18/05/2018

COISAS DO CORAÇÃO


                                                                                                                                        Eliani Gracez

Desde que Nietzsche disse que errar era humano, demasiado humano, nos valemos dessa prerrogativa para justificar nossos erros, esquecendo-nos, ainda, que em Nietzsche, o homem tem que superar o próprio homem. O homem, nesse caso, é o ser humano, limitado, falível, que vive de aparência. O homem é aquele que vive de ilusão, com ou sem estudo, analfabeto ou doutorado. Sendo um prisioneiro da caverna de Platão ou pensando já ter se livrado da sua caverna. Mas, para que aconteça a superação proposta por Nietzsche, tem o homem que conhecer sua verdadeira essência. Devemos sempre perguntar pela essência, pois atrás da aparência reside a essência, sobretudo a essência do mal travestida de bom samaritano. Conhecendo a essência é que vemos com quem estamos lidando. Mas o grande problema é que a essência se esconde atrás da aparência e da personalidade. Ela se esconde atrás do moralismo das instituições, atrás da educação ou falta de educação, ela se esconde atrás da formação religiosa e familiar. Tudo isso molda a personalidade, ou, o jeito de ser de cada pessoa.  A aparência ilusória, finita e mutável, esconde a verdade sobre a essência de potencial ilimitado, seja para o bem ou para o mal, é possível não se ter limites para a maldade, assim como não se pode botar um limite para o amor. Limitar o amor é estabelecer o que pode ser amado e o que não pode, bem como estabelecer a intensidade do amor, isso seria o mesmo que dizer que só se pode amar um pouco, mas não intensamente.  Para piorar a situação, a criatura humana não se importa com seus erros, achando tudo simplesmente humano. Não se importa com o sofrimento daqueles que vêm ao mundo para fazer a diferença, Buda, Jesus... Confunde o problema com a solução. Confunde anjo com demônio. Isso tudo porque a razão serve a dois senhores, o senhor do bem e o senhor do mal. Afinal, o mal tem lá sua razão de ser. O ser humano é um ser de razão com possibilidade de superar a própria razão e se tornar um ser de amor. A razão divide em dois opostos. O amor une duas metades. A razão separa, quantifica e qualifica o humano. A mente trabalho como um computador a partir de uma lógica. Pessoas prontas para amar aceitam as diferenças entre ele e o outro com tranquilidade. Pessoas sem amor contabilizam as diferenças e apoiam somente quem pensa como eles e sente como eles. O diferente é o outro, é o “não eu”, é tudo aquilo que eu não sou. Colocando assim um abismo entre ele e quem ele pensa estar do outro lado, somente porque não é igual a si mesmo. A razão é o que nos separa, o amor é o que nos une. A razão faz uma lista das diferenças. O amor só quer amar e pronto. Essa humanidade ainda não aprendeu o que nos une, mas aprendeu o que nos separa, somo diferentes uns dos outros sim, ainda bem. Já imaginaram se todos fossem semelhantes a uma frota de carros da mesma marca e da mesma cor? A humanidade não mudou, continua a mesma desde o passado até hoje, não está pronta para o diálogo educado e fraternal, como se diz por aí, com a mente aberta e sem pré-juízos moldados por aparência ilusória. Não está preparada para sentir o coração do outro pulsando, muito menos para respeitar os sentimentos do outro. A humanidade teme o diferente e o desconhecido, por isso se apega as suas certezas e crenças,  muitas vezes, limitantes. No entanto, podemos dizer que do texto à ação existe uma longa estrada a ser percorrida. Por mais otimista que eu seja não vejo um futuro promissor para a humanidade. A essência da maldade e do separatismo continua a ser espalhada desenfreadamente. ”E assim caminha a humanidade, com passos de preguiça e sem vontade”. Todas as chances que foram dadas para a mudança na essência e não somente na aparência, foram colocadas no lixo. O homem se recusa a aprender com seus erros. O homem se recusa vencer o próprio homem, se recusa a vencer a si mesmo. O homem olha para a sombra no fundo da caverna e ama a sombra. Ama tudo o que é sombrio, e por isso não conhece o sol, a luz, e muito menos o amor, mas conhece a paixão e o apego, sombras do amor. Por outro lado, talvez, Nietzsche tenha se esquecido de uma coisa, para que o homem supere o próprio homem, primeiro é preciso construir o homem, que, por enquanto, é tão somente um animal.

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