Desde
que Nietzsche disse que errar era humano, demasiado humano, nos valemos dessa
prerrogativa para justificar nossos erros, esquecendo-nos, ainda, que em
Nietzsche, o homem tem que superar o próprio homem. O homem, nesse caso, é o
ser humano, limitado, falível, que vive de aparência. O homem é aquele que vive
de ilusão, com ou sem estudo, analfabeto ou doutorado. Sendo um prisioneiro da
caverna de Platão ou pensando já ter se livrado da sua caverna. Mas, para que aconteça
a superação proposta por Nietzsche, tem o homem que conhecer sua verdadeira
essência. Devemos sempre perguntar pela essência, pois atrás da aparência
reside a essência, sobretudo a essência do mal travestida de bom samaritano. Conhecendo
a essência é que vemos com quem estamos lidando. Mas o grande problema é que a
essência se esconde atrás da aparência e da personalidade. Ela se esconde atrás
do moralismo das instituições, atrás da educação ou falta de educação, ela se
esconde atrás da formação religiosa e familiar. Tudo isso molda a personalidade,
ou, o jeito de ser de cada pessoa. A
aparência ilusória, finita e mutável, esconde a verdade sobre a essência de
potencial ilimitado, seja para o bem ou para o mal, é possível não se ter
limites para a maldade, assim como não se pode botar um limite para o amor. Limitar
o amor é estabelecer o que pode ser amado e o que não pode, bem como
estabelecer a intensidade do amor, isso seria o mesmo que dizer que só se pode
amar um pouco, mas não intensamente. Para
piorar a situação, a criatura humana não se importa com seus erros, achando
tudo simplesmente humano. Não se importa com o sofrimento daqueles que vêm ao
mundo para fazer a diferença, Buda, Jesus... Confunde o problema com a solução.
Confunde anjo com demônio. Isso tudo porque a razão serve a dois senhores, o
senhor do bem e o senhor do mal. Afinal, o mal tem lá sua razão de ser. O ser
humano é um ser de razão com possibilidade de superar a própria razão e se
tornar um ser de amor. A razão divide em dois opostos. O amor une duas metades.
A razão separa, quantifica e qualifica o humano. A mente trabalho como um computador
a partir de uma lógica. Pessoas prontas para amar aceitam as diferenças entre ele
e o outro com tranquilidade. Pessoas sem amor contabilizam as diferenças e
apoiam somente quem pensa como eles e sente como eles. O diferente é o outro, é
o “não eu”, é tudo aquilo que eu não sou. Colocando assim um abismo entre ele e
quem ele pensa estar do outro lado, somente porque não é igual a si mesmo. A
razão é o que nos separa, o amor é o que nos une. A razão faz uma lista das
diferenças. O amor só quer amar e pronto. Essa humanidade ainda não aprendeu o
que nos une, mas aprendeu o que nos separa, somo diferentes uns dos outros sim,
ainda bem. Já imaginaram se todos fossem semelhantes a uma frota de carros da
mesma marca e da mesma cor? A humanidade não mudou, continua a mesma desde o
passado até hoje, não está pronta para o diálogo educado e fraternal, como se
diz por aí, com a mente aberta e sem pré-juízos moldados por aparência ilusória.
Não está preparada para sentir o coração do outro pulsando, muito menos para respeitar
os sentimentos do outro. A humanidade teme o diferente e o desconhecido, por
isso se apega as suas certezas e crenças,
muitas vezes, limitantes. No entanto, podemos dizer que do texto à ação
existe uma longa estrada a ser percorrida. Por mais otimista que eu seja não
vejo um futuro promissor para a humanidade. A essência da maldade e do
separatismo continua a ser espalhada desenfreadamente. ”E assim caminha a humanidade,
com passos de preguiça e sem vontade”. Todas as chances que foram dadas para a
mudança na essência e não somente na aparência, foram colocadas no lixo. O
homem se recusa a aprender com seus erros. O homem se recusa vencer o próprio
homem, se recusa a vencer a si mesmo. O homem olha para a sombra no fundo da
caverna e ama a sombra. Ama tudo o que é sombrio, e por isso não conhece o sol,
a luz, e muito menos o amor, mas conhece a paixão e o apego, sombras do amor.
Por outro lado, talvez, Nietzsche tenha se esquecido de uma coisa, para que o
homem supere o próprio homem, primeiro é preciso construir o homem, que, por
enquanto, é tão somente um animal.
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