A oposição entre psicologia individual (Eu) e
psicologia social (das massa) aponta o ponto onde o individuo abre mão do se Eu
para adotar uma moral social ou de massa. A psicologia individual está
orientada para a singularidade do caminho pelo qual o indivíduo percorre na
busca da satisfação de seus impulsos para chegar ao prazer. Muitas vezes, nessa
busca pela satisfação o outro é esquecido. Ao levar em consideração a
influencia do outro no aparelho psíquico do indivíduo a análise passa a ser
social. Nesse sentido, o psiquismo individual também passa a ser um psiquismo
social, onde a moral de um passa a influenciar a moral do outro.
A interação social do indivíduo com os pais,
professores, amigos, interação profissional ou com a pessoa amada, tornaram-se
assuntos de investigação psicanalítica como fenômeno social opondo-se ao narcisismo
cuja satisfação dos desejos não sofre a influência de outras pessoas. A
psicologia das massas trata a pessoa como integrante de uma tribo, uma casta,
uma classe, instituição ou como pertencente a um grupo de pessoas que em um
determinado momento se organizam como massa, levados por um impulso social,
quem sabe, já encontrado na família. Afinal, o que é uma massa e como ela
influencia a vida psíquica do indivíduo? A massa adquire uma alma coletiva, um
pensamento coletivo que da coesão a massa. A massa torna-se assim um ser
constituído por várias partes heterogêneas que se ligam entre si. Na massa a
singularidade do indivíduo desaparece, o heterogêneo desaparece no homogêneo. A
estrutura que se desenvolveu no indivíduo desaparece, tornando-se visível o
inconsciente. Na massa o individuo adquire o sentimento de poder que lhe
permite entregar-se aos instintos. Na massa o indivíduo mostra o inconsciente
que contém tudo que é de malvado ou animalesco no ser humano. Como por exemplo,
o desaparecimento da consciência moral ou do sentimento de responsabilidade. A
consciência moral é formada pelo medo social. Na massa o medo social é diluído
no todo, sem o medo social perde-se a consciência moral. Portanto, no núcleo da
consciência moral está o medo. Na multidão também é possível observar que os
sentimentos são contagiosos, levando muitas vezes o indivíduo a abrir mão de
seus interesses em detrimento de interesses coletivos. Mediante procedimentos variados,
e depois de ter perdido a inteira consciência de si, um ser humano obedece às
sugestões da massa, equiparado a uma hipnose. Em outro ponto de vista o
indivíduo que em seu isolamento pode ser uma pessoa culta, educada e tranquila,
na massa perde a racionalidade tornando-se mais instintivo e voraz, tornando-se
mais agressivo. Em meio a tudo isso, na massa o indivíduo encontra o entusiasmo
que na solidão nem sempre é possível de ser encontrado, um ânimo onde uma
pessoa impulsiona o outro.
Outras observações da psique de massa são a
inibição da capacidade intelectual e a intensificação da afetividade. A
afetividade ainda pode ser intensificada pela sensação de poder. A massa
inteira é portadora da autoridade temida pelas demais pessoas. Por isso torna-se
perigoso ir contra a massa. Um exemplo disso é a igreja católica no período
medieval. A igreja constituiu-se uma massa organizada que devorava quem a ela
fizesse oposição. Também é possível observar que em alguns casos a moral
individual seja exacerbada e a massa impõe rigidez moral, esse é o caso das
religiões. Um indivíduo em uma massa, pela influência desta, experimenta
modificação intensa em seu psiquismo. Sua afetividade aumenta enquanto sua
capacidade intelectual torna-se limitada. Isso acontece para que o indivíduo
possa se nivelar aos demais integrantes da massa. Para atingir esse nivelamento
o indivíduo suprime seus impulsos e suas inclinações. Os princípios éticos da
massa ou de um grupo podem ser mais elevados do que os princípios éticos dos
indivíduos que compõe a massa. Na massa a moralidade ganha força, enquanto a
vontade individual se perde em meio ao poder moral da massa.
Sobre
os lideres de um grupo, assim que uma massa se forma ela se torna um rebanho
que se coloca sob o controle de um chefe. Um grupo é um
rebanho que obedece ao seu senhor. O chefe tem que ser possuidor de prestígio
que fascina a massa. E assim o prestígio une as pessoas em uma massa. Todo
prestígio se perde em caso de fracasso. A passagem de uma psicologia individual
para uma psicologia de massa onde o indivíduo se submete a moral da massa
abrindo mão de seus anseios constitui-se em fonte de muito estudo por parte de
sociólogos, antropólogos, psicanalistas entre outros. Freud aponta alguns
motivos em seu artigo Psicologia das massas e análise do Eu. Cada indivíduo
pode ter seus motivos que o levam a preferir se esconder em uma massa a ter que
lutar contra ela e viver autoafirmado em seu Eu.
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