15/03/2015

GÊNIO INDOMÁVEL



 Segundo Clarissa Pinkola Estés, Toda mulher tem anseio pelo que é selvagem. “Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas.” A mulher é indomável, mesmo que ao longo do tempo tenha sofrido um excessivo adestramento. Meu gênio é indomável, pavio curto, instintiva, farejadora, gosto do olho no olho! A terra espiritual da mulher selvagem é minha terra. Não tenho medo da morte, temo viver sem ela, o que seria da vida sem mudança. Mas quem compreende uma loba?, todos preferem a adestrada criatura, afinal, ela é dócil e obediente. Eu...obediente?! Nem pensar! Está para nascer quem irá me adestrar. A mulher selvagem e os lobos foram temidos pelos homens, temidos pelo seu poder, o poder da noite, da lua, do uivo e do olhar hipnótico. A mulher loba desobedece as regras, ela tem uma vida vibrante no mundo interno e externo. A força da mulher vem dessa loba interior. A mulher selvagem luta por outras mulheres, ela resgata o feminino, mesmo sendo rotulada, violentada e chamada de louca. A loba encontra sua matilha e ocupa seu corpo com segurança e orgulho, e sabe cuidar de si. De mim cuido eu! A mulher selvagem está por trás de toda escritora, pensadora, dançarina... Nossa arte é visceral. A mulher selvagem sabe sentir, pensar e amar. Ela é quem se enfurece diante da injustiça, ela é quem traz um filho ao mundo, ela é quem nos mantém vivas. Mas tem quem prefira a outra, adestrada e polida!

A PERDA DA INOCÊNCIA ORIGINAL


A menina que corria serelepe atrás dos sonhos hoje já não corre mais. O fôlego primeiro e motriz da energia original e força vital, quando é perdido, causa desencantamento. A vitalidade se esvai e perde a característica suavidade da inocência. Muitas vezes, a beleza da visão original perde seu sentido quando descobrimos que as coisas não são como imaginávamos que fossem originalmente. Perdido o encantamento, perdemos a força motriz. Assim é o amor, ele não se justifica e nem se explica. Ama porque ama! Não ama porque é belo, não ama porque é alegre, não ama porque é alto ou porque é baixo. Não ama porque é homem ou porque é mulher, simplesmente ama! Quem ama vê um quê de encantamento e se delicia com isso. Passando a sentir uma força vital a vida, até o dia em que o encantamento se esvai. E a inocência é substituída pela violência da perda. E a menina segue o seu caminho...


  
 

CAMINHOS E DESCAMINHOS

O segredo da nossa amizade, lembro ainda, estava na caminhada tranquila lado a lado, na liberdade de expressão e no olhar sereno. Tudo o que queríamos era viver o momento, não havia passado e nem expectativa de futuro. O presente era toda realidade que tínhamos, e a vida era vivida um dia após o outro, certos de que tudo estava em seu lugar. Uns ensinando e outros aprendendo, e tudo fluía. Enquanto um falava o outro escutava, e o conhecimento era absorvido em sua plenitude, e a descoberta da vida boa era fonte de felicidade! Mas, como a vida não é feita só de caminhos, excluídos e injuriados encontram-se a margem do caminho, e só podem ser resgatados por quem um dia conheceu a vida boa e agora conhece os descaminhos que compõe os dois lados da moeda. Conhecer somente a tese, neste caso, o segredo da nossa amizade, constitui 50% do todo. Não é possível fazer uma síntese sem o conhecimento do outro lado da verdade, assim reza a dialética platônica. Somente desta forma uma nova ordem pode ser estabelecida, sem injuriados e excluídos, com ética, respeito pelas diferenças e clareza dos limites, diálogo franco. Uma construção de um novo altar onde todos possam rezar indiscriminadamente, um ao lado do outro. Esta é a minha teologia, mesmo que distante da academia. E assim se tem o ideal, o caminho e o descaminho. O ideal talvez seja uma utopia, mas ainda assim uma luz que nos guia. A vida boa um parâmetro de medida. E o descaminho é quando o ideal e a vida boa não encontram mais seus caminhos. Desta forma o projeto de vida é perfeito, porque ele inclui o descaminho para testar se estamos prontos para uma nova caminhada, ou, se ainda permanecemos na infância do tempo, onde tudo começo como um ideal. Cai no descaminho quem não consegue encontrar o caminho para seus ideais.








A NUDEZ DO PENSAMENTO




Aceitar o pensamento do outro como algo belo, é ter um olhar de uma inocência original. É acolher o outro como a criança que quer brincar e acolhe a criançada ao seu redor. Isso é lindo! Expor o pensamento é desnudar-se. É como a bela mulher que se despe de suas vestes e deixa-se ver nua. Quem está preparado para tal ousadia, acolhe o outro e não se incomoda com sua nudez, não impõe regras ao pensamento e muito menos limites. Quem está preparado para acolher o outro não se veste com as roupas da moralidade, e nem impõe limites para aquilo que pode ser pensado ou expressado. Despir-se é para ousadas criaturas que fazem a diferença em suas casas, bairros, cidades... Despir-se é ser amado e adiado. Amado por aqueles que conseguem ver a liberdade de expressão. Odiado por quem se choca com a ousadia...