O segredo da nossa amizade, lembro ainda, estava na caminhada
tranquila lado a lado, na liberdade de expressão e no olhar sereno. Tudo o que
queríamos era viver o momento, não havia passado e nem expectativa de futuro. O
presente era toda realidade que tínhamos, e a vida era vivida um dia após o
outro, certos de que tudo estava em seu lugar. Uns ensinando e outros
aprendendo, e tudo fluía. Enquanto um falava o outro escutava, e o conhecimento
era absorvido em sua plenitude, e a descoberta da vida boa era fonte de
felicidade! Mas, como a vida não é feita só de caminhos, excluídos e injuriados
encontram-se a margem do caminho, e só podem ser resgatados por quem um dia
conheceu a vida boa e agora conhece os descaminhos que compõe os dois lados da
moeda. Conhecer somente a tese, neste caso, o segredo da nossa amizade,
constitui 50% do todo. Não é possível fazer uma síntese sem o conhecimento do
outro lado da verdade, assim reza a dialética platônica. Somente desta forma
uma nova ordem pode ser estabelecida, sem injuriados e excluídos, com ética,
respeito pelas diferenças e clareza dos limites, diálogo franco. Uma construção
de um novo altar onde todos possam rezar indiscriminadamente, um ao lado do
outro. Esta é a minha teologia, mesmo que distante da academia. E assim se tem
o ideal, o caminho e o descaminho. O ideal talvez seja uma utopia, mas ainda
assim uma luz que nos guia. A vida boa um parâmetro de medida. E o descaminho é
quando o ideal e a vida boa não encontram mais seus caminhos. Desta forma o
projeto de vida é perfeito, porque ele inclui o descaminho para testar se
estamos prontos para uma nova caminhada, ou, se ainda permanecemos na infância
do tempo, onde tudo começo como um ideal. Cai no descaminho quem não consegue
encontrar o caminho para seus ideais.
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