30/11/2010

A GUERRA CIVIL


A mais excelente obra da natureza, o Homem, é um lobo devorador de outros lobos, e o estado um grande monstro marinho chamado Leviatã, criado para proteção e defesa daqueles que não conseguem sobreviver naturalmente. O grande Leviatã possui uma alma artificial, sua soberania. O poder executivo, legislativo e judiciário nos lembram de que devemos cumprir com o dever, mas é a riqueza e a prosperidade dos integrantes do estado que dão a ele força e segurança. Estão nas mãos deste corpo político, a justiça, as leis, a saúde, a guerra civil e a morte, a razão e a vontade. E assim o estado tem aquele “Fiat”, “faça-se a luz”, de um Deus na criação. Mas quando a alma do grande Leviatã enfraquece devido a corrupção de seus membros, o monstro cai e caos toma conta. Semelhante a isso acontece quando nós não cuidamos bem de nossos filhos, eles acabam sendo adotados por traficantes que dão a eles o que eles têm de melhor, as drogas. Não vamos nos enganar, pois o mal possui sua inteligência e se organiza através dela. Por isso o grande Leviatã, que deveria promover a segurança pública, se vê, as vezes, enfraquecido por um outro tipo de inteligência maligna e devastadora. O Brasil tem se tornado refúgio para traficantes em fuga e rota de tráfico para a Europa. A luta contra o narcotráfico não é tarefa fácil devido ao tamanho de nossas fronteiras e pela vizinhança que nos cerca como Bolívia, Peru e Colômbia, grandes produtores de cocaína. Tanto nossas fronteiras terrestres como marítimas possuem tamanho continental. Vigiar fronteiras, porto e aeroportos, que transportam pessoas e cargas faraônicas, tornou-se um grande desafio para este grande estado brasileiro. Um outro tipo de inteligência está se infiltrando no Brasil oriundo de drogas e promotora de um sistema financeiro que, como qualquer outro sistema financeiro, precisa de capital para se manter. A miséria de uns e a ganância de outros, mantém o crescimento veloz do narcotráfico. Por tudo isso o Rio de Janeiro está vivendo uma verdadeira guerra civil. Há quem afirme que o inimigo seja outro e está a se perguntar pelos promotores do tráfico, controle de milícias na área, venda de segurança etc. Tudo bem! A alma do grande Leviatã está enfraquecida sim, seja por um motivo ou por outro. São tantos os motivos que já não importam mais. O tráfico tem que acabar. E o Brasil tem que mostrar que possui um forte Leviatã.
Eliani Gracez Nedel

17/11/2010

O GRANDE MAL DO SÉCULO

Qual será o grande mal deste século? Com certeza será aquele que matará um número maior de pessoas. Entre os concorrentes ao primeiro lugar estão as drogas, a guerra no trânsito e a depressão. Uma briga de Titãs, onde seres humanos perdem suas vidas, dignidade e decência. A desestrutura familiar, pessoal, problemas na educação, insegurança, imaturidade, irresponsabilidade, ausência de valores, falta de ideal, modismo, ou simplesmente por não saber o que fazer com a própria vida, são apontados como os grandes vilões na história das drogas. Drogas são substâncias químicas e, em grande parte, responsáveis pela violência que assola o Brasil. Entre as drogas o Crack tem se demonstrado a mais devastadora devido a rapidez com que causa dependência e degeneração físico e mental, levando rapidamente seu usuário a morte. Por um motivo ou por outro, o Crack está se tornando a maior de todas as “epidemias”. Mas tem quem pense que o mal do século seja a depressão e ansiedade. A melancolia do passado sobreviveu ao tempo, passeou pelo medievo com o nome de “loucura” e chegou ao nosso século. Quem ainda não tomou remédio para esse mal? O problema se tornou grave por não haver diferenciação entre quem realmente tem necessidade de química para regular seu humor, e quem está apenas triste. Por isso, um número cada vez maior de pessoas apostam em antidepressivos para encontrar a felicidade. Um remédio e pronto, tudo estará resolvido. Mas, no mundo do artificial, onde o ser humano uniu-se de forma parabiótica a máquina, e se tornou Ciborg, a alegria também tende a se tornar igualmente artificial, movida por drogas, bebida alcoólica e antidepressivos, e, é claro, Viagra. E o que dizer da guerra diária?! Quem não se sente um sobrevivente no final do dia ao chegar em casa? Ufa! Cheguei! Não é assim mesmo? O Brasil produz o equivalente a uma cidade de mutilados do trânsito quase que diariamente. Uma verdadeira carnificina divulgada diariamente nos jornais de todo Brasil. Para piorar a situação, o governo brasileiro acredita que vai resolver o problema criando novas leis. Criar leis é fácil, o difícil é encontrar quem as cumpra. O lamentável da história é que a situação está para piorar, pois aumenta a cada ano o número de carros, de motos, de drogados e, sobretudo, de infelizes em busca da tal felicidade.
Eliani Gracez Nedel

04/10/2010

DO CAOS À ORDEM


Do caos surge a ordem. A ordem, nesse caso, é uma inteligência organizadora da vida, e tem seu expoente na política. A política é a organização social que justifica os mais variados interesses do povo. Viver bem é viver em uma sociedade organizada com justiça, liberdade, igualdade e, é claro, moral. Mas será que é possível pensar em igualdade em uma sociedade livre e com diferenças religiosas, moral, diferentes pensamentos, onde a verdade é relativa a cada pessoa, afinal, o que é verdade para alguém pode não ser para o outro. O que serve para uma pessoa pode não servir para outra pessoa. É possível igualdade em meio a tanta diferença existencial? Platão, em sua obra A República, organiza a polis colocando cada indivíduo em seu lugar. Um lugar que respeita o jeito de ser de cada indivíduo. Como se a polis fosse uma grande máquina e cada pessoa se encaixasse em um lugar para o bem do todo. Cada pessoa no seu lugar dando equilíbrio e harmonia para as mais diferentes estruturas que compõe a sociedade. Semelhante a uma orquestra, onde os instrumentos, por mais diferentes que eles sejam, contribuem para a beleza da obra, organizada por seu maestro. Mas a pergunta que eu estou me fazendo, neste momento, é: como será que os políticos que estão sendo eleitos pretendem promover a organização social? Que inteligência eles pretendem usar para promover a ordem? É muito bom que eles tenham uma, porque na ausência de inteligência organizadora para o caos, os inimigos do estado aparecem e o corrupto encontra seu lugar. O problema do caos torna-se maior ainda quando algumas pessoas confundem honestidade com “burrice” ou com “babaquice”. Confundir, “alhos com bugalhos”, nem sempre é tão interessante quanto no trocadilho. Nossa natureza política talvez tenha sua origem em uma incapacidade de uma vida solitária?, ou será que ela surge da necessidade de poder? O fato é, ou pelo poder ou pela necessidade de viver em grupos organizados, somos todos, de alguma forma, políticos. E exercitamos essa capacidade quando colocamos ordem em nossa vida, em nossa casa. Embora a vida de algumas pessoas seja um verdadeiro caos. Bem! Alguns são mais politizados outros nem tanto. Tem quem pense que cada povo possui os governantes que merece. Se isso estiver correto, em breve veremos que governantes o povo brasileiro merece. Penso que veremos quem é o povo brasileiro.

28/08/2010

UM PAÍS SEM EDUCAÇÃO

Um dia eu acordei nesta terra, tão pequena ainda, não sabia o que seria a vida. No meu mundo, visto do portão da minha casa, eu não conseguia imaginar que a luta incessante pela vida mal estava por começar. Havia eu, como um anjo caído, parado em meio a uma guerra sangrenta. Rodeada, por todos os lados, por mutilados e mortos. Vi o descaso com a vida e a falta de respeito pelo ser humano. Mas, afinal, o que se pode esperar de um povo sem educação? A guerra que eu vi, pasmem vocês, era causada por condutores de veículos. Motoristas selvagens que matam sem dó e sem piedade. Julguei, na minha inocência infantil, ter vindo parar em um país sem lei, terra de ninguém. O tempo foi passando e a situação do trânsito piorando. O Brasil produz o equivalente a uma cidade de mutilados do trânsito quase que diariamente. Para piorar a situação, o governo brasileiro acredita que vai resolver o problema criando novas leis. Criar leis é fácil, o difícil é encontrar quem as cumpra. Lembro-me agora do que Aristóteles dizia: ”ótimo é aquele que de si mesmo conhece todas as coisas; bom, o que escuta os conselhos dos homens judiciosos. Mas o que por si não pensa, nem acolhe a sabedoria alheia, esse é, em verdade, um homem inteiramente inútil”. A questão que não quer calar é ─ como fazer com que esses inúteis, que não aprendem por si e não escutam aqueles que criam as leis, cumpram com a lei. Kant dizia que o princípio da corrupção está quando alguém se julga exceção a regra. Quando o condutor de um veículo passa no sinal vermelho, bebe e dirige e abusa da velocidade, ele o faz por se julgar exceção a lei. Tal criatura não passa de um corrupto que não aprende nada por si e nem ouve aos outros. Porque para quem quer aprender os jornais divulgam quase que diariamente a triste estatística da cruel mortalidade no trânsito ─ Uma verdadeira carnificina ─ A irresponsabilidade e imaturidade, neste país, custam vidas e mais vidas diariamente. Vidas que são ceifadas como se nada valessem. O lamentável da história é que a situação está para piorar, pois aumenta, a cada ano, o número de carros, de motos, de drogados, de irresponsáveis, e, sobretudo, de inúteis e corruptos. Como pôr um fim a tudo isso? A resposta é simples: com educação. Quem sabe, assim, no futuro, quando outras crianças acordarem nesta terra, elas encontrem um lugar melhor para viver.




17/07/2010

AS LEIS

É mais fácil criar uma lei do que fazer alguém cumpri-la. A lei existe para aqueles que não possuem sabedoria. O homem sábio não precisa de leis para guiá-lo, ele conhece seu dever como cidadão, como indivíduo, como pai, enfim, sabe o que é ser um ser humano. O sábio conhece a diferença entre o animal e o humano. Sobretudo ele sabe fazer bom uso de sua liberdade. Liberdade não é para todos, é para aqueles que sabem usá-la para o bem da coletividade. Aos demais, existem as leis para lembrá-los da boa conduta moral. Lembro-me agora de Aristóteles que dizia: ”ótimo é aquele que de si mesmo conhece todas as coisas; bom, o que escuta os conselhos dos homens judiciosos. Mas o que por si não pensa, nem acolhe a sabedoria alheia, esse é, em verdade, um homem inteiramente inútil”. A questão que não quer calar é ─ como fazer inúteis cumprir a lei. Para Aristóteles se conhece o homem pelos seus atos. Aqueles homens que cometem atos injustos são tão injustos quanto seus atos. O contrário também é verdadeiro, pois o homem cuja ação é justa é um homem justo. A ação, nesse caso, está relacionada ao caráter da pessoa. O homem justo é o que cumpre a lei, já o injusto é homem sem lei que viola a proporção, quer para si a maior parte do bem e a menor parte das coisas que são más, causando assim desequilíbrio. A justiça deve ser proporcional, e por isso trazer equilíbrio e felicidade. Para isto serve o juiz, para dar a justa medida. O juiz não pergunta se o homem é bom ou mau, o juiz pergunta quem lesou e quem foi lesado, para dar equilíbrio ao caso. A lei é semelhante ao homem justo, tem ações justas que visam o bem coletivo. A lei não é parcial como os injustos que visam somente o próprio bem, ela visa o bem de todos. A lei bem elaborada conduz a atos justos. Portanto, pessoas justas cumprirão com a lei de não bater em seus filhos, mas esses não precisam de lei, eles conhecem seu dever de pai e de mãe. Mas os injustos...
Uma representação mitológica da justiça tem a deusa Atenas segurando em sua mão direita a espada, em sua mão esquerda a balança, em seu ombro uma coruja simbolizando a clareza da visão, mesmo na escuridão da noite a coruja enxerga sua caça. Atenas, nesta representação, não tem os olhos vendados. Criar leis é uma das mais antigas formas de organização social. Platão, antes de morrer, deixou o livro As Leis, símbolo de uma sociedade civilizada.






31/05/2010

FILHOS DO MEDO

Eliani Gracez

O ser humano encontrou no medo uma forma de organização social. Surge assim a cultura do medo. Impor limites, para alguns, é impor o medo. E assim, milhares e milhares de crianças foram educados pelo medo, para o medo e com medo. Crianças que cresceram limitadas, angustiadas, e, é claro, infelizes. Quando uma criança é educada com medo, ela se torna obediente e incapaz de impor sua vontade diante das relações desiguais. O medo assume uma representação marcante e limitadora da potencialidade humana. Por isso, a educação, historicamente, se deu através de castigos e agressão. E assim, ao longo dos séculos, o medo foi “o carro chefe” da educação. Como bons filhos do medo, tememos até mesmo a liberdade, pois o medo impõe um limite atroz, e por isso desconhecemos a liberdade. Medo de morrer, medo da velhice, medo da doença, medo de perder o que foi conquistado, medo de promover mudanças na vida, por isso preferimos a mesmice, medo do desconhecido. Medo de encarar um novo desafio e perder tudo. Medo de ter que começar tudo outra vez. Medo! Medo! Medo! Onde há o medo não pode haver sabedoria, dizia um filósofo antigo. Não sabemos mais viver sem medo e sem disseminar o medo. Seja através de uma chinelada no filho ou um olhar ameaçador. Tem até quem pense que só respeitamos aqueles a quem tememos. É por não saber fazer se respeitar de outra forma, que o ditador impõe o medo e alguns pais usam o chinelo. Quanta ausência de sabedoria! Tudo isso, porque ao invés de criar a cultura da felicidade e ensinar aos filhos como fazer bom uso da liberdade, por falta de sabedoria, criamos a cultura do medo. E hoje, por mais que uma mudança no paradigma da educação seja necessária, tememos a mudança. Foram séculos e mais séculos de educação pelo medo. E com isso, a liberdade em pessoas despreparadas para ela, tomou caminhos tortuosos. Tudo isso porque a liberdade na cultura do medo foi afastada, extirpada como se fosse um grande mal. O desafio é grande, acabar com a cultura do medo é dar a todos os seres humanos a mesma condição de igualdade ou de liberdade. Por isso hoje se fala em “rede” ou “teia” na área da educação e da família. Onde uma pessoa não é mais importante do que a outra. O problema é, quem é que sabe educar sem se impor através do medo? Onde estão nossos sábios? Ditadores poderíamos apontar um monte, mas sábios, quem conhece um?


20/05/2010

ENSINEM SEUS FILHOS A FALHAR

Eliani Gracez
O modelo tradicional de família tem sofrido modificações significativas. O modelo do passado era de uma hierarquia, em forma de pirâmide, onde os filhos deviam obediência aos pais. Esse modelo tornou-se decadente e foi substituindo por um novo modelo, onde o filho é tão respeitado quanto o pai, e a mulher tem a mesma igualdade e os mesmos direitos que o homem. Esse novo modelo não é bom nem ruim, ele é apenas diferente. O problema é que esse novo modelo requer uma nova forma de educação. A nova criança não tem medo, é ousada, não teme os pais e quer liberdade para fazer suas próprias escolhas. Ela quer ser “dona do seu nariz”. Com isso os pais perderam a autoridade sobre os filhos. A educação pela autoridade deve ser substituída por um novo modelo rico em sabedoria, onde a criança compreende sua importância no mundo e é preparada para exercer seu papel dentro da sociedade. Essa nova criança surge como espelho à liberdade da mulher. A submissão da mulher, no passado, também foi modelo para crianças que deram continuidade ao patriarcado. Em meio a essa mudança toda, tem jovens que não sabem o que fazer com sua liberdade, porque não foram preparados para enfrentar o grande desafio que é viver e fazer escolha. Se no passado os pais faziam escolhas pelos filhos, hoje são os próprios filhos que fazem suas próprias escolhas. Isso exige um preparo que muitos não têm. Exige que pais preparem seus filhos para fazer estas escolhas. Nesse novo paradigma também é preciso ensinar aos filhos a lidar com a adversidade e com as falhas humanas. Não somos perfeitos, vamos errar inevitavelmente mais cedo ou mais tarde. No entanto, os pais de hoje procuram dar de tudo aos filhos e criam a ilusão de uma vida sem erros. No passado, quando uma criança tirava notas baixas na escola, ela sabia que teria de se justificar diante dos pais. Hoje, quando uma criança vai mal na escola, os pais tratam como se a falha fosse do professor e não da criança. No modelo atual, é o professor que tem que se justificar pelo baixo rendimento do aluno, eximindo a criança do erro. O sonho de uma vida sem erros e repleta de prazer, muitas vezes acaba no consumo de drogas. Uma fuga às dificuldades da vida que nem sempre é tão perfeita quanta a infância. Um passarinho que cresceu em uma gaiola, quando é colocado em liberdade morre, porque ele não aprendeu a voar livremente.

16/05/2010

O PENSAMENTO:UMA INVESTIGAÇÃO LÓGICA

RESUMO

Entre os escritos de Gotlobb Frege o ensaio “O pensamento” ultrapassa as fronteira da semântica e penetra no domínio da filosofia da mente. Apesar de O pensamento ter sofrido criticas devido ao seu platonismo, a obra inspira debates até os dias de hoje. Frege, nascido na Alemanha em 1848, trabalhava na fronteira entre a filosofia e a matemática. Foi o principal expoente da lógica simbólica moderna e daquilo que ficou conhecido como sendo a virada linguística. É considerado, junto com Aristóteles, o maior lógico de todos os tempo. Frege não estava preocupado com a Filosofia, mas sim em corrigir erros de demonstração de argumentos válidos. O que Frege queria era evitar mal entendidos e erros no pensamento.

1 INTRODUÇÃO

A filosofia surge como uma necessidade de compreender melhor o mundo de nossa experiência. Isso nos diz que o mundo não se revela a si mesmo como algo espontâneo e natural. Para compreender o mundo de nossas experiências, é preciso analisá-lo. A análise pressupõe uma decomposição de conceitos para definir melhor o próprio conceito. Definir é significar melhorar alguns conceitos básicos. Chegamos então a análise da linguagem como método de filosofia, pois conceitos são considerados entidades linguísticas. Partindo desses pressupostos, a filosofia analítica surge no final do século XX, como uma reação ao hegelianismo (idealismo absoluto) e ao kantismo (filosofia transcendental).
A semântica clássica, desenvolvida a partir de Frege e Russel, destacou-se no século XX com a teoria das descrições definidas e o atomismo lógico que, junto com Wittgenstein, Tractatus lógico-philosophicus, 1921, e Moore caracterizam a chamada escola Analítica de Cambridge. É possível, ainda, nessa tradição, incluir o positivismo lógico do chamado círculo de Viena, influenciado por Wittigenstein.
Gottlob Frege trabalha na fronteira entre a filosofia e a matemática. Foi o idealizador da lógica matemática ou lógica simbólica moderna. É considerado, junto com Aristóteles, o maior lógico de todos os tempo. Frege não estava preocupado com a Filosofia, mas sim em corrigir erros de demonstração de argumentos válidos. O que ele queria era evitar mal entendidos e erros no pensamento.
As impressões sensíveis determinam, quase que de forma exclusiva, o curso das representações, e nelas nos movemos a vontade. Essa é uma dependência que dificilmente se poderia escapar, caso o mundo também não dependesse de nós em algum momento. O mundo que nos cerca é influenciado por nós através da apreensão do pensamentos, que penetra no domínio da vontade de cada pessoa. Isso leva a crer que não nos movemos tão somente no mundo das representações, mas também no domínio do pensamento que, ao ser exteriorizado, modifica o mundo vivido por nós.

2 A VIRADA LINGUÍSTICA

A linguagem, nos dias atuais, tornou-se questão fundamental para a filosofia. Do confronto entre filosofia transcendental e filosofia analítica, surge a “crítica do sentido” enquanto crítica da linguagem. Para a filosofia transcendental, o objeto é uma construção da razão do sujeito. Nesse caso, o ponto principal da investigação não é o objeto, mas sim a razão que procura conhecer o objeto. Segundo Kant, em nossa razão são encontrados princípios do conhecimento daquilo que é dado a priori a partir da razão pura, como formas do intelecto e leis da representação que o sujeito faz da existência. Desse idealismo Frege mantém os juízos analíticos, pois considerou o “a priori” sem sentido. Dizer, por exemplo, que a=a, ou, que uma pessoa é igual a ela mesma, não acrescenta em nada ao pensamento. Essa tautologia apriorística redunda em algo sem sentido. Para Frege o que importa é o conteúdo proposicional e não o seu apriorismo. É no conteúdo que o sentido e o pensamento são encontrados. Embora a analítica deixe de lado os juízos sintéticos a priori, ela mantém a relação do sujeito com o objeto, que agora não tem mais por mediador a razão pura, mas sim a linguagem. Isso significa dizer que o sentido das coisas não está mais na razão de um sujeito que conhece a priori, e sim na proposição. O pensamento contido em uma proposição é o seu sentido. Com o deslocamento do pensamento para a proposição, se deu a virada linguística que modificou o cenário filosófico.
A virada linguística é uma maneira de significar a pergunta filosófica. Não perguntamos mais pela essência do conceito, a pergunta agora é pelo uso desse conceito na linguagem. Isso significa dizer que a linguagem passa para a esfera dos fundamentos do pensar. A pergunta pelo sentido se tornou a pergunta pelo sentido de uma proposição e seu valor de verdade com relação ao mundo exterior a nós. Pois não existe mundo totalmente dissociado da linguagem, bem como não existe mundo que não possa ser expresso na linguagem. A linguagem é o lugar de expressão do mundo.

3 SOBRE O SENTIDO E A REFERÊNCIA

Para Frege, nascido na Alemanha em 1848, o sentido é aquilo que ao traduzir um livro não pode ser adulterado. Trata-se do modo de apresentação de um símbolo. O sentido é o que captamos quando compreendemos uma palavra. Ele não é o objeto e nem a representação que fazemos dele. Para esclarecer melhor, Frege usa o exemplo da lua sendo observada por alguém através de um telescópio. A lua em si é a referência, o objeto de observação. Uma pessoa ao observar a lua, forma uma representação a partir de seus sentidos, entendimento e intuição. A representação, nesse caso, é unilateral e arbitrária, ela é o ponto de vista de cada pessoa. Cada indivíduo ao contemplar a lua, forma sua própria representação do objeto em questão. A imagem projetada na lente no interior do telescópio é comparável ao sentido, que pode servir a vários observadores. Assim o sentido não é o objeto, mas também não é o ponto de vista do observador. O sentido é o modo como o objeto é apresentado, sendo ele objetivo pelo fato de poder servir a vários observadores.
A sentença “a estrela da manhã é um corpo iluminada pelo sol”, possui como referência o planeta Vênus; como descrição definida o nome “estrele da manhã” ; e por sentido o pensamento expresso pela sentença, ou o modo de apresentação do objeto.
Alguns enunciados não possuem referência. A frase “Ulisses profundamente adormecido foi parar em Ítaca”, possui um sentido, mas talvez não possua uma referência. Não importa se Ulisses existe de fato para o pensamento. Para haver sentido não precisa que exista uma referência, mas sim um modo de apresentação do objeto. No entanto, caso alguém queira dar a essa frase um valor de verdade, teria que atribuir a ela uma referência que fosse falsa ou verdadeira, pois é da referência do nome “Ulisses” que o predicado é afirmado ou negado. Portanto, mesmo que “Ulisses” não tenha uma referência, o pensamento contido no enunciado continua o mesmo, pois o sentido e o pensamento independem da referência.

4 O PENSAMENTO: UMA INVESTIGAÇÃO LÓGICA

Frege inicia o artigo O pensamento, caracterizando a natureza da lógica. Para ele a natureza da lógica consiste em encontrar as leis do ser verdadeiro. São regras de inferências válidas onde a verdade das premissas está preservada na conclusão. Um exemplo sobre isso é “Se P então Q”, por meio da lógica da implicação, “P” implica na verdade de “Q”. Se “P” é verdadeiro, então “Q” também é. Outro exemplo, agora de um erro histórico de dedução, é o enunciado cartesiano. “Penso logo sou” (existo). Da palavra “penso” não se deduz a existência, mas sim que tem alguma coisa que pensa. O correto seria dizer: penso, logo tem algo que pensa. São erros como esse que Frege queria corrigir.
Assim como a palavra “belo” é objeto da estética, e “bem” objeto da ética, a palavra “verdadeiro” é objeto da lógica. Descobrir verdades é tarefa de todas as ciências. No entanto, é tarefa da lógica discernir as leis do ser verdadeiro. As leis do verdadeiro, não são leis morais ou jurídicas. Também não são leis da natureza, por mais que os acontecimentos estejam em consonância com a natureza, e o verdadeiro, por isso, se assemelhe a ela. O problema é que o verdadeiro não é um acontecer, um asserir como se fosse verdadeiro, mas, sobretudo um ser. Das leis do ser verdadeiro decorrem prescrições, o pensar, o asserir, o julgar e o raciocinar.
A verdade não pode ser uma relação entre imagem e seu objeto, pois imagens de coisas das quais eu não posso comparar com o objeto, teriam que ser rejeitadas, limitando deste modo a verdade. Cada representação teria que ser sempre comparada ao objeto da representação para saber se é ou não verdadeira. A verdade não pode ser considerada relação ou comparação entre imagens e objetos e tão pouco uma relação de objeto para outro objeto. Se fosse uma relação entre objetos, cada cédula de dinheiro teria que ser comparada a uma cédula original, para só então afirmar sua veracidade. A verdade também não é uma correspondência entre uma ideia e o objeto real. A comparação entre uma ideia e seu objeto real nunca seria perfeita, seria uma semelhança e não uma correspondência perfeita. Teríamos, nesse caso, uma verdade parcial, mas isso não existe. Ou é verdade ou não é. Não existe o mais ou menos verdadeiro. A verdade também não ocorre quando ela se dá a partir de um determinado ponto de vista. Ponto de vista cada pessoa tem o seu, e qual desses pontos de vista seria o verdadeiro? E assim malogra qualquer tentativa de estabelecer a verdade como correspondência. Quando alguém diz: “minha ideia corresponde a Catedral de Colônia”, isso é uma sentença, e assim o que esta em jogo é a veracidade desta sentença. Portanto, a verdade não é uma ideia ou imagem. A verdade é uma propriedade do sentido, e o sentido é o pensamento contido na sentença.
O pensamento não é algo perceptível pelos sentidos. Tudo que seja perceptível pelos sentidos deve ser excluído do domínio do pensamento. O pensamento a que nos referimos é aquele que está contido em uma sentença. Frege também exclui do domínio do pensamento sentenças imperativas e sentenças que expressam desejos ou pedidos. Somente serão levadas em consideração sentenças que comuniquem ou declaram algo. Estão igualmente fora do domínio do pensamento sentenças que expressam sentimentos, gemidos, suspiros, risos, a menos que por uma convenção estejam destinadas a comunicar algo. Frege, no artigo O Pensamento, trata de sentenças declarativas.
Uma sentença assertiva ou declarativa contém o pensar (apreensão do pensamento, o julgar (reconhecimento da verdade do pensamento), o asserir (a manifestação do juízo). Primeiramente apreende-se o pensamento que, após investigação, será reconhecido como verdadeiro. O reconhecimento da verdade é expresso na forma de uma sentença assertiva. Nesse caso, não precisamos da palavra “verdadeiro”. Quando uma sentença perde sua força assertiva, a palavra “verdadeiro” não poderá substituí-la. Isso é o que acontece quando não se fala a sério ou se conta uma mentira. O trovão em uma peça de teatro é apenas aparente, por mais que se tente aproximar ele do real. Nesse caso, a asserção é aparente e não de fato. Devemos sempre perguntar se uma sentença realmente contém uma asserção, pois em nada contribui para o pensamento se for utilizada ou não a palavra “verdadeiro”. O asserir não pode ser confundido com o julgar. Asserir é o movimento que o pensamento realiza em direção a referência para ser confirmado como verdade ou falsidade. Por isso mentiras não podem ser asseridas ou confirmadas, pois não há o movimento em direção a referência. O pensamento não indica, nesses casos, sua referência. Não adiantando dizer que a mentira é verdadeira. Mentiras não possuem força assertiva. A palavra “verdadeiro” não substitui a asserção.
Se por um lado a inclusão da palavra “verdadeiro” em uma sentença não altera o pensamento contido nela, por outro lado a temporalidade altera o pensamento. É preciso saber quando a sentença foi proferida, pois o tempo faz parte da expressão do pensamento. Se alguém pretende dizer hoje o mesmo que foi dito ontem, terá de substituir a palavra “hoje” pela palavra “ontem”. Necessitamos, também, para a expressão correta do pensamento, em determinadas circunstâncias, que o proferimento seja acompanhado de uma ação. É o caso quando alguém diz “eu”, pois o “eu” proferido por várias pessoas encerra diferentes pensamentos, alguns falsos outros verdadeiros.
O que realmente importa é que o mesmo pensamento deve ser apreendido por várias pessoas. Não é possível comunicar um pensamento que só aquele que o profere possa apreendê-lo. Portanto, quando alguém diz “Eu fui ferido” , essa pessoa tem que usar a palavra “eu” de uma forma que todos possam compreender que o sentido desse “eu” é “aquele que lhes está falando nesse momento”
Frege pergunta se seria o pensamento uma ideia? Inicialmente Frege diferencia o pensamento daquilo que ele chama de mundo interior. Ao mundo interior pertence a vontade, estados da alma, imaginação e ideia. O mundo interior cada pessoa possui o seu. Sua vontade, sua ideia, um estado da alma que é próprio de cada pessoa. Portanto, o mundo interior possui um só portador. O pensamento contido no teorema de Pitágoras é reconhecido como verdadeiro por várias pessoas, porque ele não pertence ao conteúdo da consciência de uma única pessoa. Uma pessoa não é o portador desse pensamento. Se o teorema de Pitágoras pertencesse ao conteúdo da consciência de uma só pessoa, o correto seria dizer “seu teorema de Pitágoras” ou talvez “meu teorema de Pitágoras”. Nesse caso cada pessoa teria um teorema de Pitágoras somente seu, e a verdade estaria sujeita ao conteúdo da consciência. Não seria o pensamento reconhecido por duas ou mais pessoas. Não haveria uma ciência do pensamento, e toda disputa em torno da verdade seria desnecessária e inútil.
É preciso então admitir não pertencer o pensamento ao externo e nem ao interno. Sendo ele um terceiro domínio por não necessitar de um portador e não ser ele uma ideia. O pensamento, portanto, não pertence ao mundo físico e nem ao mundo interior. Esse é o motivo pelo qual o pensamento contido no teorema de Pitágoras ser intemporalmente verdadeiro, independente de alguém o considerar verdadeiro ou não, visto que não requer portador. “Ele é verdadeiro não a partir do momento de sua descoberta, mas sim como um planeta que já se encontrava em interação com outros planetas antes mesmo de ter sido visto por alguém.”
Ao pensar não produzimos pensamentos, mas sim os apreendemos. Nesse caso, o que Frege chama de verdadeiro não está relacionado em nada com o fato de ter sido pensado por uma pessoa, o verdadeiro independe das pessoas.
A tarefa da ciência consiste em descobrir pensamentos verdadeiros, intemporais e imutáveis. A verdade não pode surgir da descoberta de um cientista, mas sim da apreensão de um pensamento verdadeiro que desde sempre existiu. Somente uma sentença completa expressa um pensamento. Mas se esse proferimento é verdadeiro, ele será intemporalmente verdadeiro. Não será uma verdade somente hoje ou amanhã, mas intemporalmente verdadeiro.
O pensamento atua no domínio, físico a partir de sua apreensão. Uma vez tomado como verdadeiro, o pensamento tem conseqüências no mundo interior de quem o apreende. Ao penetrar no domínio da vontade de cada pessoa, o pensamento promove mudanças em seu mundo interior que, por sua vez, ao ser exteriorizado, promove mudança no mundo exterior.
Se apreendermos o pensamento que enuncia o teorema de Pitágoras, e o aceitamos como verdadeiro, pode acontecer de levarmos ele a prática. E desta forma, nossa ação e nosso julgar são influenciados por um pensamento. Comunicamos pensamentos, e assim influenciamos outras pessoas que captam o pensamento.
Os pensamentos são reais, embora eles pertençam a uma natureza diferente a natureza da realidade das coisas. Sua eficácia depende daquele que o apreende. Quem pensa não cria um pensamento, mas o toma tal qual ele é. Podendo ser verdadeiro sem ter sido apreendido. O pensamento é real e passíveis de ser levado a prática.

CONCLUSÃO

Frege abriu uma nova perspectiva filosófica, perspectiva essa que se opôs aos conceitos filosóficos que vigoravam em seu tempo. Com a definição de pensamento como sentido de um enunciado, Frege caracteriza a chamada virada linguística do século XX.
Observando haver armadilhas na linguagem corrente, Frege criou uma linguagem lógica para solucionar erros na conclusão de premissas. A linguagem corrente revela o pensamento, porém, também o esconde entre a ambiguidade e imprecisão. Frege pretendia elaborar uma linguagem conceitual perfeita, adequada para revelar o pensamento em sua forma lógica. O pensamento em sua forma lógica se revela com clareza e nitidez, não como conteúdo mental ou individual, não como representação, mas sim o ser do pensamento. Frege, em sua Conceitografia, considera que uma das funções da filosofia, é romper com o domínio da palavra, para eliminar erros que surgem inevitavelmente com o uso da linguagem. Libertando assim o pensamento das armadilhas conceituais que o aprisionam.
O domínio do pensamento não é físico, não é mental, o pensamento pertence a um terceiro domínio. Isso o aproxima de um platonismo. Pensamentos são imutáveis e independem de quem os pense. Eles independem de nossa existência assim como o mundo das ideias de Platão. Frege também sofre críticas com relação aos entes matemáticos, eles igualmente independem de ter ou não alguém que os apreenda. Também na matemática a crítica a seu platonismo se faz presente. Quanto a filosofia da mente contida no artigo O Pensamento, reside em sua estrutura pluralista. A filosofia da mente pergunta pela relação mente (pensamentos) e corpo. Frege dá esta resposta: o pensamento é independente, mas interage ao ser interiorizado com o mundo volitivo, e, por sua vez, a vontade atua nas ações humanas e influenciam o mundo físico. Por isso o pensamento de Frege, na filosofia da mente, é considerado um pluralismo interacionista, semelhante a Karl Popper. Apreendemos pensamentos e comunicamos pensamentos.
O artigo O Pensamento foi escrito quando Frege já não dava mais aula na universidade. Em sentido e referência, Frege se limitou ao estudo do sentido como sendo o pensamento proposicional, não entrando em detalhes sobre como se apreende o pensamento e como esse pensamento influencia o mundo em que vivemos. Tão pouco entrou em maiores detalhes sobre o terceiro domínio e sua imutabilidade. Estas questões foram ampliadas em seus escritos da maturidade com o artigo O Pensamento. Dando assim origem a uma filosofia da mente através da interação dos três domínios, físico, mental e pensamentos.

REFERÊNCIAS

BRITO, Adriano Naves. Nomes próprios: semântica e ontologia. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 2003.

BURGE, Tyler. "Belief de Re" (The Journal of Philosophy 74, no. 6 (1977): 338-62.

ARAÚJO, Manfredo de Oliveira. Reviravolta Linguístico-Pragmática. São Paulo: Loyola, 2001.

CURRIE, Gregory. An introdution to his philosofhy. The harvester press. Sessex. Barnes & Noble books. New Jersey.

FREGE, Gottlob. Lógica e filosofia da linguagem: sobre o sentido e a referência. São Paulo: Cultrix, Ed. Universidade de São Paulo, 1978.

............... Investigações Lógicas. Porto Alegre: Edipucrs, 2002.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: SP. Martin Claret, 2006

MARCONDES, Danilo. Filosofia analítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed. 2004.

PENCO, Carlo. Introdução a filosofia da linguagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.



20/04/2010

EM NOME DE DEUS

Quanta crueldade, e logo em teu nome meu Deus! Por trás da face do bem reside a essência do mal, dizia Oscar Wild. E culpar os homossexuais por tudo isso, além de cruel é demonstração de ignorância e preconceito. Lobos disfarçados de cordeiro é isso o que eles são. A bíblia nos avisa da existência deles. A essa altura vocês já sabem do que eu estou falando: da pedofilia na igreja católica, é claro. Casos de problemas com o celibato e denúncias de abuso sexual, nunca foram tão evidentes quanto agora. A sociedade sempre soube de um caso aqui outro ali, onde padres pulavam a cerca e tinham encontros furtivos com mulher, mas com meninos e meninas, isso revolta o estômago até mesmo do mais crente. Pedofilia de batina, é assim que está sendo chamado o caso. A quantidade de denúncia de casos de pedofilia no mundo é tão grande, que a igreja desmoralizada, perdeu o controle sobre a situação. Ao colocar panos quentes em cima do problema para não denegrir a imagem da igreja, acabaram dando aos padres pedófilos a tranquilidade da impunidade. A igreja que enfiou goela a baixo sua fé em um Deus masculino, com a cruz em uma mão, a espada em outra, e a fogueira por punição, já queimou mulheres e homens vivos, já torturou, já tirou sangue de seres humanos, e agora mais essa. O alvo desta vez são nossas crianças, considerados por eles anjos. Quanta falsidade, quanta sujeira escondida, quanta maldade em nome de Deus. Mas o que choca, nesse caso, não é somente a situação em si, é também o descaso da cúpula da igreja ao tratar do problema como se ele não fosse grave. Se a igreja pensa que maltratar meninos e meninas não é uma falta tão grave assim, a sociedade tem que demonstrar que o ato é desumano demais para ser tratado com o descaso que tem sido tratado, não confiando mais crianças e adolescentes a padres que usam do seu status para taras sexuais. Alguém tem que por fim a toda essa sujeira. Está nas mãos da sociedade demonstrar seu repúdio por essa situação, porque se depender da igreja, isso ainda vai longe, e muito sangue inocente será derramado. A ideia, por parte da igreja, não é a de colocar na cadeia os padres pedófilos, e sim encaminhá-los para tratamento psicológico. Além de tudo, os pedófilos de batina vão ganhar terapeuta de graça. Resta saber se a terapia será em um SPA, servidos por inocentes anjos. Com licença, mas eu vou vomitar.


O RACISMO HOJE

Desde os primórdios da civilização o homem escraviza seu semelhante, revelando assim seu lado perverso e dominador. O desconhecimento do motivo pelo qual estamos neste planeta, levou o homem a usar sua força equivocadamente. Ao invés de se tornar um deus criador de bondade, tornou-se o lobo do próprio homem. Na antiguidade, as guerras terminavam com o perdedor sendo escravizado ou torturado até a morte. Em outra época, os negros tornaram-se o alvo da escravidão. Navios negreiros, vindos da África, atravessaram os oceanos carregando “mercadoria” humana. Mas a necessidade de autoafirmação do homem não para por aí, deficientes, mulheres e pobres, tiveram também uma página nessa história sangrenta da “civilização” humana. Na visão de mundo que temos do passado, está presente a representação da exclusão em sua forma mais violenta e sanguinária que o mundo já viu. Não podemos deixar de lembrar o horror do holocausto na segunda guerra mundial, e nem a maldade da klu klux klan pela supremacia da raça branca nos Estados Unidos. Com as mudanças das últimas décadas, houve uma tentativa de unir raças, povos e crenças. Mas a exclusão social ainda deixa sua marca, pois a miséria, em alguns países, está longe de ser resolvida. Por outro lado, a mulher contemporânea deu um salto para a liberdade, e os Estados unidos superaram o racismo ao eleger um presidente negro. A vitória de Barack Obama foi mais do que uma vitória política, foi a vitória contra o racismo. No Brasil, a dívida para com os negros está sendo paga com cotas em universidades. Uma tentativa polêmica para diminuir a desigualdade social. A polêmica se forma quando pensamos que a “cota” pode ser uma sutileza do próprio racismo. Para compor este artigo, fiz uma pesquisa de opinião com alguns negros. Mesmo entre eles não há unanimidade. Alguns dizem que são capazes de competir com igualdade com os brancos, sendo a “cota” tão somente um racismo disfarçado, pois a lei que instituiu as “cotas” é fruto de uma política desigual, por não tratar brancos e negros como aquilo que eles são: iguais. Outros afirmam que a discriminação do passado gerou desigualdade que pode ser compensada com “cotas” para estudantes em universidades. Seja como for, a polêmica deve ser resolvida através do diálogo aberto a toda sociedade. Mas, isso nos diz que não solucionamos ainda o problema do racismo no Brasil.


20/01/2010

O HAITI E O VODU

Quando pensamos em vodu, logo nos vem a mente bonecos sendo espetados por agulhas. O vodu tem sua origem na África. Devido a escravidão, nativos africanos foram capturados e trocados por mercadoria. Alguns desses escravos foram parar na região onde hoje fica o Haiti. Após ter sido oficializada no Haiti, pelo ex-presidente Jean Bertrand Aristide, o vodu recebeu o mesmo status que a religião católica. Acredita-se que quase 100% da população haitiana sejam praticantes do vodu. Embora haja controvérsia com relação a essa estatística. Talvez fosse melhor dizer que o Haiti é 70% católico e 100% vodu. Alguns católicos afirmam que apenas 50% da população sejam praticantes do vodu. Controvérsias a parte, o vodu no Haiti é o ar que eles respiram, é o espírito mágico de um povo sofrido.
A busca pelo oculto revela a tentativa de ultrapassar os limites dos nossos sentidos. Queremos ir além do humano e penetrar nas fronteiras do oculto. Muito do conhecimento filosófico e científico teve sua origem em mistérios que aos poucos foram sendo revelados. A prática do vodu ultrapassa as fronteiras dos cinco sentidos humanos e penetra no mundo de zumbis, cemitérios e serpentes. Chamando com isso a atenção de pesquisadores que tem se dedicado ao assunto. O sacerdote vodu é curandeiro, adivinho e exorcista. Fazem parte dos rituais: bebidas, comidas e sacrifício de animais (porcos, galinha etc), que são oferecidos para as entidades cultuadas pelos vudoístas. Realizada a dança, a bebedeira e sacrifícios, as entidades tomam conta dos corpos de seus seguidores que, pela perda da consciência, não se lembram de nada após o término do ritual. Mas o que mais desperta a atenção dos pesquisadores, e popularizado pelo cinema norte americano, é o pó vodu. Um composto de ervas capaz de deixar uma pessoa em um estado de morte aparente. A vítima do “pó” quase não respira, tem a pele fria, os sinais vitais são praticamente imperceptíveis, mas ainda assim mantém a consciência. No período de guerra civil o pó vodu era ministrado em determinadas pessoas e posteriormente essas pessoas eram enterradas vivas para morrer. Esta prática de tortura nas mãos de ditadores causou pânico a população haitiana. No século XVIII, a região onde fica hoje o Haiti foi uma das mais prósperas colônias francesas devido a exportação de açúcar, cacau e café. Daquela época até os dias de hoje, os haitianos se rebelaram contra a servidão e posteriormente contra o domínio francês. Vários de seus governantes foram depostos ou morreram assassinados. Embora tenha o Haiti constituído um império negro a partir da cultura africana que chamou a atenção do mundo, seu povo ainda não encontrou paz de espírito.


06/01/2010

E SE DEUS FOSSE UMA DEUSA?!

O livro “A cabana”, um dos mais lidos dos últimos tempos, fala de um Deus mulher. Trata-se de uma Deusa gorda, negra e sorridente. E se Deus fosse realmente uma Deusa, como seria sua criação? A Deusa teria criado o mundo como mãe fecunda em seu grande útero cósmico, a imagem e semelhança de sua beleza feminina. A Deusa fecunda teria iluminado as trevas com a luz de seu brilho e organizaria o planeta para receber seus filhos ─ lumeeiros no céu, terra firme, água, flores, florestas. Bichinhos, não de pelúcia, como fazem as mães terrenas, mas feras de beleza inigualável. Panteras negras, leões, tigres, elefantes, passarinhos, peixes, répteis etc. Pela beleza de sua criação, teria sido Ela venerada por outros deuses. Deuses são seres perfeitos, e na perfeição não tem lugar para o machismo, a exclusão e a inferioridade. Deste modo, nós os mortais e filhos da Deusa, veneraríamos a Ela pela capacidade de dar a luz a um ser humano. Pediríamos que nos abençoasse com seu poder de mulher. A grande Deusa fecunda, amorosa e protetora, seria então venerada pelos filhos da terra. A doutrina da Grande mãe, Deusa criadora do céu e da terra, teve importância fundamental em civilizações do antigo mundo. Mas os romanos da antiguidade, fazendo uso somente da força bruta masculina, e sem nenhum envolvimento com o feminino que lhes desse algum equilíbrio, queriam tão somente conquistas e glória. Começa assim um dos capítulos mais sangrentos da opressão ao feminino. Homens envolvidos em ódio acabaram com o culto a grande Deusa mãe. Com o fim da devoção a Deusa, teve origem a ascensão de um Deus masculino e criador. Um Deus que cuida de seus filhos semelhante a uma mulher. Posteriormente, a “santa inquisição” tratou de aniquilar o pouco que restou desta devoção. Quantas mulheres foram queimadas vivas pela sua recusa a um Deus masculino, acusadas de bruxaria. O homem não poupou esforços para acabar com a força feminina, enfiando goela abaixo, com a espada e a fogueira, um Deus masculino. O culto a Deusa é uma das mais antigas religiões sobre o planeta. Cultos lunares de devoção a Deusa foram realizados no Egito e em outras partes do antigo mundo. Relatos dessa história podem ser encontrados nos livros “A tenda vermelha”, “O egípcio” e “As brumas de Avalon”. Nos dias atuais, as Wiccas são as detentoras do conhecimento sobre a grande Deusa mãe.