04/11/2018

A CULPA É DAS ESTRELAS

Eliani Gracez 

Lembro que no passado amávamos nossos professores. Eles pareciam tão sábios e inteligentes, e nós, crianças vorazes de aprendizado e de afeto. Ser afetado por alguém que parecia saber mais do que a criança podia imaginar, era a máxima de um professor. A disciplina era rigorosa, bastava um olhar e já sabíamos o que estava acontecendo. O mundo interior, ou, o mundo da subjetividade, era preservado e mantido em segredo. No entanto, não sei dizer se o passado é melhor do que os dias de hoje, onde tudo ou quase tudo nos foi revelado. O tempo da ilusão passou e talvez os dias de hoje deixem mais claro quem são as pessoas, não que o passado não as revelassem, apenas que a revelação se fazia de outra forma. Devemos muito ao rigor do passado o surgimento de instituições secretas. No rigor moral o oculto se instala, mas, nos dias de hoje, onde quase tudo é permitido, o oculto se revela. Tudo é uma questão de escolhas e não mais de necessidade moral, ou nos ocultamos ou nos revelamos. Bom! Como se diz por aí, nos dias de hoje tem muita gente saindo do armário, outros tantos permanecem no armário. O bom da história é que hoje temos opção de escolha. Opção que não existia no passado. Hoje, quem não quer sair do armário opta pelo passado, os demais escolhem o caminho da mudança. Seja qual for tua escolha, que seja para a felicidade, pois para a infelicidade é que não nascentes. Que seja não somente para a tua felicidade, mas também para aqueles que tu ama. Eis a ética da felicidade: eu não quero a felicidade somente para mim, também quero para aqueles que eu amo. Mas isso seria ético? Não, pois aqueles que eu não amo tanto quanto amo alguns, também merecem a felicidade. Lembro, certa vez, quando eu era ainda uma estudante de filosofia, conversando com um professor eu disse que eu não queria o céu somente para mim, eu queria o céu também para as demais pessoas. Meu professor respondeu, o céu não seria o céu se lá estivéssemos sozinhos. A época de estudante eu chamo de época do idealismo e da ilusão. Hoje, onde pouca coisa sobre a subjetividade humana não foi ainda revelada, eu chamo de época do realismo e de escolhas não ilusórias. O que as estrelas têm a ver com tudo isso? Sempre se pode culpar as estrelas por aquilo que não entendemos. Que todos os seres sejam felizes, já foi a máxima da minha ética. Hoje, com todo mal revelado, talvez eu pense como a canção que diz não desejamos mal a quase ninguém. Quase ninguém...

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