04/05/2018

A CAVERNA DE PLATÃO - Eliani Gracez



Segundo a alegoria da caverna de Platão, existem homens prisioneiros em uma caverna, acorrentados pelos pés e pelo pescoço. O olhar dos prisioneiros está voltado para uma parede que fica no fundo da caverna. Atrás dos acorrentados tem um muro e homens carregam figuras, atrás do muro tem um fogo. Pessoas e objetos passam atrás do muro, e por causa da luz do fogo, projeta imagens na parede onde estão voltados os olhares dos prisioneiros. Prisioneiros acorrentados só veem sombras da realidade, e não a realidade em si. Convido você, que está lendo este texto agora, a pensar junto comigo sobre a alegoria da caverna de Platão. Imaginemos que nós somos os prisioneiros da caverna e que as sombras alimentam os nossos cinco sentidos. Segundo Schopenhauer, os sentidos fazem uma coleta de dados para o nosso entendimento formar uma representação dos objetos. Nosso entendimento usa dos sentidos para o conhecimento imediato. A partir dessa coleta de dados, os prisioneiros pensam entender a realidade, ou, como diz Schopenhauer, a representar os objetos. Mas é com a carência de entendimento que acontece a “estupidez”, mediante a incapacidade de reunir causa e efeito. Falta, nesse caso, argúcia, rapidez, dificuldade no uso da lei de causa e efeito. Mas deixemos Schopenhauer de lado e voltemos a nossa caverna, visto que o objeto do nosso estudo, especificamente, são as sombras projetadas no fundo da caverna, e a influência delas em nós. A sombra é um vulto, é ausência de luz, no caso da alegoria da caverna, a sombra é uma projeção obscura da realidade, um vulto da realidade. Desse vulto os prisioneiros alimentam seus sentidos que levam material para o entendimento, que em um próximo passo, formam representações e conceitos a partir de uma “visão” distorcida que conduz ao erro, ao preconceito, a uma ética que não visa ao bem coletivo e nem a felicidade. O prisioneiro da caverna forma um conteúdo interior a partir das sombras que ele vê, e ama seu “saber”. Por isso é tão difícil sair da caverna. O prisioneiro ama uma ilusão acreditando ser a única realidade existente. Desse amor ao “saber” surgem a fé e a crença. Como o prisioneiro da caverna não vê a realidade, ele ama uma sombra. Mas, a pergunta que não quer calar é: seria esse amor verdadeiro? Se pensarmos que a sombra é o não ser e a luz o ser, na sombra reside aquilo que não é o amor, reside o “não amor”, nesse caso, o amor vem do oposto, vem da luz, vem do ser. Na alegoria platônica fica claro que sombra e luz são dois opostos. A sombra está na frente do prisioneiro, no fundo da caverna. Já o fogo que ilumina está no oposto, nas costas do prisioneiro. Na caverna os prisioneiros se apegam as sombras e pensam ser amor verdadeiro. Confundem amor com apego. O amor é libertador, o apego aprisionador (aprisionar+dor). Os prisioneiros da caverna precisam se apegar a alguma coisa para conseguir sobreviver, do contrário eles teriam que admitir o nada interior, eles teriam que admitir a própria ignorância, o desafeto, a angústia etc. Teriam que admitir que seu conteúdo interior é formado por tudo que não é luz. Os prisioneiros da caverna vivem o desprazer e não o prazer, origem de algumas neuroses. Pobres criaturas! Prisioneiros não vivem e sim sobrevivem, afinal, o conceito de vida não inclui prisão e sim libertação. Os prisioneiros nem mesmo se dão de conta de sua prisão, não se dão de conta de que seus conteúdos foram formados a partir de sombras daquilo que poderia ter sido e não foi. Numa relação de causa e efeito os prisioneiros não ligam a sombra com o fogo. Falta de argúcia, diria Schopenhauer, afinal, sem a luz do fogo não poderia haver projeção da sombra no fundo da caverna. Por mais perfeita que seja a visão, para que um homem veja, é preciso que haja a luz (Platão).



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