O mundo é pequeno para o
tamanho da fauna humana. Algumas horas de voo e eu desembarquei em Dubai,
Emirados Árabes. Lá encontrei mulheres de burca, mulheres de véu. Africanas
lindíssimas com suas roupas coloridas e belíssimos turbantes. Japoneses,
chineses, árabes, muçulmanos, homens com duas esposas e eu, com certeza, para
eles, a mais estranha criatura, uma mulher sem véu, sem burca, viajando sozinha
desacompanhada de um homem. Quanta diferença em um mesmo planeta. Aqui na
Austrália, onde eu me encontro atualmente, a vida flui tranquila. As casas não
possuem cerca, para dizer a verdade não se chaveia a porta das casas nem a
noite para dormir. Chamou minha atenção pequenas tendas com objetos a venda ao
longo da estrada sem a presença de vendedores. Os objetos são colocados ali
pela manhã com o preço, para comprar é só deixar no lugar do objeto o dinheiro.
O comércio australiano fecha às 17 horas, mesmo em Sydney, a maior cidade australiana.
Às 18 horas o australiano está no Pub tomando cerveja, exceto os moradores de
Sydney, esses tomam Champagne. Aqueles que beberem demais, um ônibus os leva em
casa gratuitamente. O governo australiano paga ônibus especial para bêbados,
salário decente por anos, para mulheres com filhos pequenos que queiram se
dedicar somente a educação dos filhos. Às 21 horas o australiano vai para casa
dormir, bêbado ou não. A vida flui tranquila em meio a uma natureza exuberante.
Byron Bay, cidade onde eu me encontro atualmente, foi colonizada por antigos
hippies e, talvez, por isso, tenha se tornado uma sociedade alternativa.
Tarólogos atendem em livrarias, a medicina Ayurveda é forte por aqui, Reiki,
Naturopatia, Yoga, enfim... Mas o australiano cometeu o mesmo erro que o resto
do mundo, acabou com a cultura nativa. Em meu primeiro dia aqui na Austrália
encontrei um Aborígene. Ele estava embriagado, como muitos dos poucos
sobreviventes de sua raça. Não tem muito tempo que o governo australiano pediu
perdão para a “Stolen Generation”, geração roubada. Na colonização australiana,
quando uma mulher Aborígene ganhava um filho, ele era roubado da mãe pelos
colonizadores para que a mãe não ensinasse ao filho sua cultura. Essa geração
roubada foi maltrata e violentada até a década de 1980. Sobreviventes ao
massacre, Aborígenes andam sem rumo pelas ruas australianas. O velho mundo lhes
foi roubado e novo não lhes pertence. Eu estava em um Pub jantando com amigos e
um Aborígene entrou pedindo cigarro. Imediatamente me disseram que eu
permanecesse quieta caso ele tomasse minha bebida ou comesse minha comida. Os
australianos de hoje, por não saber o que fazer com a geração roubada, se calam
diante deles. Cada povo, por mais diferente que seja sua cultura, massacra seus
“índios” como sinal de desenvolvimento, e depois é só pedir perdão. Como se
fosse possível retirar uma bofetada dada. O Japão exterminou de forma cruel e
sangrenta seus honrados Samurais, e nós, estamos dando o golpe final em nossos
índios com a construção de Belo Monte. Mas é só pedir perdão daqui a alguns
anos. Não é mesmo?! Eu só não sei a quem o brasileiro pedirá o tal do perdão.
Provavelmente aos mortos.