27/08/2017

OS INDESEJÁVEIS

Eliani Gracez – Coach, Psicanalista e Filósofa clínica


Inspirado em Claudio Mello Wagner, “indesejáveis até que ponto?” A sociedade cria pessoas "indesejáveis" e depois as exclui. O desejo inicial é de que essas pessoas não existissem, por isso, a sociedade finge que elas não existem. Os “indesejáveis” são dependentes químicos, esquizofrênicos, doentes mentais, moradores de rua etc. Ameaçada, a sociedade aumenta a repressão para manter os “indesejáveis” o mais longe possível. Cria-se então a indústria da segurança: grades, alarmes, portaria 24 horas. A sociedade trata como se a solução fosse manter os indesejáveis o mais longe possível. Essa é a saída encontrada pela sociedade. No entanto, saída não é solução. Saída é paliativo, a solução está em deixar de produzir “indesejáveis”, e parar de produzir “indesejáveis” é ir ao mundo do outro para ver o que tem lá, para isso, temos que enfrentar os nossos medos e limites. Temos que enfrentar a falência social e moral. Temos que ir ao vale da morte onde o outro se encontra marginalizado social e culturalmente. Cada sociedade ou organização social produz regras, leis, estatutos, e deseja que seus indivíduos concordem com isso. Aqueles que não se enquadram tornam-se “indesejáveis” e, portanto, um problema social. Assim são eliminados os subversivos ou aqueles que ultrapassam a legalidade. A sociedade trata os “indesejáveis” como se fossem doentes, no entanto, o doente é a sociedade que produz seres humanos que não se enquadram dentro das normas e depois os exclui como se fossem lixo ou coisa descartável. Cada pessoa tem uma singularidade que tem que ser incluída na coletividade. Espera-se uma simbiose perfeita desta união, o problema, nesse caso, está no esperado, visto que nem sempre a singularidade de cada pessoa se enquadra no ideal social. O problema agora é o que fazer com os “indesejáveis”, mas, sobretudo, o que fazer com aqueles que indesejam os indesejáveis. 

09/08/2017

O inconsciente e o simbólico - Eliani Gracez Nedel

Na busca pelo autoconhecimento iniciamos um processo de comunicação com o nosso conteúdo inconsciente.   Para conhecermos a nós mesmo é preciso entrar em contato com nosso inconsciente que é vasto, subjetivo, ilimitado e simbólico, enquanto nosso consciente é limitado e objetivo.  O consciente não controla o nosso comportamento, pois mesmo nossas ações conscientes em muito resultam do inconsciente. O inconsciente é a região da psique constituída por desejos, paixões, pulsões, libido, recalcamentos e simbolismo. Com paciência e disposição muitos elementos do nosso mundo interior vêm a luz da consciência. No entanto nem sempre isso se dá de forma objetiva, em muitos casos o conteúdo inconsciente vem através de sonhos. Um conteúdo muitas vezes simbólico que permeia nosso sonho. Ao dormir entramos em contato com o inconsciente que é irracional. Por isso, na maioria das vezes, nossos sonhos são desprovidos de racionalidade, e uma tentativa de interpretação do sonho com a mente, que é limitada, tornam-se infrutíferos. O conteúdo inconsciente possui uma amplitude muito maior do que a consciência. A psique é constituída por elementos oriundos de várias fontes: família, cultura, etnia. Em última instância elementos inconscientes da espécie humana. Formando assim o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. Comum ouvirmos de pessoas que existe uma autenticidade em seu pensamento ou jeito de ser. Em uma análise mais profunda é possível identificar uma herança cultural, hábitos adquiridos pelo lugar ou sociedade em que ela foi criada e que moldaram o seu modo se ser. Caindo  nesse caso, em um senso comum e não crítico. Devido a inconsciência da real formação do psiquismo a maioria das pessoas, senão a totalidade delas, não sabem nem mesmo aquilo que elas não sabem. Tornando-se verdadeiros desconhecidos para elas mesmas. Nessa concepção revela-se o senso comum que está enquadrada a maioria das pessoas, contrapostos a um inconsciente que possui uma estrutura imagética, arquetípica, simbólica, instintiva e impulsiva, ou, automática. A consciência opera pelo raciocínio causal e lógico, o inconsciente opera de forma irracional, ele está além daquilo que pode ser compreendido pelos limites da mente. O consciente está em nós por meio da lógica e pensamento analítico, e o inconsciente pode ser encontrado por analogia, encontrado nos sonhos, nas fantasias e no pensamento mítico.