As
tendências reprimidas que se encontram no inconsciente, segundo Freud,
“trata-se quase sempre de tendências sexuais”. Um pansexualismo que ainda
perpassa a obra de Freud e seus discípulos. Não vamos confundir o “quase
sempre” com “sempre”. Se no inconsciente encontram-se uma parte maior de
tendências sexuais do que outras tendências, isso deve-se ao fato da existência
de processos inconscientes expulsos da consciência pela repressão. Os elementos
que não foram reprimidos permanecem na consciência.
Desde
longa data, a sociedade e tendências religiosas, condenam a livre expressão da
sexualidade. Sendo canalizada esta expressão para o casamento legal, ou seja,
um único parceiro de sexo oposto e para toda a vida. Questões sobre a
sexualidade são estudadas por Freud desde a infância do analisando, e assim ele
afirma tendências sexuais na criança. Ao afirmar a sexualidade infantil, foi
possível também afirmar a repressão sexual na criança promovida pelos pais e
pela sociedade. Repressão esta que foi feita a partir de um modelo de educação
opressor que não prepara a criança para a sexualidade e sim reprime a pulsão
sexual desde a mais tenra idade. E assim Freud conclui que se os elementos
sexuais são reprimidos desde a infância é porque eles estão lá desde este estágio.
Com esta visão, fruto de dedução dialética, Freud conquistou adversários e
verdadeiros inimigos, chocou o senso comum bem como os meios científicos e
pedagógicos de sua época. Ele demonstrara a partir de seus estudos sobre o
inconsciente que o espírito crítico e o julgamento racional do homo sapiens constituem apenas uma parte
do psiquismo humano. Ao lado deste psiquismo existe uma mentalidade pré-lógica,
afetiva que emana do inconsciente. Este material, muito mais pressentido,
influi no raciocínio lógico. Isso significa que os medos, a repressão, a moral
e a forma como uma criança é educada tem uma grande influência na
racionalidade. Filósofos e médicos, contemporâneos a Freud, ao invés de
procederem como pessoas de ciência, comportaram-se como o “homem da rua”. Suas
observações exprimiam o preconceito da cultura e do meio social. Existe na
criança uma espécie de pré-sexualidade que não se queria ver, e a curiosidade
sexual da criança era reprimida.
Para
o psicanalista Abrahão Brafman, o estilo de vida de alguns pais cria problemas
nas crianças. A criança se constrói a partir dos exemplos dos pais e daqueles
que convivem com ela. O desenvolvimento cognitiva, intelectual e emocional da
criança, afeta a visão que a criança tem de si e do mundo. Com a visão da
sexualidade na criança foi possível entender melhor o adulto, pois há na criança
os traços do instinto sexual. Esse instinto, quando não trabalhado
adequadamente na infância, pode dar origem a perversão sexual no adulto.
O
complexo de Édipo rendeu a Freud o título de imoral. Moralistas e
preconceituosos tornavam a criança assexuada. A noção de que a criança se
identifica com o sexo oposto, podendo desejar sua mãe e odiar o pai, feriu
sentimentos na época de Freud. Quando Freud falava de sexual seus adversários compreendiam genital. Isso em Freud é um absurdo! O adulto sente o impulso
sexual e toma consciência dele, do objetivo e do objeto, a criança sente o
impulso sexual, mas não toma consciência dele.
Quanto
a extensão do termo sexualidade, que
foi frequentemente criticado, um simples olhar para a teoria freudiana nos dá a
percepção de que o termo abrange mais do que sexo genital. O amor maternal, a
ternura, a fraternidade e amizade, derivam da sexualidade. Embora Freud não
quisesse afirmar que a amizade, amor, ternura e fraternidade fossem em si
elementos sexuais, mas sim que derivam do instinto sexual, da libido e que
estavam deslocados ou transformados no psiquismo.
Para
conhecer um pouco mais sobre o complexo de Édipo é preciso remeter ao esquema
conforme Freud o concebeu nos Três
ensaios sobre a teoria da sexualidade, que tratam de
forma clara sobre o pensamento freudiano.
I -
Apego da criança em relação a mãe ou parente de sexo oposto ao seu.
II
- Hostilidade e ciúme, em relação ao pai ou parente de mesmo sexo, decorrente
do primeiro processo.
III
- Sentimento de admiração e de afeição em relação ao parente de mesmo sexo e
que se superpõe aos sentimentos hostis e cria ambivalência.
IV
- Sentimento de culpa, geralmente inconsciente e que são o cerne da hostilidade
experimentada.
Assim
o menino amará sua mãe e sentirá ciúmes do pai, considerado no inconsciente
como seu rival. No entanto, ao mesmo tempo, ele admira a força do pai. O mesmo
acontece com a menina que amará seu pai e verá a mãe com hostilidade.
O
complexo de Édipo existe em todas as crianças. Se elas conseguirem eliminá-lo,
normalmente esse é o caso, terão chances de não terem dificuldades ou
transtornos sexuais. Do contrário estará aberta a porta para as neuroses. É a
partir do complexo de Édipo que a sexualidade no adulto começa a tomar forma. O
primeiro amor da menina é pelo pai, e deste amor derivam os demais na faze
adulta. Mas para isso é preciso vencer o complexo de Édipo e substituir a
sexualidade infantil pela sexualidade adulta. O adulto sente o impulso sexual e
toma consciência dele e de seus objetivos. A criança sente um impulso
semelhante a do adulto mas não toma consciência dele. Quando um adulto sente um
impulso sexual, múltiplas formas de representações, jogos sexuais e suas
consequências tomam conta da consciência. Nada disso acontece com a criança.
O
preconceito de pessoas que não queriam ter seu inconsciente revelado e que
sustentavam uma criança pura, angelical e assexuada levou a acusação de um
Freud imoral. No entanto, o pensamento freudiano está embasado no amor
maternal, na ternura filial e a amizade que derivam da sexualidade. As relações
que unem a mãe e a criança, de certa forma e as relações sociais entre os
indivíduos, são ligações amorosas.
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