11/07/2017

Psicologia de Massa - Eliani Gracez Nedel

  A oposição entre psicologia individual (Eu) e psicologia social (das massa) aponta o ponto onde o individuo abre mão do se Eu para adotar uma moral social ou de massa. A psicologia individual está orientada para a singularidade do caminho pelo qual o indivíduo percorre na busca da satisfação de seus impulsos para chegar ao prazer. Muitas vezes, nessa busca pela satisfação o outro é esquecido. Ao levar em consideração a influencia do outro no aparelho psíquico do indivíduo a análise passa a ser social. Nesse sentido, o psiquismo individual também passa a ser um psiquismo social, onde a moral de um passa a influenciar a moral do outro.
  A interação social do indivíduo com os pais, professores, amigos, interação profissional ou com a pessoa amada, tornaram-se assuntos de investigação psicanalítica como fenômeno social opondo-se ao narcisismo cuja satisfação dos desejos não sofre a influência de outras pessoas. A psicologia das massas trata a pessoa como integrante de uma tribo, uma casta, uma classe, instituição ou como pertencente a um grupo de pessoas que em um determinado momento se organizam como massa, levados por um impulso social, quem sabe, já encontrado na família. Afinal, o que é uma massa e como ela influencia a vida psíquica do indivíduo? A massa adquire uma alma coletiva, um pensamento coletivo que da coesão a massa. A massa torna-se assim um ser constituído por várias partes heterogêneas que se ligam entre si. Na massa a singularidade do indivíduo desaparece, o heterogêneo desaparece no homogêneo. A estrutura que se desenvolveu no indivíduo desaparece, tornando-se visível o inconsciente. Na massa o individuo adquire o sentimento de poder que lhe permite entregar-se aos instintos. Na massa o indivíduo mostra o inconsciente que contém tudo que é de malvado ou animalesco no ser humano. Como por exemplo, o desaparecimento da consciência moral ou do sentimento de responsabilidade. A consciência moral é formada pelo medo social. Na massa o medo social é diluído no todo, sem o medo social perde-se a consciência moral. Portanto, no núcleo da consciência moral está o medo. Na multidão também é possível observar que os sentimentos são contagiosos, levando muitas vezes o indivíduo a abrir mão de seus interesses em detrimento de interesses coletivos. Mediante procedimentos variados, e depois de ter perdido a inteira consciência de si, um ser humano obedece às sugestões da massa, equiparado a uma hipnose. Em outro ponto de vista o indivíduo que em seu isolamento pode ser uma pessoa culta, educada e tranquila, na massa perde a racionalidade tornando-se mais instintivo e voraz, tornando-se mais agressivo. Em meio a tudo isso, na massa o indivíduo encontra o entusiasmo que na solidão nem sempre é possível de ser encontrado, um ânimo onde uma pessoa impulsiona o outro.
    Outras observações da psique de massa são a inibição da capacidade intelectual e a intensificação da afetividade. A afetividade ainda pode ser intensificada pela sensação de poder. A massa inteira é portadora da autoridade temida pelas demais pessoas. Por isso torna-se perigoso ir contra a massa. Um exemplo disso é a igreja católica no período medieval. A igreja constituiu-se uma massa organizada que devorava quem a ela fizesse oposição. Também é possível observar que em alguns casos a moral individual seja exacerbada e a massa impõe rigidez moral, esse é o caso das religiões. Um indivíduo em uma massa, pela influência desta, experimenta modificação intensa em seu psiquismo. Sua afetividade aumenta enquanto sua capacidade intelectual torna-se limitada. Isso acontece para que o indivíduo possa se nivelar aos demais integrantes da massa. Para atingir esse nivelamento o indivíduo suprime seus impulsos e suas inclinações. Os princípios éticos da massa ou de um grupo podem ser mais elevados do que os princípios éticos dos indivíduos que compõe a massa. Na massa a moralidade ganha força, enquanto a vontade individual se perde em meio ao poder moral da massa.
    Sobre os lideres de um grupo, assim que uma massa se forma ela se torna um rebanho que se coloca sob o controle de um chefe. Um grupo é um rebanho que obedece ao seu senhor. O chefe tem que ser possuidor de prestígio que fascina a massa. E assim o prestígio une as pessoas em uma massa. Todo prestígio se perde em caso de fracasso. A passagem de uma psicologia individual para uma psicologia de massa onde o indivíduo se submete a moral da massa abrindo mão de seus anseios constitui-se em fonte de muito estudo por parte de sociólogos, antropólogos, psicanalistas entre outros. Freud aponta alguns motivos em seu artigo Psicologia das massas e análise do Eu. Cada indivíduo pode ter seus motivos que o levam a preferir se esconder em uma massa a ter que lutar contra ela e viver autoafirmado em seu Eu.



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