16/02/2013

O BATISMO DA DOR

Eliani Gracez-Filósofa clínica e Psicanalista

“O homem com seu desregramento atrai desgraças que são atribuídas depois a Deus. Deus não castiga e também não premia. Se Deus castigasse, por sua vez, deixaria de ser Deus. O Sol é a melhor comparação com Deus: quando eu cuspo contra o Sol, meu cuspe cai em mim. Mas o Sol não se aborrece com isso. O sol nos dá o calor para viver, mas somente o ignorante sofre de insolação” (Jorge Adoun). Existe uma lei de ação e reação, por isso é melhor não cuspir para cima, para que o cuspe não caia sobre você.  Assim são as ações humanas, para cada ação existe uma reação de mesma intensidade. Por existir liberdade, não há garantia de uma ação justa. E como a razão humana, em suas divagações, tende a ultrapassar limites, o delírio toma conta das humanas criaturas que cospem contra o Sol sem nem mesmo se darem de conta. E ainda afirmam sua falta de sorte ou que Deus quis assim. A cada ação existe uma reação, e isto é um desafio até mesmo para os cientistas, que tem que unir a consequência a causa correta. O passado de nossa ciência estava repleto de erros porque uniam a consequência a uma causa errada. Muito tem sido corrigido nos dias de hoje através de experimentos adequados a inteligência humana. Afinal, unir ação e reação corretamente afirma nossa inteligência, mas, acima de tudo, é um ato de experiência. Todo saber provém da experiência e não existe conhecimento sem experiência. Conhecimento sem experiência é idealismo, e muitos ideais mataram até mesmo os homens mais fortes. Sobreviver aos nossos ideais tornou-se um desafio. Para Platão a ideia é bela e perfeita e está na esfera celeste. Uma vez que a aura celeste do homem anda ofuscada pela corrupção, entre outras coisas, é possível afirmar que o mundo vivido por nós não é o ideal, e sim o mundo possível. No mundo das possibilidades tudo é possível! Mas só a experiência nos dirá o que nos causa felicidade, que o desmatamento do planeta causa sérios problemas a vida humana, que o lixo acabará com a vida marinha rapidamente, que pessoas corruptas não devem exercer cargos de espécie alguma, que crianças sem boa educação tornam-se um problema social... Coisas assim não precisam de muita inteligência para unir a causa e a consequência. Como cientistas que somos, pois a experiência de vida nos traz conhecimento e sabedoria, é hora de parar de por a conta no “além” e de culpar aos nossos antepassados pelos erros cometidos, afinal, como diz Sartre, agora já não importa mais o que eles fizeram, o que importa é o que nós vamos fazer com o que eles fizeram de nós.

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