A medicina, ao longo dos séculos, saiu das catacumbas onde eram
encontrados os cadáveres, e passou para um status de poder e soberania, apoiada
por almas sofridas e carentes de um alívio para a dor e o sofrimento causado
pelas doenças, pestes etc. Humildes depositários da esperança. Mas a separação
feita por Descartes, no passado da humanidade, entre mente e corpo, conferiu ao
médico um ar de frieza. Pessoas passaram a serem tratadas como se máquinas fossem, cheias de peças, um ser sem alma. Mas esse tempo passou, e uma medicina
mais humana tem substituído a desumanidade do passado. Embora, muitos sejam os
relatos de pessoas atendidas nos dias de hoje por médicos que ainda não se
deram de conta que o mundo mudou, e a indiferença está sendo substituída pela
consciência humana. Consciência significa ter ciência de algo. Ter ciência é saber
sobre alguma coisa, em outras palavras é saber que sabemos alguma coisa, por isso estamos na era da sabedoria e a ciência cada vez
aumenta mais o seu saber. Segundo Max Scheler, não nascemos humanos, mas sim nos tornamos
humanos. Isso nos faz crer que o humano é uma construção onde a educação se faz
presente. Educar jovens e velhos médicos para lidar com o humano e não somente com os saberes da medicina deve ser algo
constante nas escolas de medicina. Só assim pessoas, gente, seres humanos,
serão tratados com o respeito que lhes é devido. Todos sabemos sobre o caos da
saúde pública. Por isso, cada vez mais aumenta o número de pessoas que procuram
a segurança dos planos de saúde, e com isso os setores de convênios e atendimento
particular em clínicas e hospitais, estão se tornando um SUS com ar
condicionado. A saúde pública precisa se tratar, mas o tratamento tem que receber o aval do governo que está mais doente do que a própria medicina.
Para constatar o fato, basta permanecer por algum tempo em uma emergência hospitalar.
Hospitais abarrotados de pessoas, crianças, idosos, a procura do “poder da
cura”, que está nas mãos de um sistema doente. O sistema de saúde no Brasil tem uma longa caminhada pela frente até encontrar o ponto da cura. Por hora, trata-se de um depósito de doentes. Há muita
ciência para ser desvendada, não somente sobre o corpo físico carregado por
nós, mas sobre o ser humano que habita este corpo. Afinal, somos maiores do que
nosso próprio corpo, somos seres dotados de inegável inteligência, que sofre e sente dor, com possibilidade de uma consciência maior do que seu limitado corpo.
Um comentário:
Belíssimo texto, Eliani !
Eu sempre acreditei e defendi a idéia de que o ser humano é uno e único.
Para mim, é muito prazeiroso ler textos com conteúdo sensível e inteligente.
Bjos,
Ronaldo Prado.
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