondem, sujeito e objeto. Ela está condicionada ao objeto que se apresenta ao sujeito. As duas metades, embora distintas uma da outra são, necessariamente, inseparáveis para a representação. ― É o sujeito com “modos de apreensão”[124] que forma a representação do objeto que se lhe apresenta. O mundo é representação do sujeito.[125]
O sujeito, embora não seja conhecido, é aquele que conhece sendo ele encontrado dentro do próprio homem, isso diferencia corpo e sujeito enquanto tal. Já o objeto, é aquele que não pode conhecer e está para o sujeito como algo a ser conhecido. Assim todos os objetos estão para serem conhecidos pelo sujeito, e a multiplicidade dos objetos fornece uma espetacular riqueza de conhecimento recíproco, onde um está para o outro. Mas isso só é possível no tempo e no espaço onde acontece o fenômeno, e os objetos estão para serem conhecidos pelo sujeito com um corpo sensível ao conhecimento.

4.2 Espaço e tempo  

            Tanto para Schopenhauer quanto para Kant, a intuição envolve espaço e tempo. A intuição faz parte da experiência em perfeita harmonia com suas leis, o sentido externo é próprio ao espírito do homem, e assim os objetos que são representados estão lançados no espaço. Existe, nesse sentido, uma relação do interno com o externo, através do tempo e do espaço. Esta relação são modos e funções do sujeito, formas puras da intuição e princípio do conhecimento. O espaço tem sua representação, não a partir do fenômeno, mas sim mediante existência a priori sendo ele forma da intuição e não coisa em si. Schopenhauer considera tempo e espaço como algo intuído vazio de conteúdo, uma representação que existe por si mesma. O espaço é efetivação da matéria onde se manifesta a relação entre os corpos, onde o fazer efeito é sua essência. A matéria é efetividade ou causalidade e essa efetivação no espaço está no cérebro. É assim que todos os fenômenos podem existir no espaço infinito. O tempo é uma sucessão de aniquilamento do momento anterior, a morte do que passou para se depositar o presente, por sua vez, o presente também morre para que novamente algo seja depositado em seu lugar, uma sucessão de colocar, aniquilar e colocar de novo; e o presente é um intermediário entre o passado e o futuro, mas tudo será igualmente aniquilado na sucessão do tempo, até mesmo o futuro. [126]
            O O presente impõe o fim do momento anterior. Nesse sentido, pode se dizer que o presente extermina aquilo que já foi presente um dia, até mesmo o futuro deixará de ser, não existindo mais a eternidade, e sim o limite e o fim. No tempo são depositadas as representações que serão substituídas por outras representações, desta forma o tempo determina a finitude da representação, pois o que agora é, em instantes deixará de ser. O tempo é sucessão. Schopenhauer quer demonstrar a nulidade de tudo o que acontece no espaço e no tempo,[127] até mesmo as representações são finitas, pois é possível substituí-las por novas representações. Com isso ele demonstra a instabilidade de todo conhecimento representativo, inclusive o conhecimento científico.
Pensando assim, Schopenhauer, através da sucessão, deu ao tempo caráter de infinitude.[128] O tempo é um eterno deixar de ser, e portanto nulo, algo imaginário. Uma forma de apreensão do sujeito para a medida dos movimentos.[129] Até mesmo as representações são finitas no tempo, dando assim instabilidade ao conhecimento, pois é possível substituí-las por novas representações. Também os conceitos são representações abstratas finitas no tempo e no espaço. Para ser mais exato, causa e motivo estão intimamente relacionados às representações no tempo, possuindo existência relativa um para o outro, o mesmo acontece com sujeito e objeto que tem sua existência um para o outro, pois um é a causa do outro. Um fluir incessante, um devir no mundo da possibilidade, onde cada ser representa seu próprio mundo a partir de conceitos instáveis.
Mas tempo e espaço não estão separados, não sobrevive cada um por si, na união de ambos reside sua essência: no fazer-efeito ou na causalidade.[130] Todos os fenômenos no tempo e no espaço adquirem, com isso, caráter inumerável, e sem limite. ― Inumeráveis finitos compondo o infinito. Esta é a essência da matéria, fazer-efeito. Uma relação de causa e motivo que Schopenhauer também chama de causalidade e que está relacionada ao princípio de razão suficiente do devir. Existe, para a matéria, uma relação necessária entre espaço e tempo, por isso eles são a essência da matéria,[131] não podendo existir por si, mas sim um para o outro.
No entanto, a lei de causalidade adquire a sua significação e necessidade unicamente pelo fato de a essência da mudança não consistir apenas na alteração de estados em si, mas antes no fato de NO MESMO LUGAR do espaço haver agora UM estado, em seguida OUTRO e, NUM ÚNICO e mesmo tempo determinado, haver AQUI este estado, LÁ outro.[132]

Tudo isso deve ser estudado à luz do entendimento que nada mais é do que a capacidade de ordenar, unificar e fazer síntese para conhecer a causalidade, estabelecendo assim novas relações de causa e efeito. Se toda matéria, ou fenômeno, está no tempo e no espaço, e da relação necessária entre eles surge à causalidade que deve ser estudada pelo entendimento, então toda matéria deve ser estudada também pelo entendimento. Pois da relação da matéria com o espaço/tempo surge à causalidade que é estudada a luz do entendimento. Schopenhauer diferencia razão e entendimento, o princípio de razão está sujeito a sucessão que o tempo impõe, tendo por única função elaborar conceitos e representações abstratas, por esse motivo não pode fornecer um conhecimento absoluto mas sim relativo a causa e ao efeito. A função do entendimento é o conhecimento imediato pela relação de causa e efeito.[133]

4.3  Vida e sonho

          Schopenhauer questiona se não seria toda vida um sonho e quais são os critérios para diferenciar o sonho da realidade, porque tanto a realidade quanto o sono, estão sujeitos às leis de causalidade. Ambos estão colocados no espaço submetidos ao efeito, havendo neles sucessão de imagens. Em sua natureza sono e vigília não se diferenciam. Portanto, não seria a vida um grande sonho?, questiona Schopenhauer. A vida e os sonhos são páginas do mesmo livro. Por isso Schopenhauer admitia a veracidade de alguns sonhos e a possibilidade de se sonhar com o final da obra, ou seria melhor dizer com o futuro. Schopenhauer concorda com os poetas que diziam, “vida é sonho.”[134]
A vida e os sonhos são folhas de um mesmo livro. A leitura encadeada se chama vida real. Quando, porém, finda a hora da leitura habitual ― o dia ― e chega o tempo de descanso e recuperação, ainda se folheia com freqüência descontraída, sem ordem e encadeamento, ora uma folha aqui, ora outra ali. Muitas vezes se trata de uma folha já lida, outras de uma desconhecida, mas sempre folhas do mesmo livro.[135]

          Depoimento evidente a esse respeito encontra-se em Leviatã de Hobbes no segundo capítulo: facilmente se confunde com a realidade e adormece o sujeito assim vestido, a isso se soma o fato de que, por vezes, projetos e negócios tomam conta de todo seu pensamento, nesse caso, para piorar, existe um  discernimento equivocado da realidade, não sabe ele se está indo dormir ou acordando.[136]  Nesse momento, a solução kantiana parece ser a melhor: “O encadeamento das representações entre si, conforme a lei da causalidade diferencia a vida do sonho.”[137] Para Schopenhauer:
[...] o único critério seguro para diferenciação entre os dois não é outro senão o inteiramente empírico do despertar, através do qual, com certeza, o encadeamento causal entre os acontecimentos sonhados e os da vida desperta são // sensível e expressamente rompidos.[138]
        
Os sonhos são tão ilusórios e passageiros quanto a vida. Vida e sonho estão no tempo e no espaço, por isso sujeitos ao devir que nada mais é do que causalidade. As representações estão submetidas ao princípio de razão que, por sua vez, se submetem ao devir, ao tempo e espaço, para logo deixar de ser.
          Schopenhauer não considerou vantajoso possuir a razão, pois vê nela fonte de inúmeros sofrimentos dos quais os animais, por não possuir razão, estão livres. Com a razão vem o desenvolvimento da consciência,[139] e tanto mais os homens se tornam suscetíveis às dores do mundo, mais possibilidades e teoria a lhes provocar temores, este é o caso do pensamento sobre a morte, pois percebe o homem que vai desaparecer um dia.[140] Com essa ilusão tudo nasce e perece, cada momento anula o momento que o gerou, assim tudo se torna não essencial. No tempo tudo está repleto de nulidade, imperando a ilusão.[141]
Trata-se de MAIA, o véu da ilusão, que envolve os olhos dos mortais, deixando-lhes ver um mundo do qual não se pode falar que é nem que não é, pois assemelha-se ao sonho, ou ao reflexo do sol sobre a areia tomada a distância pelo andarilho como água, ou pedaço de corda no chão que ele toma como uma serpente.[142]

             Esta visão já estava contida no pensamento de Heráclito que afirmava o fluxo eterno das coisas. O fluxo eterno de Heráclito em Schopenhauer é  o mundo como representação.

4.4 O entendimento

A relação causa e efeito é uma relação necessária e deve ser estudada a luz do entendimento. O entendimento usa dos sentidos para o conhecimento imediato, intuitivo, com expressão objetiva nos efeitos entre os corpos, e com expressão subjetiva no intuir causa e efeito. Mas é o entendimento que torna a intuição antes de tudo possível, pois é dele que ela se origina. Assim como os objetos em geral só têm permanência para o sujeito como representação, do mesmo modo cada classe específica de representação tem determinação especial do sujeito, a isso se nomeia “faculdade do conhecimento.”[143]
          O entendimento é o correlato da matéria ou da causalidade.[144] Conhecer a causalidade é a função específica do entendimento. “Por seu turno, toda a causalidade, portanto toda a matéria, logo a efetividade inteira, existe só para o entendimento, através do entendimento, no entendimento.”[145] O entendimento é a capacidade de relacionar o efeito a sua causa, uma causa que liga motivo e ação. O entendimento em toda parte possui uma fórmula simples, sendo ele o mesmo nos animais e nos homens: “conhecimento da causalidade, passagem do efeito à causa e desta ao efeito, e nada mais.”[146] O primeiro contato com o objeto se dá pelos sentidos que levam uma imagem ao entendimento para formar o conceito, que posteriormente deve ser estudado e unido a outros conceitos a luz da razão, pois é para isso que serve a razão, para unir conceitos. O entendimento age objetivamente entre os corpos pela capacidade que eles têm de fazer efeito, e subjetivamente pela intuição.
          Mas é com a carência de entendimento que acontece a “estupidez”,[147] mediante a incapacidade de reunir causa e efeito. Falta, nesse caso, “argúcia espiritual, rapidez”[148] dificuldade no uso da lei de causa e efeito. Mas o grau de astúcia e de conhecimento é diverso e inclui o grau mais baixo em uma relação de causa e efeito, a intuição do corpo no espaço, bem como o mais elevado que estabelece uma relação mediata entre os corpos, e ligações de causa e efeito com a natureza. Esta última modalidade pertence ao entendimento e não a razão. Cada força e lei natural, não importa onde se exteriorize, tem de primeiro ser conhecida imediatamente pelo entendimento, apreendida intuitivamente, antes de aparecer in abstracto para a razão na consciência refletida.[149]
             A teologia das causas finais é a indivisibilidade da vontade, pois a vontade se manifesta como natureza em seus vários graus de objetivação. A idéia, vontade, enfim, a coisa em si, é una e está alheia a multiplicidade. Schopenhauer garante uma idéia de harmonia na natureza, afirmada por uma ligação entre os graus de objetivação da vontade, existindo variações do mesmo ser vivente.[150] Nesse caso, o entendimento não está no princípio do mundo, mas sim no irracional que se identifica com a vontade de viver, sendo à vontade o que há de mais íntimo no mundo, e a pluralidade não passa de sua manifestação.[151]

4.5 O conhecimento do corpo

          Do próprio corpo surge a instituição do mundo, por isso o corpo também deve ser estudado do ponto de vista da representação. O princípio de razão procura uma razão de ser para o fenômeno, uma experiência, um fundamento. Essa procura dá origem as várias ciências.
          O corpo é o ponto inicial para estudar os passos do cérebro para formar uma imagem, porque fornece ao entendimento a causalidade, a essência da matéria constitui em seu fazer-efeito. Nesse sentido causa e efeito existem tão somente para o entendimento. São duas as alternativas de conhecer o corpo, a primeira é a capacidade que os corpos possuem de fazer efeito uns sobre os outros, produzindo mudanças entre si. A outra condição é a sensibilidade dos corpos animais que se torna objeto imediato para o sujeito.
          O corpo é objeto imediato para o conhecimento porque fornece, pela causalidade, os primeiros dados para o entendimento.
Portanto, o corpo como objeto propriamente dito, ou seja, de uma representação intuível no espaço, só é conhecido, justamente como os demais objetos, de maneira mediata, pelo uso da lei de causalidade na ação de uma de suas partes sobre a outra, logo, na medida em que o olho vê o corpo, a mão o toca.[152]

          Assim o conhecimento do mundo tem seu início com a teoria da percepção como fonte de conteúdo para o conhecimento, esse é seu ponto de partida. A percepção dá origem a consciência  das coisas a partir das sensações. Mas é preciso levar em consideração que as sensações visuais, auditivas, táteis etc., fornecem tão somente matéria prima para a percepção, sendo assim algo sentido com relação ao objeto imediato. Com isso Schopenhauer nega a intuição sensível, afirmada por Kant, afirmando somente existir intuição intelectual.

4.6 Representações intuitivas e abstrata

          O que o olho vê e a mão toca são apenas informações.[153] SchScopenhauer vê na descoberta da lei de gravitação por R. Hookes, confirmada mais tarde por Newton, algo concebido pela intuição imediata do entendimento. O mesmo aconteceu com Lavoisier e a descoberta do oxigênio na natureza, e Goethe com a origem das cores físicas. Todas essas descobertas estão relacionadas a intuição do efeito sobre a causa, e a exteriorização do entendimento na ciência da natureza e na vida prática. Com essas descobertas é possível criar máquinas, manipular pessoas que, como maquina, levando em consideração suas motivações, são conduzidas a um fim. Nesse caso, uma ausência estúpida de entendimento, uma incapacidade de reunir causa e efeito ou motivo e ação inteligentemente. Por vezes, os conceitos não são bem definidos, deste modo estão sujeitos  a favorecer aquele que precisa persuadir alguém ou a uma falsa avaliação. Um exemplo sobre isso pode ser encontrado, segundo Schopenhauer, na causa do enfraquecimento do brilho da lua e das estrelas, alguém pode pensar que isso acontece devido ao distanciamento, quando o fato ocorre pela densidade do ar no horizonte.[154]  Razão e entendimento estão separados, “a razão sempre pode apenas SABER; unicamente ao entendimento, livre de toda influência da razão, é permitido intuir.”[155]  
Existem dois tipos de representações: intuitivas e abstratas. A sensação que se tem na passagem do efeito para a causa, a isso Schopenhauer denominou de intuição. A intuição do mundo efetivo é a forma primeira e mais simples do entendimento. Pela intuição se conhece a causa a partir do seu efeito, essa relação causal não é uma conclusão abstrata, não ocorre por reflexão e nem é arbitrária, mas sim necessária e imediata, um modo do conhecimento do entendimento. Sem entendimento não haveria intuição.[156] Por esse motivo “toda intuição é intelectual”.[157] Mas não seria possível a intuição se o efeito não fosse conhecido imediatamente.[158]
As mudanças que cada corpo animal sofre são imediatamente conhecidas, isto é, sentidas, e, na medida em que esse efeito é de imediato relacionado à sua causa, origina-se a intuição desta última como um objeto. Tal relação não é uma conclusão em conceitos abstratos, não ocorre por reflexão, nem arbítrio, mas é imediata, necessária, certa.[159]

 O olho, a mão, o ouvido, fornecem informações, mas da passagem do efeito para a causa é que acontece a intuição em sua forma pura do entendimento. As sensações existem tão somente para serem objeto imediato do sujeito intuitivo, e assim a reflexão reproduz e representa o conhecimento intuitivo, algumas vezes já adulterado pela reflexão, e outras vezes em sua forma pura do entendimento.[160]
O entendimento sem a intuição seria insignificante, uma consciência abafada. “O olho, o ouvido e a mão sentem não é intuição; são meros dados”,[161] que levados ao entendimento, passam do efeito para a causa através da intuição no tempo e no espaço que representam a matéria. Assim o mundo como representação acontece tão somente para o entendimento.[162]
          Todos os conceitos são representações abstratas nomeados de Razão,[163] eles formam uma classe particular de representação encontrada somente no homem. Diferente do conhecimento intuitivo, tal representação jamais conhece a essência da coisa, sendo um conhecimento abstrato e discursivo.  É o caso da linguagem e da ciência que permitem ao homem tão somente pensar e não intuir. O discurso, nesse caso, é intelectual, concebido e determinado de maneira precisa. Uma razão falando para outra razão comunicando conceitos abstratos dos incontestáveis objetos. Tudo isso só é possível porque a representação possui um correlato subjetivo que é a razão. A razão se alimenta de percepções sensoriais externas, por meio dos sentidos recebe as impressões e elabora as sensações, por isso é limitada.[164] Já as representações intuitivas abrangem tudo aquilo que é visível, aparente e fenomênico, elas existem por si mesma à luz da reflexão e com conteúdo referente ao conhecimento intuitivo. No momento da intuição não existe erro, nem mesmo dúvida, visto que nela inexiste a opinião que está sujeita ao erro. Ela é uma luz refletida imediatamente no objeto, garantindo sua auto-suficiência. Enquanto uma pessoa está intuindo, tudo é claro. O intuidor, nesse momento, é calmo e certo. ― “A intuição se basta a si mesma.”[165]
          Os filhos da intuição são como águias rebeldes que voam altaneiras até o inefável; livres da tirania, sem medo e sem angústia. Livres da religião, escolas, teorias, fanatismo..., vivem deliciosamente como água cristalina de augusta beleza. Como resultado, o homem intuitivo sabe o reto pensar, o reto agir, o reto sentir, porque toda sabedoria está no seu interior. A mente do intuidor é um cálice repleto de sabedoria. Sua mente é repleta de amor, cheia de Nirvana. A intuição é o licor búdico dos deuses imortais. A vida feia fundamentada em arquétipos da finitude sobre o véu da ilusão, assume uma beleza refletida no rosto do intuidor, porque ele não sofre com representações mentais, ele é livre e por isso belo.
          O raciocinador transforma sua mente em um campo de batalha repleto de prPREejulgamentos e teorias. Esse lago turvo jamais poderá reproduzir o sol. Mas a mente do intuitivo flui silenciosa longe da obscura batalha das antíteses.  
          A mente do raciocinador é como um barco que anda de porto em porto, chamados de escolas, teorias, religiões, fanatismo de pátria e de bandeira..., reage conforme preceitos já estabelecidos.
          Segundo a mitologia grega, Íxion era um simples mortal que, no Olimpo, se encheu de desejo pela mulher de Zeus, Hera. O Deus supremo do Olimpo, não gostando nada disso, mandou amarrar Íxion a uma roda de fogo alada cercada de serpentes a girar incessantemente. No pensamento de Schopenhauer, a existência é análoga a uma roda de Íxion repleta de desejos insatisfeitos. “Para cada desejo satisfeito existem contra ele pelo menos dez que não são.”[166]
         

4.7 Crítica ao cientificismo  

          Somente os efeitos são objetos para a experiência, e não sua causa. Schopenhauer pensa que as representações abstratas não mostram um saber verdadeiro ou científico, pois a natureza da ciência é  sistemática por apresentar um entrelaçamento de conhecimentos. Uma combinação infinita de conceitos formando um sistema.[167] Este tipo de representação é exclusivo dos homens, pois somente eles podem formar conceitos e comunicá-los a outros homens que, junto com ele, se desenvolvem tecnologicamente. A representação abstrata é representação da representação. Isso significa dizer que a razão parte da representação que se tem do objeto para formar uma nova representação.
          Com a representação abstrata jamais se conhece a coisa em si, porque trata apenas dos conceitos. É o caso da linguagem e da ciência que permitem ao homem tão somente pensar e não intuir. O discurso, nesse caso, é intelectual — uma razão falando para outra razão comunicando conceitos abstraídos dos incontestáveis objetos. Tudo isso só é possível porque a representação possui um correlato subjetivo que é a razão. A razão se alimenta de percepção sensorial externa e por meio dos sentidos recebe as impressões e elabora as sensações. Ela é discursiva por natureza, não podendo agir sem a linguagem. Este é o estilo do animal humano, a razão lhe difere dos outros animais.
          A intuição é incomunicável, ao contrario disso, a representação abstrata é comunicável a partir do conceito pela linguagem de um sujeito único em sua compreensão. O conhecimento intuitivo só pode ser aplicado a objetos particulares, onde o entendimento idealiza um objeto de cada vez. Não existe assim um sistema, mas sim um conhecimento imediato daquilo que se apresenta no momento da intuição, no agora. Por outro lado, as atividades que estão entrelaçadas pelos conceitos, provêm do saber abstrato. A razão necessita substituir, o que foi conhecido intuitivamente, por conceitos, para  comunicá-los aos outros homens. O êxito virá se os conceitos forem corretos.
          O encadeamento do conhecimento que as ciências possuem vai do geral ao particular e dos princípios às conseqüências. A lógica, por exemplo, é o saber geral sobre as regras da razão, obtidas por abstração através de observação sobre um conteúdo qualquer. O melhor, nesse caso, é deixar a razão tratar dos casos particulares sem abstrair lei geral. O silogismo da lógica não dá origem a nenhuma ciência, embora seja ela importante por ajudar na organização da razão, ainda que sem utilidade prática. A A lógica deveria ser utilizada diretamente para o conhecimento da essência da razão e dos conceitos, pois seu juízo e silogismo ligam os conceitos.[168]
          O que importa para Schopenhauer é abalar a fé que filósofos e cientistas depositam na razão e nos conceitos formulados por eles. ― Para Schopenhauer a razão é apenas algo secundário. Afirmar que a razão garante a certeza para ele é no mínimo uma opinião equivocada, pois no principio do conhecimento está a intuição e não a razão.
          A intuição é o irracional que está no princípio de toda ciência. Com a razão entram em cena conceitos duvidosos que conduzem ao erro, e na vida prática levam a ansiedade e ao remorso.
          A ciência não se origina na razão, mas sim na intuição que a precede. Desta intuição, para que ela possa ser comunicada, são elaborados conceitos abstratos ou racionais. O saber, ou conhecimento abstrato, é tão somente uma parte do processo e não o todo. Quem se dedica à ciência, obtém um conhecimento total abstrato sobre uma determinada classe de objetos. Pelo conceito é possível isolar um objeto do todo. Desse conceito é admissível pensar o todo traçando relações entre as partes. Se a ciência desejasse conhecimento na totalidade a partir do conceito das partes, isso não seria humanamente possível. Por tudo isso, a ciência serve tão somente a uma necessidade intelectual. O fim da ciência não é a certeza mas sim o infindável agrupamento ordenador do conhecimento. Por estar na esfera da razão, a ciência só lida com fenômenos, não fornecendo sua essência última, permanecendo ainda como os prisioneiros da caverna de Platão que só enxergam sombras; sem poder ver direto a luz verdadeira dos objetos. A ciência fornece uma procura sem jamais encontrar o segredo do objeto. Assim o consolo é partir do exterior para o interior, quem sabe a  verdadeira essência do mundo seja encontrada na subjetividade, na interioridade, no íntimo de cada ser.[169]
          Schopenhauer teve especial interesse pelas ciências que deveriam estudar o fenômeno até a última lei, a causalidade. A missão da ciência é seguir o fenômeno sob a ótica da lei causal. Desfazer seus enlaces até o último detalhe, sempre buscando uma causa ulterior e novos encadeamentos. Assim poderá enriquecer seu saber e caminhar livremente. É preciso saber que a ciência não basta por si só para chegar a uma concepção definitiva de mundo, não somente porque a seqüência das coisas vai até o infinito, mas sim porque toda a imagem do mundo é só representação e não coisa-em-si. Assim o mundo todo está para ser representado e conhecido através da ciência, no entanto, ela não vai além do fenômeno.[170]

4.8 Crítica a filosofia               

          A filosofia é o saber mais universal, não há universalidade maior do que seus princípios. Ainda assim, o princípio de não contradição não fornece conceitos, ele estabelece tão somente a concordância entre os conceitos. O princípio de razão esclarece a relação entre os fenômenos, mas não os fenômenos em si. Conseqüentemente, a filosofia não pode partir de seus princípios em busca de uma causa final do mundo. A filosofia schopenhaueriana não investiga de onde veio o mundo, mas sim que cada um é o sujeito do conhecimento in concreto. A tarefa da filosofia é reproduzir in abstracto as sucessivas intuições e o amplo conceito de sentimento. Esta é a tarefa da filosofia, que tem de ser a expressão abstrata da essência do mundo. Mas, para não se perder na diversidade de juízos particulares, ela tem que se utilizar a abstração e pensar a parte na diferença com o universal. Assim a filosofia consiste naquilo que Platão dizia: o conhecimento do uno, do múltiplo, e do uno no múltiplo. Uma soma de juízos universais a partir do próprio mundo. A filosofia será o reflexo do mundo em conceitos abstratos, conceitos esses que serão idênticos ao em si. Isso só será possível separando o semelhante do dessemelhante.[171]
         
4.9 O saber

          O saber é a faculdade que o espírito possui de julgar com fundamento suficiente para conhecer aquilo que é exterior a si mesmo. Somente o conhecimento abstrato é um saber, porque nele se encontra a capacidade que o espírito possui de julgar com sua razão, e condicionado por ela. O saber não é intuição, é conhecimento abstrato das relações espaciais.
          Os animais não possuem um saber, mas sim conhecimento intuitivo. Se o saber é a capacidade de julgar com o espírito, e disso deriva a consciência ou ciência — os animais por não saberem julgar, não possuem consciência ou ciência e não formulam representações abstratas. Somente no homem se encontra esta capacidade, porque é dono de uma consciência abstrata. O homem sabe abstrair dos objetos seu conceito, sua essência.[172]

4.10 Razão e conceito
         
          O princípio de razão pressupõe o sujeito como aquele que conhece o objeto intuindo a relação causa e efeito, dessa relação causal ele forma a representação. Ele possui três aspectos inerentes ao conhecimento: tempo, espaço e causalidade. A representação se forma no sujeito que conhece, e não no objeto a ser conhecido. O objeto se apresenta ao sujeito para representá-lo, e assim existe um mundo inteiro para ser representado pelo sujeito. O princípio de razão faz ligações entre as representações depois de, intuitivamente, ter levado tudo ao entendimento. Então cria conceitos, pois a razão só tem essa finalidade ― criar conceitos  para explicar os fenômenos efetivos que se apresentam ao sujeito. A razão une conceitos do entendimento e os transforma em idéias, da mesma forma o entendimento ume os mais variados objetos em conceitos.[173]
          Assim existe uma única função para a razão, a de formar conceitos ou representações abstratas. O conceito é uma abstração daquilo que é essencial no objeto, simplificando desta forma  qua representação intuitiva, diferente do entendimento cuja função é relacionar a causa ao efeito. Todos os conceitos são representações abstratas nomeados de Razão e originários das representações intuitivas. Eles formam uma classe particular de representações encontradas somente no homem. O princípio de razão determina tanto a experiência quanto as leis de causalidade, motivação, e pensamento como forma de fundamentação dos juízos, a estas figuras Schopenhauer nomeou de princípio de razão de ser. A razão não pode fornecer  conhecimento sobre o absoluto por não ser uma faculdade da idéia ou da coisa em si. [174]
          A abstração dos conceitos formados pela razão, por conservar tão somente aquilo que é essencial, tem validade apenas pela sua extensão, remetendo uma representação abstrata a outra representação abstrata, uma espécie de remissão conceitual, tendo no final desse jogo de conceitos o conhecimento intuitivo. Toda reflexão te tm sua origem na intuição que é seu ponto de partida.[175]
          A reflexão é cópia do mundo intuitivo, por isso os conceitos são representação de representação, ou representação abstrata. Em outros termos, os conceitos intuídos indiretamente são denominados de abstracta, e aqueles com fundamento direto no mundo intuitivo são denominados de concreta.
          Com CCisso Schopenhauer faz sua crítica à razão por ela não acessar a coisa e si, e por conseqüência, não decifrar os mistérios do mundo e aquilo que está para além do fenômeno, o mundo em si, permanecendo somente na aparência do seu fenômeno. A crítica de Schopenhauer à razão é severa, segundo ele, a razão não proporciona uma vida feliz. A razão não evita o sofrimento, pois não há um meio termo entre a voracidade e a abdicação. [176]

4.11 O conceito e o erro

          A intuição é fonte primeira de qualquer evidência, e tão somente o que se refere a ela é verdade absoluta.[177] Os vários conceitos são a maior fonte de erro, eles são mal produzidos e imprecisos. Sempre que se constitui um juízo na forma sujeito-predicado do tipo “a água é transparente”, a razão precisa saber se a frase possui fundamento e conteúdo de base sólida dentro daquilo que é real. Se a razão verificar a validade dessa frase, tem-se uma verdade, mas, por vezes, a razão falha nessa verificação, é quando ocorre o erro.  De tal modo que alguém que pratique a arte da persuasão, pode acomodá-los de acordo com sua necessidade para chegar a finalidade a qual se propõe. Isto acontece porque a razão que fornece conceito pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal. A razão quando começa a ser usada, está sujeita a erros de juízo ao  ligar uma representação a outra. A razão faz ligações entre as representações depois de, intuitivamente, ter levado tudo ao entendimento para criar conceitos, pois a razão só tem essa finalidade, criar conceitos  para explicar os fenômenos efetivos que se apresentam ao sujeito. Na representação abstrata, entram em cena a teoria e o erro. A conclusão estará correta quando o fenômeno é relacionado a causa verdadeira, mas quem erra está supondo um fundamento errado, uma causa errada para o fenômeno, nesse caso, existe uma carência de entendimento, ou seja, uma incapacidade para conhecer a causa partir do efeito. Atribuem uma causa errada ao fenômeno por incapacidade do entendimento. Um exemplo disso é quando se diz todas as vezes, sendo que isso é um conceito muito amplo e que deveria ser substituído por às vezes ou ainda, na maioria das vezes. Assim a conclusão não seria errônea. O erro é semelhante a ilusão, um engano do entendimento enganando a razão. A explicação não deve ter por fundamento o encadeamento dedutivo, mas sim a relação entre a representação e seu princípio de conhecimento (as quatro formas do princípio de razão), e a origem da representação ou a coisa-em-si. Essas são as duas tentativas para explicar alguma coisa. [178] “O erro é o inimigo contra o qual os mais sábios espíritos de todos os tempos travam uma batalha desigual e apenas o que nele conquistam se torna patrimônio da humanidade.”[179]
          Esse é o lugar do erro, o ponto em que tropeçam as inteligências fracas entre a intuição e a abstração.[180] Ou seja, da passagem da representação intuitiva para a representação abstrata. Mais uma vez Schopenhauer repete que o exercício de deduzir conseqüências, realizado pela razão, é um ato que o mais comum dos mortais, desde que tenha sã consciência, pode realizar. No entanto julgar é imensamente mais difícil. Segundo Schopenhauer raros são aqueles que possuem a capacidade de julgar. Esses são os verdadeiros filósofos e sábios.[181]
          Mas nem tudo é negativo na razão, em seu lado positivo, a razão torna o homem comedido e freia as paixões.         
          Schopenhauer está convencido de que o lado irracional é fonte primeira de toda evidência, pois tão somente a referência imediata é uma verdade absoluta. Negar a intuição e usar conceitos, é como cortar as próprias pernas preferindo usar muletas, ou ainda, fugir da beleza da natureza para contentar-se com a decoração de um teatro que a imita. O destaque que Schopenhauer dá ao lado negativo da racionalidade chama a atenção de seus leitores para o pessimismo e para a irracionalidade da filosofia schopenhauriana.[182]

4.12 A consciência e ciência

          Consciência é um conceito derivado do saber. Quem sabe tem a consciência de algo, isto é, tem ciência do saber. Para corrigir o erro é que surgiu a consciência da reflexão, algo derivado da intuição fornecendo ao homem clareza de consciência, e assim esse homem pensa e sabe que pensa.


4.13 Razão prática
                                 
          A razão não conduz somente ao cientificismo, mas também a ação prática humana. Segundo Schopenhauer a diferença entre o homem e o animal é que o homem formula conceitos abstratos em sua consciência, o animal não.
          Os conceitos são formas que interferem decisivamente na existência do homem, já os animais, por ausência de razão, estão limitados a objetos reais representados intuitivamente e imediatamente no tempo. O homem, por causa do conhecimento abstrato, abrange também o passado e o futuro e toda a possibilidade que decorre além da vida real. Por isso, no homem, vida concreta e vida abstrata andam juntas. A primeira por levar em consideração a realidade do presente, o sofrimento, a morte, etc. A segunda, a partir da percepção racional, é o tranqüilo reflexo da vida concreta  alheio ao momento, distante, onde o homem se torna o observador da vida. O homem leva, portanto, uma vida dupla, a da abstração e a concreta.




 






5 CONCLUSÃO

A teoria do conhecimento de Schopenhauer, começa a tomar forma a partir dos anos de estudo e da viagem realizada na juventude à Europa. A pesquisa realizada sobre os Vedas, em 1814 na biblioteca de Dresde, deu a Schopenhauer suporte e organização ao seu pensamento. Nos Vedas, este mundo é causado por um outro mundo, o mundo de Atman, ou como preferia dizer Schopenhauer, o mundo da Vontade. Atman, no vedismo, é o mundo da vontade eterna, a alma do mundo. Com a vontade, a idéia platônica adquiriu forma em um sujeito que representa o mundo com suas categorias. Categorias estas, deduzidas a partir de Kant. A idéia assim se tornou manifesta em um sujeito que, através de seus sentidos, percebe  os fenômenos do mundo. A idéia é objetivação da vontade.
A representação é o ponto de partida para o conhecimento em Schopenhauer. Ela se forma no sujeito em contato com o objeto a ser conhecido, isso só é possível mediante o uso dos sentidos, da causalidade, do entendimento e do espaço/tempo. Essa é a forma mais simples que o sujeito tem de conhecimento. Trata-se de um trabalho que chega a seu fim quando o objeto é percebido nitidamente, esse é o momento que o objeto acaba de ser construído pelo sujeito, não lhe sendo mais algo estranho, mas sim conhecido. O entendimento reconhece as informações percebidas pelos sentidos como sendo um efeito. Com o auxílio do tempo ele procura uma causa para este fenômeno, ao encontrá-la localiza-a no espaço. O objeto assim está representando algo real para o sujeito.
Schopenhauer chamou de experiência direta à coleta de dados feita pelos sentidos, pois se trata de uma experiência mediante os cinco sentidos em contato com o objeto. A intuição intelectual acontece quando a partir dessa coleta de dados se conhece a causa do efeito, fazendo uso, desta forma, da categoria da causalidade. Assim a representação é fruto de uma intuição do mundo fenomênico através do entendimento do sujeito cognoscente.
O conhecimento representativo só é possível no tempo e no espaço, pois os sentidos somente captam formas daquilo que está lançado no tempo e no espaço. Isso significa dizer que as pessoas já nascem com a possibilidade ou com os sentidos apropriados para o conhecimento dos objetos. Uma estrutura de causa e efeito possibilitando o conhecimento. Nesse sentido, o conhecimento é causalidade visto que ele surge da relação do sujeito (causa do conhecimento) com o objeto a ser conhecido (efeito), dando origem ao conhecimento (causalidade). De um lado estão os objetos para serem conhecidos, do outro lado está o corpo de um sujeito com esquema apropriado  para o conhecimento. Quando o homem e seu esquema são debilitados, o conhecimento por sua vez também é. Se alguém fosse privado de seu entendimento, embora tivesse ainda os sentidos em perfeito funcionamento, as imagens recebidas seriam como manchas disformes.  Mas se essa pessoa recobrasse seu entendimento, logo começaria a conhecer o mundo e aprenderia a usar a razão e a entender o discurso, aprenderia a pensar e a formar representações abstratas.
A representação abstrata é representação da representação. Uma vez formada a representação intuitiva, quando a pessoa vê o objeto nitidamente, então a razão começa a pensar e a conceituar esse objeto. Esse conceito dá origem a uma nova representação. Para a razão a causalidade se apresenta na forma de reflexão, e é através dela que a razão formula conceitos sem levar em consideração a coisa-em-si, algumas vezes dá uma nova causa para o objeto, negando com isso a intuição. Schopenhauer não vê vantagens no uso da razão na formação de novas representações ou representações abstratas, visto que elas conduzem ao erro por unir conceitos sem levar em  consideração a intuição. No momento da intuição não há erro, por isso somente a representação intuitiva para Schopenhauer contém a verdade.
Representar é um ato de ver com a totalidade do ser. Representar é conhecer. Sem representação não existe conhecimento, assim como não existe representação sem sensibilidade e sem entendimento. A representação sem entendimento é uma figura vazia, algo sem serventia. Por isso o ser humano não é uma cabeça alada, mas sim cabeça e corpo, portador de sentidos externos e internos e dotado de intuição intelectiva.













REFERÊNCIAS


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[1] WEISSMANN, Karl. Vida de Schopenhauer. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980. p. 22.
[2] Cf. Jair Barbosa. São Paulo: Moderna, 1997. p. 17, o nome do Pai de Schopenhauer é Heinrich Floris. Em Jair Barbosa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003, p. 9 o nome do pai de Schopenhauer é Henri Flores.
[3] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 17-18.
[4] Nome que recebeu antes do casamento com o pai de Schopenhauer. BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 10.
[5] Atman ou Atma, significa alma do mundo, ou “princípio que tudo anima”. WEISSMANN, Karl. Vida de Schopenhauer. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980. p. 56.
[6] WEISSMANN, Karl. Vida de Schopenhauer. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980. p. 10.
[7] Idem.
[8] BARBOSA,Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1977. p. 11-12.
[9] Idem, p. 13.
[10] Idem, p. 14.
[11] Idem.
[12] Idem, p. 20-21.
[13] Idem, p. 53- 56.
[14] REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do romantismo ao empirismo. São Paulo: Paulus, 2005. v. 5.  p. 49-52.
[15] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1977.  p. 20-21.
[16] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 56.
[17] Idem, p. 56-57.
[18] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 56-57 e 69-73.
[19] WEISSMANN, Karl. Vida de Schopenhauer. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980. p. 69.
[20] SCHOPENHAUER apud  WEISSMANN, Karl. Vida de Schopenhauer. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980. p. 69. Observa-se que esta citação é uma cópia literal, Weissmann não colocou as reticências entre colchetes, não se sabe se o erro é do autor ou do tradutor.
[21] WEISSMANN, Karl. Vida de Schopenhauer. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.  p. 72.
[22] Idem, p. 73.
[23] Cf Jair Barbosa, nota nº 5, A “Escola de Frankfurt” constitui-se a partir de 1923, e seus principais expoentes são Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Walter Benjamim. BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1977. p. 23.
[24] WEISSMANN, Karl. Vida de Schopenhauer. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980. p. 74.
[25] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1977. p. 24.
[26] HEGEL apud  BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1977. p. 24.
[27] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1977. p. 24-25.
[28] Hegel nesse momento critica Fichte que, para resolver o problema da circularidade em seu pensamento, propõe um conhecimento imediato e, por isso, intuitivo. HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Fenomenologia do espírito. − 3ª ed. rev. − Petrópolis, RJ: Vozes: Bragança Paulista: Ed. Universitária São Francisco, 2005. p. 85.
[29] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1977. p. 24-25.
[30] WEISSMANN, Karl. Vida de Schopenhauer. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980. p. 159.
[31] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1977. p. 25-26.
[32] SAFRANSKI, Rüdiger. Schopenhauer y los años salvajes de la filosofia. Madrid: Alianza Editorial, 1991. p. 279-280.
[33] SAFRANSKI, Rüdiger. Schopenhauer y los años salvajes de la filosofia. Madrid: Alianza Editorial, 1991. p. 282.
[34] BOISSELIER, Jean. A sabedoria do Buda. Rio de janeiro: Objetiva, 2002. p.15,  faz uma rápida dissertação sobre os Vedas, mas nela não contém a data do período védico, e sim das três fases pelas quais passaram a civilização hindu (Indus): pré indusiana, do IV milênio à aproximadamente 2.300 a. C.; a indusiana de 2.300 a 1.700 a.C.; a pós-indusiana de 1.700 a 1000 a.C.
[35] Cf Boisselier, Jean. A sabedoria do Buda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.  p. 18, o bramanismo é um conjunto de conceitos religiosos e social definido e dirigido pelos brâmanes, inspirados pelos Vedas.
[36] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 57.
[37] Os Vedas, tradução Nelson C. Y. Cunha. São Paulo: Aquárius, s/data de edição.
[38] Cf. Jagadish Chandra Chatterji, A sabedoria dos Vedas. São Paulo: Pensamento, 1993. p. 13. O nome Veda significa sabedoria ou ciência, este nome foi atribuído à literatura mais antiga do povo indiano, a sabedoria contida nele remonta a milhares de anos antes da era cristã.
[39] BOISSELIER, Jean. A sabedoria do Buda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p.16.
[40] Platão fala de um ser andrógino que se desentendeu com os deuses e por castigo foi partido em duas metades. A bíblia conta à história de Adão e Eva que foram expulsos do paraíso. Enfim, tradições que relatam conflitos na origem dos homens.
[41] Karma, palavra que significa “ato”. Bhagavad-Gîtâ: a mensagem do mestre/tradução de Francisco Valdomiro Lorenz. 22 ed. São Paulo: Pensamento, 2006. p. 43-53.
[42] Schopenhauer considera ação como um dos quatro princípios de razão: o princípio de razão de atuar, nele se estabelece a razão da ação humana. GARDINER, Patrick. Schopenhauer. México: Fondo de cultura econômica, 1975. p. 97-112.
[43]Bhagavad-Gîtâ: a mensagem do mestre. Tradução de Francisco Valdomiro Lorenz. 22 ed. São Paulo: Pensamento, 2006. p. 7.
[44] Idem, p. 12-13.
[45] Idem, p. 15.
[46]  O Ser eterno “é impermeável, incombustível, indissolúvel, imortal, permanente, imutável, inalterável, eterno, e penetra tudo.” Bhagavad-Gîtâ: a mensagem do mestre/tradução de Francisco Valdomiro Lorenz. 22 ed. São Paulo: Pensamento, 2006. p. 31.
[47] Bhagavad-Gîtâ: a mensagem do mestre/tradução de Francisco Valdomiro Lorenz. 22 ed. São Paulo: Pensamento, 2006. p. 44.
[48] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 45, parágrafo 2.
[49] Bhagavad-Gîtâ: a mensagem do mestre. Tradução de Francisco Valdomiro Lorenz. 22 ed. São Paulo: Pensamento, 2006. p. 91.
[50] Idem, p. 92.
[51] Idem, p.140.
[52] A roda de samsara também é representada no Tarô egípcio por uma roda semelhante a de uma carreta, como no budismo, porém, no Tarô, com um zefirot de cada lado e a Esfinge egípcia acima. À esquerda da roda, zefirot Tifon representa a involução  daqueles que não conseguem revolucionar sua própria consciência. À direita, o zefirot Hermanubis representa a evolução pelos reinos mineral, vegetal e animal. No topo da roda a Esfinge simbolizando o equilíbrio onde é possível de  acontecer, no reino humano, a revolução da consciência. Esta roda é o número dez, a décima carta do Tarô, e simboliza a roda das mortes e nascimentos. O homem está preso a esta roda, igual à roda de Íxion explicada neste trabalho mais adiante. Semelhante idéia encontra-se também na cabala hebraica. 
[53] A data do nascimento e da morte do Buda Siddharta Gottama são incertos, no entanto sabe-se que ele viveu, pelo menos a maior parte de sua vida, no século V a.C. BRUNNER-TRAUT, Emma. Os fundadores das grandes religiões. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
[54] BRUNNER-TRAUT, Emma. Os fundadores das grandes religiões. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. p. 168.
[55] COOMARASWAMI, Ananda K. O pensamento vivo de Buda. São Paulo: Livraria Martins editora, 1961.
[56] Idem, p. 23.
[57] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 43.
[58] BRUM, José Thomaz. O pessimismo e suas vontades: Schopenhauer e Nietzsche. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 40.
[59] O taoísmo, doutrina criada por Lao-Tsé na china século VI a.C. , assim como no Upanixade, defende a existência de uma realidade unívoca, primordial, fora do tempo e do espaço e da causalidade, e que a tudo anima, esta realidade os taoístas chamaram de Tao. BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 57.
[60] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 23.
[61] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 57.
[62] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p.23
[63]FAFIN, Manuel Maceiras. Schopenhauer y Kierkegaard: sentimento y passión. Madrid: Ediciones   pedagógicas, 1985. p.53.
[64] KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Prefácio da segunda edição. São Paulo: Martin Claret, 2006. p. 30.
[65] REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da filosofia: do romantismo ao empirismo, volume 4. São Paulo: Paulus, 2005. p. 357.
[66] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 536.
[67] KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: SP. Martin Claret, 2006. p. 89-92.
[68] Idem, p. 73.
[69] Idem, p. 73-78.
[70] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 521.
[71] LEFRANC, Jean. Compreender Schopenhauer. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. p. 10.
[72] PERNIN, Marie-José. Schopenhauer: decifrando o enigma do mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. p.38.
[73] Sobre a intuição intelectual ler pág. 53 de O mundo como vontade e como representação. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005.
[74] Esse salto que segundo Schopenhauer Kant faz é sobre a intuição intelectual negligenciada por Kant.
[75] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 567-569.
[76] Os motivos são: “meramente a ocasião na qual minha vontade se mostra. A vontade mesma, ao contrário, encontra-se fora do domínio da lei de motivação: apenas seu fenômeno em dado ponto do tempo é necessariamente determinada por tal lei.” SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 164.
[77] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 151-156.
[78] PASCAL, Georges. Compreender Kant. Petrópolis: RJ. Vozes, 2005. p. 69.
[79] O objeto se apresenta ao entendimento que adiciona a representação ao pensamento por meio das doze categorias. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 557.
[80] Toda filosofia kantiana é transcendental. Um estudo sobre o entendimento humano, sobre a capacidade de conhecer a priori, e o a priori em Kant é o transcendental. KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo:SP. Martin Claret, 2006. p. 58.
[81] A representação para Kant é tarefa da sensibilidade aliada a sensibilidade para a compreensão das formas pura da intuição no tempo e no espaço. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 557.
[82] KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: SP. Martin Claret, 2006. p. 106.
[83] Idem.
[84] A espontaneidade do conhecimento está naquilo que não está dado no objeto do conhecimento. O objeto remete a uma capacidade receptiva, a uma espontaneidade em conhecer.
[85] Segundo Schopenhauer, a coisa-em-si, foi deturpada nas mãos de Kant. Schopenheuer se refere a coisa-em-si Kantiana como sendo um ser “andrógino” que é fonte erro em Kant. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 557
[86] KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo:SP. Martin Claret, 2006. p.107.
[87] PASCAL, Georges.  Compreender Kant. Petrópolis: RJ. Vozes, 2005. p. 69-73.
[88] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 30 – 31.
[89] LEFRANC, Jean. Compreender Schopenhauer. Petrópolis,RJ: Vozes, 2005. p. 70.
[90] Idem.
[91] KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: SP. Martin Claret, 2006. p. 52-53.
[92] PERNIN, Marrie-José. Schopenhauer: decifrando o enigma do mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. p. 44-52.
[93] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 526.
[94] Idem, 529.
[95] Idem, p. 529 – 531.
[96] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 151-164.
[97] REALE, Giovani; ANTISERI, Dario. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4. p. 366-367.
[98] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 180.
[99] PERNIN, Marie-José. Schopenhauer: decifrando o enigma do mundo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. p. 21-22.
[100] REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia pagã antiga. São Paulo: Paulus, 2003. v. 1. p. 132-141.
[101] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 191.
[102] Idem, p. 191, nota 14.
[103] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 53-54.
[104] Idem, 54.
[105] PLATÃO. Fédon. São Paulo: Nova cultura, 1999. p. 137-140. s/ano de edição.
[106] REALE, Giovani; ANTISERI, Dario. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 2003. v. 1. p. 137.
[107] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 43.
[108] Schopenhauer se refere ao realismo como sendo materialismo. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 71.
[109] Idem.
[110] O’CONNOR, D.J. História crítica de la filosofia occidental: Kant. Hegel. Schopenhauer. Nietzsche. Barcelona: Paidos, 1982. v. 5. p. 158 – 159.
[111] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 43.
[112] Idem.
[113] Idem, 44
[114] GARDINER, Patrick. Schopenhauer. México: Fondo de cultura econômica, 1975. p. 97-112.
[115] Idem.
[116] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 58.
[117] Segundo Barbosa, essa formas do conhecimento são inatas, pois estão com o homem desde que ele nasceu. BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 32-34.
[118] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 33.
[119] Idem, p.34.
[120] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 43.
[121] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 45.
[122] Idem.
[123] Idem, 43-46.
[124] PERNIN, Marrie-José. Schopenhauer: decifrando  o  enigma  do  mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. p. 36.
[125] Idem, p. 37.
[126] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 48-49.
[127] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 48-49.
[128] Semelhante teoria, sobre a infinitude do tempo, pode ser encontrada em Giordano Bruno (+1600 d. C.), ele também dá ao tempo caráter de infinitude devido a sua secessão. É a infinitude de uma alma imersa em um corpo finito que dá a infinitude desse mundo. “De maneira que, se esta terra é eterna e perpétua, não é tal pela consistência das suas próprias partes e dos seus próprios indivíduos, mas pela vicissitude dos que difunde, e dos que lhes sucedem no lugar daqueles; de modo que, ficando com a mesma alma e inteligência, o corpo vai-se mudando sempre, e renovando, pouco a pouco.” Existindo assim infinitos finitos. BRUNO, Giordano. Acerca do infinito, do universo e dos mundos. Fundação Gulbenkian, 4ª ed. p. 67.
[129] PERNIN, Marrie-José. Schopenhauer: decifrando o enigma do mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. p. 41-42.
[130] A causalidade foi explicada no item 3.2.3 A redução da ordem categorial de Kant em Schopenhauer, deste trabalho.
[131] O conceito de matéria para Schopenhauer é o conteúdo depositado no tempo e no espaço e sensível ao sujeito, matéria é devir, é mudança. Os objetos só são reais ao exercerem uns nos outros uma influência, do contrário, os objetos seriam desconhecidos para o corpo. PERNIN, Marie-José. Schopenhauer: decifrando o enigma do mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. p. 45.
[132] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 51.
[133] PERNIN, Marrie-José. Schopenhauer: decifrando o enigma do mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. p. 64.
[134] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 61.
[135] Idem.
[136] MANN, Thomas. O pensamento vivo de Schopenhauer. São Paulo: Martins Editora, l960. p.62.
[137] KANT apud SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 59.
[138] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 59. (grifos meu).
[139] Consciência, para Schopenhauer, é saber que se sabe, é a ciência do saber, a consciência ou ciência tem sua origem no saber abstrato.
[140] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 39.
[141] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 48-49.
[142] VEDAS e PURANAS apud SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 49.
[143] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 53.
[144] Idem.
[145] Idem.
[146] Idem, p. 64.
[147] Idem, p. 66.
[148] Idem.
[149] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 65.
[150] CACCIOLA, Maria Lúcia M. O. Schopenhauer e a questão do dogmatismo. São Paulo: Editora da universidade de São Paulo, 1994. Introdução, p. 63-64.
[151] BARBOSA, Jair. Schopenhauer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. Introdução.
[152] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 63-64.
[153] GAARDINER, Patrick. Schopenhauer. México: Fondo de cultura econômica, 1975. p. 155-156.
[154] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 69.
[155] Idem, 54-55.
[156] Idem, 53-55.
[157] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 53.
[158] Schopenhauer diz “[...] tudo são provas firme e irrefutáveis de que toda INTUIÇÃO não é somente sensual, mas também intelectual [...]” (grifos meu). Disso se deduz a existência das duas intuições: sensível e intelectual. No entanto em nenhum outro momento Schopenhauer se refere a intuição sensível, pelo contrário, segundo ele tudo não passa de coleta de dados. Negando com isso a intuição sensível. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 55.
[159] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 53-55.
[160] Idem, p. 568.
[161] Idem, p. 54.
[162] Idem.
[163] Kant, na Crítica da razão pura, critica a racionalidade científica, ou empírica por formar conceitos equivocados: a experiência diz  porque algo é assim, mas não diz se poderia ser diferente; ela também não faz juízos universais e sim indutivos pois sua análise é parcial não levando em consideração que toda regra tem sua exceção, e um juízo universal não admite exceção. A universalidade empírica é forçosamente arbitrária ao desconsiderar a exceção.
[164] Para Buda existem seis tipos de sensações: “a que nasce do contato com o olho, do contato com a orelha, do contato com o nariz, com a língua, com o corpo, com o espírito.” SAMYUTTA NIKÃYA apud COOMARASWAMI, Ananda K. O pensamento vivo de Buda. São Paulo: Livraria Martins editora, 1961. p. 207.
[165] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 81.
[166] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 58.
[167] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 91.
[168] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 93-115.
[169] Idem, 115.
[170] JODL, Friedrich. História de la Filosofia moderna. Buenos Aires: Losada s/ ano de edição. p. 570-574.
[171] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005.  p. 137-147.
[172] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 99-105.
[173] Idem, p. 47-50.
[174] PERNIN, Marie-José. Schopenhauer: decifrando o enigma do mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. p. 65.
[175] Idem.     
[176] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 138-148.
[177] Idem, p. 121-122.
[178] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: UNESP, 2005. p. 81-84 e 133-136.
[179] Idem, p. 81.
[180] PERNIN, Marie-José. Schopenhauer:decifrando o enigma do mundo. Rio de Janeiro, 1995. p. 69.
[181] Idem.
[182] BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997. p. 42.