18/03/2012

AFINAL, O QUE QUEREM AS MULHERES

Pois é, nem Freud explica. Será que algum dia os homens tiveram realmente interesse em conhecer a natureza feminina? Ou será que simplesmente criaram uma mulher ideal em seu imaginário, e depois decidiram que a mulher real deveria ser igual ao protótipo imaginado. O problema é o imaginário masculino, ele é imperfeito, nós não. Saímos melhor do que a encomenda, é claro. Deus fez o homem, quando aperfeiçoou fez a mulher. Não erramos, quando muito nos enganamos, por isso, de vez em quando, fazemos a fila andar. Enganos acontecem. Mas, afinal, o que querem as mulheres, perguntou Freud. Seria esta pergunta um enigma ou um paradoxo. Acho que estamos mais para decifra-me ou eu te devorarei. Tem quem afirme que a natureza da mulher é dual. Nesse caso, cada mulher teria uma outra mulher dentro de si. Duas naturezas, “uma que diz mata, e uma outra, mais calma e tranquila, que diz esgoela”. Se vocês estavam pensando que as duas naturezas fossem o anjo bom e o anjo mau, aqueles que ficam um em cada ombro, erraram. A mulher só tem um anjo. O bom da história é que ele dá conta de tudo sozinho. Já o homem precisa de dois anjos. Lentamente, primeiro, o homem se aconselha com um anjo, depois, se aconselha com o outro anjo, e, ainda assim, corre o risco de errar. É que o homem nasceu primeiro. Mas nós mulheres compreendemos a situação. Que ninguém diga que não somos compreensivas. Qualquer homem que queira conviver com uma mulher, tem que compreender suas duas naturezas. Uma visível e outra invisível. A natureza visível vive a luz do dia e pode ser facilmente observada. Já a natureza invisível vem das entranhas de seu útero. Só a mulher possui esta natureza, isso porque o homem não possui útero. Temos dentro de nós um laboratório capaz de reunir, transformar, gestar, criar e trazer a luz algo novo. Seja uma nova criança, uma nova vida, um novo modelo de comportamento social, uma nova ideia etc. Alquimistas que somos e donas de um self lindamente selvagem, fazem da mulher algo de semelhante a verdade. A verdade é relativa a cada pessoa. O que é verdade para um pode não ser verdade para outro. Como somos benevolentes, perdoamos o erro de Freud. Dois anjos, um em cada ombro, e Freud fez a pergunta errada. A pergunta certa teria sido – Afinal, quem são as mulheres. A pergunta certa é meio caminho andado para a resposta certa. Mas como Freud errou a pergunta...

16/03/2012

OS SAPATINHOS VERMELHOS

Em Os sapatinhos vermelhos, Hans Christian Andersen nos fala sobre o que acontece quando a vida criativa é sufocada por uma moral inautêntica. Era uma vez uma pobre órfã que não possuía sapatos. Com restos de trapos a menina conseguiu costurar um par de sapatos vermelhos. Eles eram simples, mas ela adorava o fato de os sapatinhos vermelhos terem sido feitos com suas próprias mãos. Sentia orgulho disso. Um dia, porém, quando estava andando maltrapilha pela estrada com seus sapatinhos vermelhos, uma carruagem dourada parou ao seu lado. De dentro da carruagem, uma rica senhora de idade avançada disse a pobre órfã que a levaria para sua casa e a trataria como se trata a uma filha. Seus sapatos feitos a mão, orgulho da menina, foram trocados por reluzentes sapatos feitos por um sapateiro. Ganhou roupas de lã e meias para aquecer seus pés no inverno. Quando a menina perguntou pelos sapatinhos vermelhos, a velha senhora respondeu que eles eram tão feios que ela os colocara no lixo. Triste, por perder seus sapatinhos feitos à mão por ela mesma, ganhava tudo pronto. A menina era obrigada a ficar sentada e quieta sem pular, e só podia falar quando lhe era solicitado. Conforme manda os bons modos. No dia de sua crisma, o sapateiro fez sapatos novos. Como a velha senhora era quase cega, semelhante a alguns responsáveis por crianças, não percebeu que a menina escolhera sapatos vermelhos. E assim, os sapatinhos vermelhos feitos a mão e com a criatividade da menina, foram substituídos por sapatos vermelhos comprados prontos. Informada, a velha senhora, sobre a cor dos sapatos de sua filha, fez o que muitos fazem, proibiu a menina de usar sapatos daquela cor. Como se proibir fosse o suficiente. A menina se apegou tanto aqueles novos sapatos, que usava ele escondida da velha senhora. Ao colocá-los a menina tinha o impulso de dançar livremente. Dançava, dançava e dançava, até não poder mais. Dançava tanto que todos tentaram segura-la, mas foi inútil, ela não conseguia mais parar de dançar. Saiu dançando porta a fora sem percebeu que ela perdera o controle sobre os sapatos. Ela queria andar para a esquerda, mas os sapatos andavam para a direita. A menina tentou se livrar dos sapatos. Mas ela dançava tanto que não conseguiu. Os sapatos a conduziram para a floresta sombria, onde poucos sobrevivem por lá. A menina lamentou-se por se deixar levar pelo fascínio daqueles novos sapatos, tudo o que ela queria era sentir-se tão bem como se sentira com os sapatinhos vermelhos feitos a mão por ela mesma. Não conseguindo retirar os sapatos da menina, o único jeito foi amputar os dois pés. Com sequelas para o resto da vida, a menina teve que sobreviver trabalhando como criada em uma casa de família. Segundo Clarissa Pinkola Estés, esta história nos fala da desvalorização da vida natural e dos danos aos instintos básicos de sobrevivência em uma educação que desvaloriza a criatividade natural. Onde a moral coletiva sufoca a vontade individual. Sufocado, o indivíduo sai em busca de algo que lhe dê algum prazer, alguma alegria. A falta de alegria natural levou a menina dos sapatos vermelhos ao vício. Quantas pessoas que perderam a alegria de viver estão nesse momento nas esquinas comprando qualquer coisa para se entorpecer e dançar.
Eliani Gracez Nedel