28/03/2014

O DESAMPARO HUMANO

Olhando uma cena comum em um parque, vi uma criança que se lançava de cima de um brinquedo nos braços de seu pai. A certeza do amparo e da mão firme e da confiança em seu pai deram segurança para aquela criança. E assim ela se lançou confiante de que não estava sozinha, alguém cuidava dela. E o braço forte do pai a amparou. No entanto, nem todos receberam o amparo necessário na infância para se tornarem adultos seguros de suas decisões. O desamparo pode gerar insegurança pela vida a fora. Não foram todos que tiveram o braço firme e o olhar amoroso que dá a segurança de sermos amados, ou uma estrutura familiar e os cuidados da mãe. Quantos não tiveram isso?! Pelo contrário, tiveram o olhar de quem sabia que a punição viria. Quantos cresceram sem amparo. E a insegurança hoje toma conta de pessoas que nem se deram de conta do seu desamparo. A fragilidade humana começa quando nascemos, pois, o nenê necessita ser amparado, cuidado. E com isso começa a dependência na formação de cada pessoa. Portanto, a posição natural do ser humano é de desamparo, e precisa do amparo para sobreviver. Precisa do cuidado do outro. Para Nietzsche, o homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem, uma corda sobre o abismo. O caminho do homem passa pelo abismo! Isso nos diz que o caminho é inseguro e perigoso. Nietzsche anuncia a morte de Deus, e assim o homem fica desamparado até mesmo daquilo que lhe é sagrado, Deus. E agora, como viverá o homem sem sua luz?! Embora seja no desamparo que as religiões encontram seu lugar. Um porto seguro, uma mão invisível, uma moral que garanta estar fazendo a coisa certa, uma fé, uma crença em algo, uma certeza mesmo que ilusória. O homem precisa de algo para se apoiar. Nietzsche tira do homem um valor supremo, o amparo de Deus, e no lugar ele oferece o Super-homem que se apóia em sua própria força e vontade de potência. E assim o homem é uma corda estendida sobre o abismo que liga o animal e a potência de sua vontade, o super-homem. A desconstrução que Nietzsche faz deixa o homem desamparado, sem Deus, sem uma verdade universal. Nietzsche fala do último homem, aquele que perdeu sua força, esgotado, desiludido, o último homem não sabe o que é amor, porque tudo perdeu. Para esses, Nietzsche oferece um novo caminho, o caminho da superação. O super-homem é aquele que suporta as mais difíceis situações da vida. O super-homem é o nobre que constrói a si mesmo. O super-homem é a pessoa que vence o homem e a fragilidade humana amparado somente em si. É aquele que se coloca no nada existencial e não teme a passagem sobre o abismo. Mas, quem não conseguir superar a si mesmo e o desamparo, poderá vir a desenvolver, no âmbito mental, pânico, neuroses, dor, sofrimento.... Viver sem se apoiar em nada externo a si mesmo, realmente, eis o super-homem. Viver é um ato de fé, não como as religiões colocam, mas sim fé em si mesmo e na capacidade humana de superação, porque de concreto só se tem a morte.

A FENIX

A mudança, muitas vezes, impõe uma dança com a morte de valores sacramentados. Uma dança deliciosa para aqueles que não temem a força da gadanha. A maior de todas as oferendas a morte, que uma pessoa pode realizar, é oferecer-se a ela, não aquela morte que nos ceifa a vida, mas sim a segunda morte, a morte psicológica, aquela realizada pela Fênix, que renova a vida. E do alto do precipício nos lançamos ao abismo para ver o que está no oculto, certos que do abismo um novo ser surgirá com uma bagagem de conhecimento em muito superior ao ser abismal.
Ao nascer a Fênix resgata sua luminescência, e por isso torna-se um ser divino. Mas, para isso, aquilo que acabou com sua luz precisou morrer. Não adianta colocar vinho novo em jarro sujo. O vinho novo irá fatalmente azedar. Um esvaziamento completo é o que a Fênix faz para resgatar sua luz. Tem coisas que não tem perdão, não tem como retirar, por exemplo, uma bofetada dada. E, nesse caso, a dança com a morte toma seu curso natural, não como algo sofrido, mas sim como necessário. Muitas doutrinas, sobre o “esvaziar-se”, estão por aí. Sua doutrina é tão boa quanto a minha! No entanto, tem uma máxima que diz que uma pessoa não deve reza no altar do outro, ela reza no seu próprio altar, edificado com muito trabalho, suor e lágrimas. Por isso é um altar forte, caiu muitas vezes, mas soube levantar-se. O caos é delirantemente encantador porque ele revela o que está para além da aparência, além do domínio, além do controle. Gosto de uma das máximas de Nietzsche que diz “quanta verdade somos capazes de suportar”. Em momentos de crise descobrimos nossa fragilidade, mas, sobretudo, descobrimos a força que reside por trás da fragilidade, e assim somos capazes de suportar muitas verdades, que nos conduzem a um novo nascimento, desta vez com luz própria e rezando no próprio altar. E aquilo que entre todas as coisas do mundo escolhemos para estar ao nosso lado, perde seu sentido, tornando-se a única coisa não mais desejada. Eis a morte! A dança chegou ao seu final, e cinzas já podem ser observadas por todos os lados.


O DESAFIO DA PÓS MODERNIDADE




O início do século passado foi marcado por duas guerras mundiais. Potências devastando territórios, pessoas, crianças e o que estivesse pela frente. Atrocidades dignas de bárbaros foram cometidas em uma luta de poder e de ideologia. No pós-guerra a reconstrução não seria mais somente dos territórios devastados e nem do Estado, mas, também, uma reconstrução da dignidade humana. A mulher busca por sua autoafirmação, e subjetividades vieram à tona. Jovens lutaram pela liberdade sexual, e homossexuais para serem respeitados. Surgem os direitos da criança e do adolescente, e idosos deixaram claro que eles não são a decadência humana, pelo contrário, demonstraram sua capacidade de superação e de resistência a adversidade. Ficou claro que o humano não tem uma cor pré-estabelecida para sua pele. A subjetividade humana emergiu mostrando que a razão não é a única força humana. O derretimento daquilo que era sólido consolidou a doutrina do descartável, e a privatização e individualização desvinculou o fluir da ordem da vida institucional e a enraizou no indivíduo, que teve que lutar por si e pelos seus direitos, pelos seus anseios, desejos e liberdade. Cada pessoa é única e o individualismo pede passagem ao respeito. Com o esquartejamento que foi feito onde se afirmou a individualidade humana, a política e a comunidade têm agora por base o indivíduo. Uma inversão que parte do eu ao coletivo. Quando no passado partia do coletivo para o eu, e o indivíduo era massificado e uniformizado e perdia sua identidade. O desafio da pós-modernidade reside no fato de dar unidade as mais diferentes camadas da sociedade, reintegrando o indivíduo e respeitando suas características pessoais. E assim o indivíduo dá origem a ética e a política. Diferentemente do passado onde políticas eram estabelecidas e o indivíduo era inserido no rigor moral sem ter direito se quer a questionar, e pessoas eram mantidas sob controle da política, da sociedade, da família etc. Hoje, o indivíduo controla a si mesmo e, como o conceito de família mudou, cada clã estabelece suas regras e quer políticas voltadas as instituições com base no eu. Não cabe, por exemplo, no pós-modernismo, políticas de exclusão homossexual, ainda encontrada por aí. A nova moral, que parte do indivíduo, pede inserção ao respeito e liberdade de opção sexual, entre outras tantas coisas.