28/03/2014

A FENIX

A mudança, muitas vezes, impõe uma dança com a morte de valores sacramentados. Uma dança deliciosa para aqueles que não temem a força da gadanha. A maior de todas as oferendas a morte, que uma pessoa pode realizar, é oferecer-se a ela, não aquela morte que nos ceifa a vida, mas sim a segunda morte, a morte psicológica, aquela realizada pela Fênix, que renova a vida. E do alto do precipício nos lançamos ao abismo para ver o que está no oculto, certos que do abismo um novo ser surgirá com uma bagagem de conhecimento em muito superior ao ser abismal.
Ao nascer a Fênix resgata sua luminescência, e por isso torna-se um ser divino. Mas, para isso, aquilo que acabou com sua luz precisou morrer. Não adianta colocar vinho novo em jarro sujo. O vinho novo irá fatalmente azedar. Um esvaziamento completo é o que a Fênix faz para resgatar sua luz. Tem coisas que não tem perdão, não tem como retirar, por exemplo, uma bofetada dada. E, nesse caso, a dança com a morte toma seu curso natural, não como algo sofrido, mas sim como necessário. Muitas doutrinas, sobre o “esvaziar-se”, estão por aí. Sua doutrina é tão boa quanto a minha! No entanto, tem uma máxima que diz que uma pessoa não deve reza no altar do outro, ela reza no seu próprio altar, edificado com muito trabalho, suor e lágrimas. Por isso é um altar forte, caiu muitas vezes, mas soube levantar-se. O caos é delirantemente encantador porque ele revela o que está para além da aparência, além do domínio, além do controle. Gosto de uma das máximas de Nietzsche que diz “quanta verdade somos capazes de suportar”. Em momentos de crise descobrimos nossa fragilidade, mas, sobretudo, descobrimos a força que reside por trás da fragilidade, e assim somos capazes de suportar muitas verdades, que nos conduzem a um novo nascimento, desta vez com luz própria e rezando no próprio altar. E aquilo que entre todas as coisas do mundo escolhemos para estar ao nosso lado, perde seu sentido, tornando-se a única coisa não mais desejada. Eis a morte! A dança chegou ao seu final, e cinzas já podem ser observadas por todos os lados.


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