21/01/2011

A MEDICINA NO DIVÃ

A medicina, ao longo dos séculos, saiu das catacumbas onde eram encontrados os cadáveres, e passou para um status de poder e soberania, apoiada por almas sofridas e carentes de um alívio para a dor e o sofrimento causado pelas doenças, pestes etc. Humildes depositários da esperança. Mas a separação feita por Descartes, no passado da humanidade, entre mente e corpo, conferiu ao médico um ar de frieza. Pessoas passaram a serem tratadas como se máquinas fossem, cheias de peças, um ser sem alma. Mas esse tempo passou, e uma medicina mais humana tem substituído a desumanidade do passado. Embora, muitos sejam os relatos de pessoas atendidas nos dias de hoje por médicos que ainda não se deram de conta que o mundo mudou, e a indiferença está sendo substituída pela consciência humana. Consciência significa ter ciência de algo. Ter ciência é saber sobre alguma coisa, em outras palavras é saber que sabemos alguma coisa, por isso estamos na era da sabedoria e a ciência cada vez aumenta mais o seu saber.  Segundo Max Scheler, não nascemos humanos, mas sim nos tornamos humanos. Isso nos faz crer que o humano é uma construção onde a educação se faz presente. Educar jovens e velhos médicos para lidar com o humano e não somente com os saberes da medicina deve ser algo constante nas escolas de medicina. Só assim pessoas, gente, seres humanos, serão tratados com o respeito que lhes é devido. Todos sabemos sobre o caos da saúde pública. Por isso, cada vez mais aumenta o número de pessoas que procuram a segurança dos planos de saúde, e com isso os setores de convênios e atendimento particular em clínicas e hospitais, estão se tornando um SUS com ar condicionado. A saúde pública precisa se tratar, mas o tratamento tem que receber o aval do governo que está mais doente do que a própria medicina. Para constatar o fato, basta permanecer por algum tempo em uma emergência hospitalar. Hospitais abarrotados de pessoas, crianças, idosos, a procura do “poder da cura”, que está nas mãos de um sistema doente. O sistema de saúde no Brasil tem uma longa caminhada pela frente até encontrar o ponto da cura. Por hora, trata-se de um depósito de doentes. Há muita ciência para ser desvendada, não somente sobre o corpo físico carregado por nós, mas sobre o ser humano que habita este corpo. Afinal, somos maiores do que nosso próprio corpo, somos seres dotados de inegável inteligência, que sofre e sente dor, com possibilidade de uma consciência maior do que seu limitado corpo.

Um comentário:

Ronaldo Prado disse...

Belíssimo texto, Eliani !

Eu sempre acreditei e defendi a idéia de que o ser humano é uno e único.

Para mim, é muito prazeiroso ler textos com conteúdo sensível e inteligente.

Bjos,

Ronaldo Prado.