Eliani Gracez Nedel
Podemos distinguir tipos de massas (psicologia social ou de grupo) diferentes em sua formação e orientação. Massas duradoras e massas fugazes, massas
constituídas por indivíduos semelhantes e massas constituídas por indivíduos
não semelhantes, massas naturais e massas artificiais, massas primitivas,
massas altamente organizadas. Nossa investigação volta seu olhar para as massas
artificiais: igreja e exército. A igreja e o exército são massas artificiais
porque empregam certa ação coercitiva externa para não se diluir e nem modificar
sua estrutura. Normalmente as pessoas não são consultadas se desejam entrar em
uma massa dessas, não existe livre arbítrio. Essas massas através de ações
coercitivas estão protegidas pela desagregação. Tanto na igreja quanto no
Exército encontra-se a ilusão de que existe um chefe que ama a todos. Na igreja
católica há o Cristo, no Exército, o general, que ama a todos na massa com
igualdade. Sem esse princípio coercitivo tanto a igreja quanto o Exército se
desintegrariam. Na igreja o amor a Cristo, no Exército o amor a pátria. A
relação dessas duas massas com o indivíduo crente se dá de forma paternal. Na
igreja existe uma linha democrática porque todos são iguais diante do Cristo.
Com razão a igreja se assemelha a uma família unida como irmãos em Cristo. Algo
semelhante acontece com o Exército onde um general ama a todos os seus soldados
do mesmo modo. Uma hierarquia muito semelhante formou-se tanto na igreja quanto
no Exército. Toda religião é uma religião de amor para aqueles que a seguem,
mas tende a intolerância para aqueles que não pertencem a essa massa moralmente
organizada.
As neuroses de guerra, reconhecido
como protestos do indivíduo contra o papel que lhe era atribuído no Exército e
contra a desumana situação da guerra estão entre os motivos do adoecer. Nessas
duas massas artificiais o indivíduo encontra-se ligado libidinosamente ao líder
e aos demais indivíduos da massa. Existe uma ligação libidinosa no Exército com
relação ao pânico que surge quando a massa se desagrega. O exército que sucumbe
ao pânico pode ter suportado perigos incalculáveis. O indivíduo que tomado pelo
medo cuidar de si mesmo denota ter
cessado as ligações afetivas. Agora enfrenta o perigo sozinho, e com isso
existe um afrouxamento nas estruturas libidinosas da massa. Essas observações
são para o caso de grande perigo e real. A desagregação de uma massa religiosa
não é comum de acontecer.
A
identificação
A identificação é
conhecida como a manifestação mais precoce entre as ligações emocionais. Ela está
na pré-história do complexo de Édipo. O menininho se identifica com o pai, quer
se tornar como o pai, ele gostaria de tomar o lugar do pai em todos os
aspectos. E assim o complexo de Édipo ajuda a preparar a criança.
Simultaneamente, esse menininho começou a fazer um investimento objetal da mãe.
Ele mostra duas ligações: um investimento sexual de objeto com a mãe, e com
relação ao pai uma identificação de modelo a ser seguido. A identificação é
ambivalente desde o início, o menininho percebe que seu pai bloqueia o acesso
junto a mãe, a identificação assume uma posição hostil e se torna idêntica ao
desejo de substituir o pai junto a mãe. Nessa ambivalência a criança pode
voltar sua identificação para a ternura como para um processo de eliminação. Nesse
sentido, a identificação é a forma de ligação com o emocional mais antiga que
existe, mesmo que seja para o recalcamento de mecanismos inconscientes. Muitas
vezes o eu toma para si as qualidades do objeto, em muitos casos o eu toma as
qualidades da pessoa não amada, podendo também tomar para si as qualidades da
pessoa amada que se transforma em objeto. Nesse sentido, a identificação é a
forma mais antiga de ligação entre o objeto e as emoções. Pela identificação
acontece a introjeção do objeto no eu que forma uma emoção objetal libidinosa. Também
acontece a identificação não objetal, esse tipo de identificação forma-se
quando pessoas possuem características em comum.
Outro exemplo de introjeção do objeto
se dá na perda do objeto amado, causando autodepreciação do eu e melancolia. Na
introjeção dá-se a consciência moral do eu ou autocrítica. Pouco a pouco a
criança vai introjetando regras de comportamento moral que ela retira do meio
ambiente em que vive, sobretudo na autoridade dos pais. A diferença entre
identificação do eu com o objeto e idealização do eu para com o objeto
encontram-se no estudo de duas massas: a Igreja cristã e o Exército. No
Exército o soldado toma o seu comandante como ideal enquanto se identifica com
aqueles que são iguais a si, dessa comunhão de eus derivam as obrigações da
camaradagem e divisão de bens. Na igreja Católica as coisas são diferentes, a
igreja exige que cada cristão se identifique com Cristo e ame os outros
cristãos como cristo amou, o objeto nesse caso é o amor. A igreja exige um amor
objetal e ideal. Com isso ela une o objeto ao seu ideal através da
identificação com o Cristo. Esse avanço libidinal da Igreja Católica baseia sua
pretensão em ter uma moral mais elevada.