O
homem dos ratos é o nome dado a um trabalho publicado por Freud sobre um
paciente com neurose obsessiva. O homem dos ratos procurou Freud porque ele
acreditava que algo de desagradável iria acontecer com seu pai e a uma mulher
que ele tinha admiração. Freud realizou descrições ricas e precisas de rituais
e obsessões que seu paciente apresentava, buscando interpretá-los à luz de suas
teorias. O paciente, um jovem de educação universitária, apresentou-se a Freud
com a queixa de obsessões desde sua infância, mas com uma maior intensidade nos
últimos quatro anos de sua vida. Além dos temores com as duas pessoas que ele
mais amava, o homem dos ratos tinha também impulso como, por exemplo, cortar
sua garganta com navalha. Ele relata que é como se fosse uma voz nítida dizendo
o que ele deveria fazer. No dia em que sua amada iria partir, caminhando pela
estrada, retirou uma pedra para que a carruagem com a moça ao passar pelo lugar
da pedra não sofresse nenhum acidente. Contudo, pouco depois, pensou que a
ideia era um absurdo, e sentiu-se obrigado a voltar e colocar a pedra no lugar
onde ela havia sido retirada. A experiência que deu origem ao título "O homem dos ratos", se deu quando
um oficial descreveu, ao homem dos ratos, uma forma de castigo onde o
prisioneiro ficava sentado nu, amarrado sobre um recipiente contendo ratos, que
buscavam escavar seu ânus procurando uma saída. Tal pensamento passou a invadir
sua mente sem que fosse capaz de evitá-lo, passou a pensar que isso poderia
acontecer com seu pai, embora já falecido, e com a moça que ele amava. Quando
mais jovem, o homem dos ratos temia a morte do pai, passado um tempo, mesmo depois
quando seu pai já estava morto, ainda assim ele temia que algo acontecesse a
seu pai. Por mais que ele tivesse repudio e tentasse afastar os pensamentos a obsessão
e o sentimento de culpa permaneciam, embora vários tratamentos tenham sido feitos,
porém todos sem êxito. O homem dos ratos temia que algo acontecesse a seu pai
por ele não ter pago uma dívida por conta de um óculos que ele precisou comprar
no tempo da guerra e não conseguia pagar o frete. Ele também se considerava um
covarde desde criança. Criando toda uma neurose sobre uma dívida impagável até
que ao pegar um trem para Viena manda uma carta ao posto do correio com o
pagamento da dívida.
Freud concentrou sua análise em duas
questões com o mesmo valor para o homem dos ratos, o pai e a amada. A
intensidade dos sentimentos para com a mulher que ele cortejava e a raiva
contra o pai. O simbolismo dos ratos levou Freud e seu analisando a associações
que foram desde de o erotismo até lembranças de quando o homem dos ratos eliminava
lombrigas na infância e lembranças de quando ele fora espancado pelo pai por
ter mordido uma pessoa aos quatro anos de idade. Entre as associações
realizadas a partir da forma de pensar do analisando, destacaram-se o
perfeccionismo, a dificuldade de conviver com a incerteza, necessidade de
controle. Ao retirar a pedra do caminho onde a carruagem de sua amada iria
passar, queria ele ter a certeza de que nada de mal iria acontecer com a moça,
como se a vida dela estivesse em suas mãos naquele momento. Entre outras
observações era possível perceber o distanciamento dos afetos e obediência ao
pai. O homem dos ratos culpava-se pela morte do pai devido a severidade com que
ele o tratava. Culpando-se por odiá-lo quando deveria amá-lo. O discurso do amor ocultava o ódio. O homem
dos ratos se anulava diante da vontade paterna. Seu Pai queria que ele se casasse
por dinheiro e não por amor. O pai era um homem colérico e muito severo com
seus filhos, casou-se também por dinheiro. Freud pesquisa então o desejo de
morte do pai, embora o homem dos ratos afirmasse amar seu pai acima de tudo. O
amor era a condição do recalcamento do ódio. Com a rigidez em que fora criado,
um superego forte e o recalcamento de sentimentos desde a infância,
manifestaram-se neuroses e um comportamento de obsessão compulsiva. O rato
lembra sujeira e morde, o homem dos ratos quando criança mordia também, e assim
Freud descreveu em seu trabalho com o homem dos ratos sintomas relacionados com
o ânus, fezes e defecção. Este é um caso onde a terapia pela fala evidencia o
significado e significante. Tudo gira em torno do significado de ratos,
casamento, acasalamento e dívida.
A morte da irmã, esquecida pelo
homem dos ratos, faz lembrar-se de um encontro precoce com a morte, ele tinha
pouco mais de três anos quando sua irmã morreu. Existe, nesse caso, uma ligação
entre a morte da irmã e o desejo por uma mulher indefesa. Após um ano de análise o analisando curou-se
de seus sintomas. Segundo Freud o delírio dos ratos desapareceu. Freud
descreveu detalhadamente os sintomas do transtorno obsessivo compulsivo,
obsessões, compulsões, anulação que são válidos até os dias de hoje. Embora
nunca tenha sido comprovada a existência do inconsciente, Freud deixou um
legado transcrito das seções com o homem dos ratos que até hoje são estudados. Diferente da Histeria, a obsessão é um
pensamento, um nexo causal. Por exemplo: se meu pai fosse vivo ele me puniria e
eu me revoltaria contra ele e ele morreria por isso. Como se o pensamento
tivesse todo esse poder.
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