Lembro que no passado amávamos nossos
professores. Eles pareciam tão sábios e inteligentes, e nós, crianças vorazes
de aprendizado e de afeto. Ser afetado por alguém que parecia saber mais do que
a criança podia imaginar, era a máxima de um professor. A disciplina era
rigorosa, bastava um olhar e já sabíamos o que estava acontecendo. O mundo
interior, ou, o mundo da subjetividade, era preservado e mantido em segredo. No
entanto, não sei dizer se o passado é melhor do que os dias de hoje, onde tudo
ou quase tudo nos foi revelado. O tempo da ilusão passou e talvez os dias de
hoje deixem mais claro quem são as pessoas, não que o passado não as revelassem,
apenas que a revelação se fazia de outra forma. Devemos muito ao rigor do
passado o surgimento de instituições secretas. No rigor moral o oculto se
instala, mas, nos dias de hoje, onde quase tudo é permitido, o oculto se
revela. Tudo é uma questão de escolhas e não mais de necessidade moral, ou nos
ocultamos ou nos revelamos. Bom! Como se diz por aí, nos dias de hoje tem muita
gente saindo do armário, outros tantos permanecem no armário. O bom da história
é que hoje temos opção de escolha. Opção que não existia no passado. Hoje, quem
não quer sair do armário opta pelo passado, os demais escolhem o caminho da
mudança. Seja qual for tua escolha, que seja para a felicidade, pois para a
infelicidade é que não nascentes. Que seja não somente para a tua felicidade,
mas também para aqueles que tu ama. Eis a ética da felicidade: eu não quero a
felicidade somente para mim, também quero para aqueles que eu amo. Mas isso
seria ético? Não, pois aqueles que eu não amo tanto quanto amo alguns, também
merecem a felicidade. Lembro, certa vez, quando eu era ainda uma estudante de
filosofia, conversando com um professor eu disse que eu não queria o céu
somente para mim, eu queria o céu também para as demais pessoas. Meu professor
respondeu, o céu não seria o céu se lá estivéssemos sozinhos. A época de
estudante eu chamo de época do idealismo e da ilusão. Hoje, onde pouca coisa
sobre a subjetividade humana não foi ainda revelada, eu chamo de época do
realismo e de escolhas não ilusórias. O que as estrelas têm a ver com tudo
isso? Sempre se pode culpar as estrelas por aquilo que não entendemos. Que
todos os seres sejam felizes, já foi a máxima da minha ética. Hoje, com todo
mal revelado, talvez eu pense como a canção que diz não desejamos mal a quase
ninguém. Quase ninguém...
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