A mudança, muitas vezes, impõe
uma dança com a morte de valores sacramentados. Uma dança deliciosa para
aqueles que não temem a força da gadanha. A maior de todas as oferendas a
morte, que uma pessoa pode realizar, é oferecer-se a ela, não aquela morte que
nos ceifa a vida, mas sim a segunda morte, a morte psicológica, aquela
realizada pela Fênix, que renova a vida. E do alto do precipício nos lançamos
ao abismo para ver o que está no oculto, certos que do abismo um novo ser
surgirá com uma bagagem de conhecimento em muito superior ao ser abismal.
Ao nascer a Fênix resgata sua
luminescência, e por isso torna-se um ser divino. Mas, para isso, aquilo que
acabou com sua luz precisou morrer. Não adianta colocar vinho novo em jarro
sujo. O vinho novo irá fatalmente azedar. Um esvaziamento completo é o que a
Fênix faz para resgatar sua luz. Tem coisas que não tem perdão, não tem como
retirar, por exemplo, uma bofetada dada. E, nesse caso, a dança com a morte
toma seu curso natural, não como algo sofrido, mas sim como necessário. Muitas
doutrinas, sobre o “esvaziar-se”, estão por aí. Sua doutrina é tão boa quanto a
minha! No entanto, tem uma máxima que diz que uma pessoa não deve reza no altar
do outro, ela reza no seu próprio altar, edificado com muito trabalho, suor e
lágrimas. Por isso é um altar forte, caiu muitas vezes, mas soube levantar-se.
O caos é delirantemente encantador porque ele revela o que está para além da
aparência, além do domínio, além do controle. Gosto de uma das máximas de
Nietzsche que diz “quanta verdade somos capazes de suportar”. Em momentos de
crise descobrimos nossa fragilidade, mas, sobretudo, descobrimos a força que
reside por trás da fragilidade, e assim somos capazes de suportar muitas
verdades, que nos conduzem a um novo nascimento, desta vez com luz própria e
rezando no próprio altar. E aquilo que entre todas as coisas do mundo
escolhemos para estar ao nosso lado, perde seu sentido, tornando-se a única
coisa não mais desejada. Eis a morte! A dança chegou ao seu final, e cinzas já
podem ser observadas por todos os lados.
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