Segundo
a alegoria da caverna de Platão, existem homens prisioneiros em uma
caverna, acorrentados pelos pés e pelo pescoço. O olhar dos
prisioneiros está voltado para uma parede que fica no fundo da
caverna. Atrás dos acorrentados tem um muro e homens carregam
figuras, atrás do muro tem um fogo. Pessoas e objetos passam atrás
do muro, e por causa da luz do fogo, projeta imagens na parede onde
estão voltados os olhares dos prisioneiros. Prisioneiros
acorrentados só veem sombras da realidade, e não a realidade em si.
Convido você, que está lendo este texto agora, a pensar junto
comigo sobre a alegoria da caverna de Platão. Imaginemos que nós
somos os prisioneiros da caverna e que as sombras alimentam os nossos
cinco sentidos. Segundo Schopenhauer, os sentidos fazem uma coleta de
dados para o nosso entendimento formar uma representação dos
objetos. Nosso entendimento usa dos sentidos para o conhecimento
imediato. A partir dessa coleta de dados, os prisioneiros pensam
entender a realidade, ou, como diz Schopenhauer, a representar os
objetos. Mas é com a carência de entendimento que acontece a
“estupidez”, mediante a incapacidade de reunir causa e efeito.
Falta, nesse caso, argúcia, rapidez, dificuldade no uso da lei de
causa e efeito. Mas deixemos Schopenhauer de lado e voltemos a nossa
caverna, visto que o objeto do nosso estudo, especificamente, são as
sombras projetadas no fundo da caverna, e a influência delas em nós.
A sombra é um vulto, é ausência de luz, no caso da alegoria da
caverna, a sombra é uma projeção obscura da realidade, um vulto da
realidade. Desse vulto os prisioneiros alimentam seus sentidos que
levam material para o entendimento, que em um próximo passo, formam
representações e conceitos a partir de uma “visão” distorcida
que conduz ao erro, ao preconceito, a uma ética que não visa ao bem
coletivo e nem a felicidade. O prisioneiro da caverna forma um
conteúdo interior a partir das sombras que ele vê, e ama seu
“saber”. Por isso é tão difícil sair da caverna. O prisioneiro
ama uma ilusão acreditando ser a única realidade existente. Desse
amor ao “saber” surgem a fé e a crença. Como o prisioneiro da
caverna não vê a realidade, ele ama uma sombra. Mas, a pergunta
que não quer calar é: seria esse amor verdadeiro? Se pensarmos que
a sombra é o não ser e a luz o ser, na sombra reside aquilo que não
é o amor, reside o “não amor”, nesse caso, o amor vem do
oposto, vem da luz, vem do ser. Na alegoria platônica fica claro que
sombra e luz são dois opostos. A sombra está na frente do
prisioneiro, no fundo da caverna. Já o fogo que ilumina está no
oposto, nas costas do prisioneiro. Na caverna os prisioneiros se
apegam as sombras e pensam ser amor verdadeiro. Confundem amor com
apego. O amor é libertador, o apego aprisionador (aprisionar+dor).
Os prisioneiros da caverna precisam se apegar a alguma coisa para
conseguir sobreviver, do contrário eles teriam que admitir o nada
interior, eles teriam que admitir a própria ignorância, o desafeto,
a angústia etc. Teriam que admitir que seu conteúdo interior é
formado por tudo que não é luz. Os prisioneiros da caverna vivem o
desprazer e não o prazer, origem de algumas neuroses. Pobres
criaturas! Prisioneiros não vivem e sim sobrevivem, afinal, o
conceito de vida não inclui prisão e sim libertação. Os
prisioneiros nem mesmo se dão de conta de sua prisão, não se dão
de conta de que seus conteúdos foram formados a partir de sombras
daquilo que poderia ter sido e não foi. Numa relação de causa e
efeito os prisioneiros não ligam a sombra com o fogo. Falta de
argúcia, diria Schopenhauer, afinal, sem a luz do fogo não poderia
haver projeção da sombra no fundo da caverna. Por mais perfeita que
seja a visão, para que um homem veja, é preciso que haja a luz
(Platão).
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