Um
dia eu acordei nesta terra, tão pequena ainda, não sabia o que seria a vida. No
meu mundo, visto do portão da minha casa, eu não conseguia imaginar que a luta
incessante pela vida mal estava por começar. Havia eu, como um anjo caído,
parado em meio a uma guerra sangrenta. Rodeada, por todos os lados, por mutilados
e mortos. Vi o descaso com a vida e a falta de respeito pelo ser humano. Mas,
afinal, o que se pode esperar de um povo sem educação? A guerra que eu vi,
pasmem vocês, era causada por condutores de veículos. Motoristas selvagens que
matam sem dó e sem piedade. Julguei, na minha inocência infantil, ter vindo
parar em um país sem lei, terra de ninguém. O tempo foi passando e a situação
do trânsito piorando. O Brasil produz o equivalente a uma cidade de mutilados
do trânsito quase que diariamente. Para piorar a situação, o governo brasileiro
acredita que vai resolver o problema criando novas leis. Criar leis é fácil, o
difícil é encontrar quem as cumpra. Lembro-me agora do que Aristóteles dizia:
”ótimo é aquele que de si mesmo conhece todas as coisas; bom, o que escuta os
conselhos dos homens judiciosos. Mas o que por si não pensa, nem acolhe a
sabedoria alheia, esse é, em verdade, um homem inteiramente inútil”. A questão
que não quer calar é ─ como fazer com que esses inúteis, que não aprendem por
si e não escutam aqueles que criam as leis, cumpram com a lei. Kant dizia que o
princípio da corrupção está quando alguém se julga exceção a regra. Quando o
condutor de um veículo passa no sinal vermelho, bebe e dirige e abusa da
velocidade, ele o faz por se julgar exceção a lei. Tal criatura não passa de um
corrupto que não aprende nada por si e nem ouve aos outros. Porque para quem
quer aprender os jornais divulgam quase que diariamente a triste estatística da
cruel mortalidade no trânsito ─ Uma verdadeira carnificina ─ A
irresponsabilidade e imaturidade, neste país, custam vidas e mais vidas
diariamente. Vidas que são ceifadas como se nada valessem. O lamentável da
história é que a situação está para piorar, pois aumenta, a cada ano, o número
de carros, de motos, de drogados, de irresponsáveis, e, sobretudo, de inúteis e
corruptos. Como pôr um fim a tudo isso? A resposta é simples: com educação.
Quem sabe, assim, no futuro, quando outras crianças acordarem nesta terra, elas
encontrem um lugar melhor para viver.